Uma solidão por dia não sabes o bem que te fazia

Ligar o rádio no volume que te apetece, sem o receio de estares a incomodar alguém. Ler uma revista, sem sentires a pressão de que devias estar a interagir com outra pessoa. Escolher um filme, sem o medo de essa escolha se tornar numa valente seca para quem te acompanha. Ou simplesmente apreciar o silêncio, após um dia repleto de gente. Não há mal nenhum em quereres estar sozinho.

Há uns anos, parti nessa aventura moderna que é o programa Erasmus+. Durante cinco meses, estive fora de Portugal, fora da rotina, fora das idas a casa ao fim de semana, longe dos concertos da vila. Nesse tempo, outra rotina formou-se, outras caras passaram a fazer parte do dia a dia e novas músicas entraram no ouvido. E a verdade é que estava bem. Muito bem, até.

Contudo, eventualmente acabaram por chegar as saudades de tudo aquilo que me pertencia. Senti falta das pessoas e de saber que estavam a pouca distância. Acima de tudo, senti falta dos planos apressados em mensagens sem roaming. E da promessa de abraços que não tardariam a chegar.

No entanto, quando finalmente cheguei a Portugal, senti algo para o qual não estava preparada: querer estar a sós. Ler as crónicas da “Visão”, ver uma comédia romântica no sofá de casa e dedicar-me a escrever o que me apetecesse, sem os prazos da Academia.

Primeiro, isto implicou não desfrutar a 100% das companhias pelas quais ansiava. Depois, transformou-se em fazer escolhas, dividir bem o tempo de férias e assumir que tinha tido saudades de mim mesma. Saudades dos pequenos hábitos que são só meus, como um escape aparentemente insignificante, mas que garante baterias carregadas para lidar com o que se segue.

Desde então, sei que ter momentos de autonomia na rotina é fulcral. Não há nada como a liberdade de não teres de dar justificações ou a independência de, de quando em vez, fazeres planos a sós.

Quando voltares a estar com as outras pessoas, seguramente que vai ser tudo mais interessante. Ou por causa de experiências isoladas, que acabam por enriquecer uma simples conversa. Ou porque o tempo a sós te faz apreciar o tempo partilhado.

E, claro, alegrias e tristezas não partilhadas de pouco valem.

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