Temos mantido um registo agitado. Não ouvimos os despertadores, porque às vezes até os esquecemos de os ligar. E acordamos, quando o primeiro grita: “Então, não era para irmos para a praia cedo?”
São férias. E lá vem o dito português – férias são férias.
Tropeçamos uns nos outros, porque os olhos ainda estão colados. Respiramos fundo e ignoramos as provocações matinais do único ser que tem força às primeiras horas para abrir a boca sem ser para espetar uma taça de cereais.
As toalhas estão ainda com a areia molhada do dia anterior, mas não é impedimento para mais um dia a estrelar ovos na torreira do sol. Aliás, enquanto assim tiverem, refrescam o corpo e as plantas dos pés que
queimaram, entretanto.
Temos duas buchas de camionista amolgadas no final da mala da comida quevai cheia de tudo menos água. Iogurtes para meio da manhã, ovos cozidos que sabemos de antemão que ao sol se estragam, mas há que recorrer a detox em conta.
Quando finalmente vamos todos com a música de verão ligada, não no máximo, porque continuamos anestesiados e com a sensação que ficar a dormir tinha sido uma opção mais viável, apercebemo-nos que o chapéu de sol ficou em casa.
Mais um dia a encarnar um camarão prestes a se transformar a alhinho não deve ser grave. Esperemos que os restos de protetor dos anos anteriores divididos em diversas embalagens sejam suficientes.
Toalhas estendidas. Damos o primeiro mergulho em que nos consciencializamos e perguntamos mil vezes o porquê de não vivermos numa ilha paradisíaca. E surge a primeira bucha.
Pausa! Não acho de todo que viver numa ilha paradisíaca é pera doce. Se têm uma vantagem estupidamente grande que é a de não sofrerem de doenças de pés com ossos partidos, devido ao congelamento súbito dos pequeninos dedos dos pés, então, terão outras grandes chatices, não se iludam.
Seguinte… sim, não fiquem confusos, que os meus dias de praia são rigorosamente iguais aos parágrafos que leram anteriormente: densos e secos, onde penso que vou morrer de tédio a qualquer instante.
Até que, numa questão de poucos segundos, começo a ouvir as ondas bem ao fundo, a areia deixa de me afligir, o calor seco transforma-se em suor estupido, que mais tarde me vai chatear, e aterro. Sem dar grandes justificações e explicações, é algo que acontece em média uma vez por cada vez que vou à praia, porém, espero que não te esteja a suceder a ti isto agora.
No entanto, como nunca ninguém disse que a vida era fácil, vem o meu primeiro grande adversário daquele que devia ser o momento de relax: o senhor das bolas de Berlim. Pobre coitado, não se diz pobre nem coitado, mas o homem tem um bronze que nem as miúdas que ignoraram que tinham exames e que foram para a praia fosse qual fosse a temperatura atmosférica, alguma vez atingiriam. Faz quilómetros e quilómetros pelo areal, capaz de apanhar algum fungo ou infeção e mesmo assim consegue cantar uma música o dia inteiro, ou melhor o verão inteiro.
Tiro-lhe o meu chapéu de praia que ficou em casa hoje, mas que se tivesse vindo tinha voado, de certeza, e lá eu teria de andar a correr atrás dele feita louca. Como se fosse uma grande pechincha, quando na verdade foi uma oferta de uma marca que só queria maior adesão.
Estou já cansada, novamente acordada e ainda tenho umas 5h de praia pela frente. Isto, porque o meu pai hoje não veio, senão tudo isto aqui descrito 30 minutos, que é o tempo que ele aqui aguenta.
Uma sanduíche nada saudável com os restos do dia anterior ou com 8 salsichas enfiadas lá dentro tem de durar até ao próximo mergulho.
Isto se, o azar da vida não fizesse com que “ela vem aí” se tornasse tão real como se fosse uma epopeia. Sim, porque tive o verão todo a dizer “ela vem aí” e nunca quiseram crer. Até que foi dia santo e estava eu a ler a introdução do livro que anda já cheio de areia, desde do início do verão, e senti os pés a
partirem.
Pensei que fosse mais uma das piadolas e me viessem molhar, mas enganei-me e desta vez não me escapava. Era dia santo. Toalha, mala caríssima que saiu na revista espanhola que nunca abri e tudo o que me pertencia tinha agora sal e estava bem fresco. Não havia razão para reclamar da temperatura do
iogurte.
Chateie-me e fui com a toalha toda encharcada embora para o carro. Carro esse que anteriormente estava limpo e os estofos a brilhar. Tarde demais.
Vamos voltar para casa e todos vão num registo que espero em que não estejas agora – a dormir. O condutor vai atento aos pés que escorregam de areia e cansado que dói.
E eu sei que não se identificaram com nada disto, porque, primeiro, estamos num país tropical e tanto chove como estão 35º à sombra do chapéu que ficou em casa e, segundo, organizados como são preparam tudo de véspera.
Nós fugimos a essas regras e ainda não demos como terminado a época balnear. Até porque nem vos quero iludir, mas este ano é verão até dezembro.