Dizem os escritos antigos que no início dos tempos os homens falavam todos a mesma língua e, na ganância de quererem ser iguais a Deus, decidiram construir uma torre que chegasse aos céus, mostrasse o seu poder e como não eram iguais a todos os outros. Deus, tendo conhecimento deste plano, desceu para ver essa cidade e essa torre e, desagradado com a sua atitude, decidiu colocar neles línguas díspares, confundindo-os e impossibilitando-os de se entenderem e completarem a sua demanda. Não o conseguindo, deixaram a torre ao abandono e cada um seguiu para os quatro cantos do muno.

A Torre de Babel pode ser apenas uma história relatada em meia dúzia de versículos de um texto religioso, mas a verdade é que nestas semanas, algumas notícias que andam a circular lembraram-me desse mesmo relato com uns quantos milhares de anos.

Um pouco por todo o mundo, e nomeadamente nos países com algum poder económico, tem-se visto a construção de edifícios elevadíssimos, verdadeiras obras de arte de engenharia e de arquitectura, superando-se uns aos outros em termos de altura, de luxo e riqueza. O último de que há notícia terá, a concretizar-se, um quilómetro de altura, ficará na Arábia Saudita e chamar-se-á Kingdom Tower.

Talvez os dias do Velho Testamento não sejam assim tão diferentes quanto os que hoje vivemos, onde os humanos continuam, apesar de tudo o que já foi vivido enquanto sociedades e enquanto humanidade, a precisar de se destacar, de viver na vibração do ego insuflado e de mostrar um determinado poderio que, a bem da verdade, só tem como propósito a vaidade e a ganância. Talvez, quem sabe, com o dinheiro investido em tal demanda, inúmeras investigações poderiam ser feitas e outros tantos problemas encontrado soluções, nomeadamente em termos de energias alternativas, dado que, todos nós sabemos, o petróleo não será a fonte energética vigente por muitos mais décadas. Talvez, quem sabe, os milhares de pessoas que, no Médio Oriente, onde uma parte destes enormes prédios têm aparecido, para não dizer em todo o mundo, mesmo, passam fome, não têm tecto, são escravizados e sofrem todos os dias pudessem ter um pouco mais de condições e, também eles, serem agentes activos do crescimento económico, social e humano nesses mesmos países.

No entanto, preferem-se elevar egos em vez de elevar corações, preferem-se fomentar riquezas materiais e impérios de ouro em vez de fomentar o amor, a partilha, a dádiva. Poderão alguns dizer que o amor não gera riqueza, mas, a meu ver, estarão profundamente enganados. A diferença é que a riqueza que o amor gera não é financeira nem económica, embora tenha sobre essas áreas também influência, mas é uma riqueza superior a tudo o que é material e terreno, é uma riqueza que não tem nome, mas sente-se, que não tem cor ou brilho, mas vê-se no sorriso de uma criança, na gratidão de uma família, nas lágrimas de alegria de quem, por norma, se sente sozinho e abandonado.

Falo aqui de grandes empreendimentos e de grandes torres, mas não precisamos de ir tão longe nem tão alto, pois, por todo o mundo, ainda continuamos a construir demasiadas torres de Babel, esquecendo que já estamos a não conseguir entender-nos. Temos já várias línguas e até as falamos, ou temos capacidade de as traduzir rapidamente, mas esquecemo-nos que houve uma linguagem única que Deus não confundiu, que não se fala como as outras, nem se lê através de caracteres. A linguagem do amor apenas pode ser sentida e vivida, falada com o coração e traduzida pelos nossos actos e é ela que precisamos, cada dia mais, de recuperar, pois tem andado esquecida, desprezada e apagada pelos egos sedentos de riqueza material, de poder, inveja e ganância. Quando formos capazes de a voltar a expressão totalmente, não haverá mais Torres de Babel, mas sim grandes planícies e planaltos de igualdade, de respeito e de partilha.

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Leonardo Mansinhos
Nasci em Lisboa em 1980 sob o signo de Virgem e com Ascendente Capricórnio. Quando era pequeno descobri uma paixão por música, livros e por escrever. Licenciei-me em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE e trabalhei durante quase uma década nas áreas de comércio, gestão e, principalmente, Marketing, mas desde muito cedo interessei-me pelo desenvolvimento espiritual. Comecei como autodidacta há mais de uma década em diversos temas esotéricos, nomeadamente em Astrologia, e, mais tarde, descobri no Tarot uma verdadeira paixão. Hoje dedico-me a esta paixão através das consultas de Tarot e Astrologia, assim como de formação, palestras e artigos nas mesmas áreas. Em 2009 co-fundei a Sopro d'Alma, um espaço de terapias holísticas e complementares, dedicado ao ser humano e onde dou as minhas consultas, cursos e palestras. Procuro, acima de tudo, ser um Ser todos os dias melhor, pondo-me ao serviço da sociedade através de tudo o que sou.

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