Fui, durante muitos anos, uma péssima pasteleira! PÉSSIMA! A minha mãe cozinha divinamente e bem me tentou ensinar, mas eu queria era música e livros.
Em adolescente, era uma dondoca que só estudava e não queria saber de cozinha, tachos e cheiro a cebola e alho nas mãos. Além disso, não comia quase nada. Para quê preocupar-me em saber cozinhar? Batatas, ovos estrelados e bifes estava óptimo para mim e tudo isto me parecia extremamente fácil de confeccionar. No entanto, um dia, a comidinha da mãe e a vontade de satisfazer todos os caprichos à filhota acabou e vi-me com 22 anos na minha casa. Tinha de cozinhar…
A primeira vez que fiz sopa deitei-a toda fora. Parecia massa para estucar paredes, mas com cor. Refeição digna de uma Bridget Jones. Com direito a receita repetida pelo telefone e escrita para não errar. Ai, ai…
Volvidos todos estes anos, orgulho-me de dizer que já faço umas… coisitas. O que começou por obrigação e como a necessidade aguça o engenho, transformou-se numa paixão que cresce todos os dias, apesar de ter penado muito para aprender. Hoje, posso também dizer que o meu ex-marido, homem muito corajoso no início da nossa vida em comum, foi a minha primeira cobaia, durante muitos dos anos de aprendizagem, e, mesmo estando (e eu sei que estava) a comida horrível nos primeiros tempos, tinha sempre um sorriso nos lábios e uma palavra de encorajamento. Aqui fica o agradecimento formal. No entanto, se existe uma área na qual ainda sinto alguns obstáculos, é nas sobremesas. E nessa época, a minha cozinha ficava a parecer um filme de terror e NUNCA me corriam bem. Não era a melhor pessoa para seguir receitas à risca.
Hoje, por estar desagradável, chuvoso e com um cheirinho a Outono, apeteceu-me arroz doce. Felizmente tenho a “cozinha mais pequena do mundo” para me ajudar nos doces, mas, ao preparar os ingredientes para o começar a fazer, sorri, porque lembrei-me de mais uma história, que me ajudou de alguma forma a ultrapassar as minhas próprias limitações.
Por altura da inauguração da casa do meu irmão e da minha cunhada, organizou-se um jantar de família. Aqui a voluntariosa, vá-se lá saber porquê, ofereceu-se para confeccionar o quê? A sobremesa. De vez em quando acontece: apanho sol a mais na moleirinha e dá-me para estes disparates. Enfim, depois de me dar conta da ideia parva que tive, ainda podia ter recuado e passado na Pastelaria mais próxima, mas nessa altura da minha vida, era impossível recuar fosse no que fosse.
Foi por altura dos Santos Populares e foi, por essa razão, a altura ideal para fazer arroz doce. Daquela vez, só por aquela vez, porque confesso que, depois da vergonha pela qual passei, não voltei a confeccionar doces sem ter em conta a proporção dos ingredientes, convenci-me que a minha força de vontade ia prevalecer em detrimento de umas gramas a mais disto, ou daquilo (quem disse que os confeccionar era uma ciência exacta, não percebia nada do assunto).
Lá fiz a sobremesa. Ficou lindo o meu arroz doce. Pedi a receita à minha mãe, segui escrupulosamente os passos que me deu e o resultado à vista foi brilhante. Cometi apenas um erro, o único que não podia ter cometido: não provei. Decorei-o com desenhos a canela e lá o levei para casa do meu irmão, toda orgulhosa com o resultado.
Jantámos no terraço, uma sardinhada regada a sangria, nesse final de tarde de Verão. A meio do jantar, alguém reparou que faltava um bocadinho pequenino de cimento no muro da varanda, tendo o meu irmão dito que iria ligar ao construtor para tratar do assunto. No final da refeição, lá veio o arroz doce lindíssimo para a mesa. Assim como veio, rapidamente voltou para a cozinha, directamente para o caixote do lixo, que é como quem diz, sem passar pela casa da partida e sem receber os 10 euros. Estava tão duro, mas tão duro, que ninguém iria conseguir comer aquilo.
– Mas eu cozi-o… – repetia eu, com um ar muito aflito e constrangido, perante a risota geral de todos os convivas.
Durante o meu momento calimérico do dia, a tentar justificar algo que estava à vista de todos, o meu irmão teve um rasgo de génio. Pegou num pedaço daquele arroz, do qual eu estava tão orgulhosa uma hora antes e tapou com ar de gozo, o buraco no muro da varanda. Não me orgulho nada de vos confessar, mas o que é facto é que se aguentou lá um ano. A minha sobremesa ganhou um novo estatuto: material para construção civil. Ainda hoje sou alvo de chacota, e nunca mais me ofereci para levar sobremesas nos jantares de família.
A primeira sobremesa que fiz na minha Bimby, quando ela chegou cá a casa, foi uma bela taça deste doce de colher. Esta é uma receita adaptada do seu livro base, cozinhado de forma tradicional, testada e (a)provada.
Vamos às compras?
Arroz Doce
Ingredientes
- 600 ml de leite
- 450 ml de água
- 200 grs. de arroz carolino
- Casca de 1 limão, 1 pau de canela
- 1 pitada de sal
- 160 grs. de açúcar
- 2 gemas de ovo
- 1 Pacote de pudim flan El Mandarim (mais conhecido por pudim do “chinês”)
- Canela q.b.
E agora, preparar
O que parecia tão difícil é afinal tão fácil.
Cozer o arroz em água, com a pitada de sal, a casca e limão e o pau de canela – Check.
A água já evaporou e vamos juntar o leite, deixando o arroz a acabar de cozer em lume brando. Retiro um pouco desse leite ainda quente, junto as gemas, o pudim flan e o açúcar, envolvendo bem e misturando de seguida no arroz, para que a mistura coza. Importante: lume brando e não deixar ferver.
Retirar, empratar e, depois de frio, decorar com: canela em pó, raspas de lima, laranja, ou limão, chocolate em lascas, amêndoa, ou pinhões torrados, ou açúcar demerara, que podem queimar com um pequeno maçarico, como se de Leite-creme se tratasse… o que vos aprouver.
Como vêem, não podia ser mais simples…