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Ser trabalhador é ser livre?

É a trabalhar que mais tempo passamos na linha da vida. Está nas nossas mãos escolher entre passar o tempo ou desfrutar do tempo. Será? De uma maneira ou de outra, o tempo é sempre irreversível.

Há um ditado judaico que diz que o trabalho mais duro do mundo é não fazer nada. Uma máxima que, pela sua abrangência, se encaixa nas malhas do mundo laboral onde não fazer nada pode significar simplesmente “não ser”. Por isso, no tiquetaque deste relógio que não pára, há que entender o trabalho como forma de felicidade, para que a vida seja tudo menos uma obrigação e um esforço inútil. Uma felicidade associada ao prazer da liberdade. Liberdade de fazer. Liberdade de ser. Liberdade de criar. Liberdade de saber. Liberdade de errar. Liberdade de conviver. Liberdade de ajudar. Liberdade de fazer parte de um projecto. Liberdade do sucesso. Liberdade de compreender o insucesso. Liberdade de aprender e de crescer. Liberdade de ter. Estar-se-á no campo do idealismo e da utopia?

Talvez um dos grandes desafios do ser trabalhador esteja na capacidade de encarar o labor não só como parte integrante deste todo (da vida), e portanto indissociável de nada, como também como um protótipo da própria vida, num diálogo entre o ser e o ter.

Para além de o trabalho poder, e dever, ser um instrumento de realização, pessoal e profissional, dele também resulta a nossa capacidade para satisfazer as nossas necessidades, e até mesmo para termos um melhor nível de vida, permitindo a alguns viver de uma forma aparentemente mais confortável. No entanto, muitas das nossas necessidades emergem de uma criação da sociedade sobre o que é ser bem-sucedido, tornando-nos escravos dessa invenção e provocando um abismo entre o ser e o parecer. Saberá mesmo bem parecer bem? Não estaremos a pôr em causa a nossa liberdade? Seremos verdadeiramente livres? O que é ser livre?

Mais ainda, será que a vaidade humana faz com que o ser trabalhador seja facilmente manipulado pela necessidade de excessos, de “ter coisas”, de adquirir um estatuto privilegiado, o chamado status, a um preço sem valores, numa visão deturpada daquilo que é a liberdade? Ou será que ser trabalhador resulta da expressão do que somos no labor dos desafios que nos são colocados, sob as demandas da motivação, da criatividade, da igualdade de oportunidades, do prazer e da liberdade.

Como seres sociais que somos, e para que consigamos (con)viver em harmonia, por vezes, torna-se necessário fazer cedências e até termos a aprovação dos outros. Mas há uma coisa da qual nunca devemos abrir mão, que é a de pormos o quanto somos no mínimo que fazemos, pegando no adágio de Fernando Pessoa. Uma cedência aqui e outra acolá, mas sempre com uma dose da liberdade necessária para que não nos sintamos prisioneiros do enredo social do qual fazemos parte, dando às nossas acções uma porção de vontade própria, de criatividade pessoal e de humildade, e, sempre, felicidade. É sempre possível pôr um pouco de nós, da nossa essência, em tudo o que fazemos. Se soubermos estabelecer um equilíbrio entre os nossos quereres e saberes e os dos outros, talvez sejamos livres, não totalmente, porque o absoluto não existe, mas na generalidade sim.

É o que auferimos do trabalho que nos permite obter objectos de desejo. É aceitável que queiramos um carro melhor, uma casa maior, férias confortáveis e roupas de marca, desde que esses desejos resultem não só da entrega honesta e competente como seres trabalhadores, como também não entrem no mundo do consumo exagerado e que não nos empurrem para uma esfera manipuladora do “ser social” em concorrência com os nossos pares, frequentadores dos palcos de uma (pseudo) elite.

Independentemente do cargo, ser trabalhador é ser. É assumir. É o que fazemos no trabalho, a forma como trabalhamos e a nossa atitude no trabalho que define quem somos no todo. Não pode existir um perfil de trabalhador. Um perfil de amigo. Um perfil de cônjuge. Um perfil de colega. Existe apenas o que somos. Um ser, neste caso trabalhador porque exerce uma profissão, mas sempre o mesmo. Por isso, a cada um cabe saber dosear a importância dos tais objectos de desejo, tendo sempre presente que é o que somos que nos enaltece, e não o que temos. Se a importância de cada um for medida em função do que tem, é porque não tem valor, mas sim preço. E são os valores que dão valor e dimensão à humanidade.

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