Saudade é uma palavra que faz parte do nosso vocabulário do dia a dia: temos saudades, enviamos saudades, sentimo-nos a morrer de saudades e matamos saudades.
Acho que já nascemos com a palavra saudade impressa no nosso ADN. Temos saudades do que foi, do que poderia ter sido e do que poderá vir a ser…
É uma palavra tão complexa como o sentimento que gera. Por isso existe o mito multissecular que é uma palavra portuguesa, intraduzível noutros idiomas. A forma mais fidedigna de a traduzir é através de sentimentos, sendo o melhor tradutor o fado. A saudade tem a dualidade do fado, do destino, daquele misto de coragem e aceitação; a coragem de viver aventuras e desventuras que marcam a alma e a vida da gente.
A saudade é feita das mesmas coisas que nós (emoções, lágrimas e sorrisos). É universal (temos saudades de casa – seja um local ou alguém em quem se encontrou morada). É um sentimento que vem impresso no nosso ADN, que carregamos no peito e só alivia quando regressamos a casa, quando encontramos casa.
Quando mencionam “saudades de casa” recordo-me sempre de uma das histórias que a minha avó contava: numa das suas visitas a Lisboa o meu pai pequenito colocava a mãozinha no peito e suspirava pelas suas vaquinhas, que pastavam lá longe, na ilha de Santa Maria. E concluía que era assim que o filhote expressava as saudades que tinha de correr à perna solta pelo campo em Vila do Porto, em vez de estar fechado num apartamento em Belém.