Eu estava encolhida, fechada num corpo que era prático, mas não era bem usado. Tu ligaste o meu interruptor, carregaste as minhas baterias e depois, oh!, depois, foi algo que nem se consegue escrever. Tanta e tanta luz, tanta claridade, um sol imenso que nunca descansava. O nosso amor era às claras, de dia, de força, de vida, de lucidez. Tanto calor que libertávamos e que plantámos em todos os que nos acompanharam. Tínhamos tudo o que se pode ambicionar.
O meu corpo ansiava pelo teu. Tu lias-me, sabias aquilo que eu precisava e aquilo que eu era. Eu não o sabia. Aprendemos juntos. Acabei por ceder, por derreter o gelo que me tapava e tudo se tornou líquido e tépido. Aquecias a minha alma, o meu coração, o meu corpo. Incendiavas-me. E o meu fogo precisava de ti, meu bombeiro, para o acalmar, para o acompanhar e não se deixar perder. Entendes o que quero dizer?
Lembras-te de como conseguiste que eu me mostrasse tal como era? Olhavas para mim com olhos de igualdade e tocavas-me, ai, duma maneira tão intensa que eu quase desfalecia. Desenhavas oitos, com a tua língua, na minha barriga, no meu umbigo e eu tremia de prazer e satisfação. Não sabia que se podia sentir tudo isto. E beijavas-me no pescoço, enquanto me dizias pequenas palavras, mas só nossas, com códigos que inventámos.
E as nossas manhãs eram gloriosas onde o tempo não acabava. A luz, tímida, acompanhava os nossos movimentos, o nosso bater do coração e a ânsia de nos completarmos. Tocava-nos nos ombros como se os quisesse cobrir para que a privacidade fosse completa. Sabia tão bem sentir a tua pele junto à minha, o salgado do teu sabor, os teus dedos sábios que me levavam à loucura.
Tu! Tu eras o motor que eu precisava, a força e o fogo que ardia em mim e em ti e que incendiava tudo em nosso redor. Nada mais interessava, nada mais era de valor, somente nós dois. A nossa fogueira foi tão duradoura que os dias deixaram de fazer sentido. Criámos um calendário nosso e perfeito. O teu amor curou-me da ignorância do não ser.
A tua mão ligava o meu corpo e depois, os dois juntos, voávamos até paragens nossas onde as asas das aves maiores ainda não tinham conseguido chegar. O infinito mudou e os seus limites desapareceram. Era a liberdade que se vivia, o pleno que se queria, a fusão das almas que se encontravam. Tu tocavas o meu íntimo e eu desmaiava de prazer.
Nunca poderei estar longe de ti! Quero-te com todas as minhas forças! Quero-te como se fosses o ar que se respira! Quero-te como se fosses a metade que me completa! Quero-te! Quero-te! Quero-te! Quero-te para sempre e ainda mais! Quero-te só para mim!
Dá-me a tua mão. Quero senti-la junto a mim, saber que tu existe e que és real. Beijo-a como se fosse o meu mais precioso sustento, a minha força e o meu motivo de viver. Beijo-te como se não houvesse amanhã e o tempo fosse todo nosso. Sei que o teu coração bate forte junto ao meu e que se transmutam num só.
Fica junto a mim, para sempre. Não vás mais por esses tortuosos e estranhos caminhos onde desconheço o percurso. Quero-te agora e já. Sei que o teu véu pairará por cima de nós e tenho a certeza que finalmente encontraremos aquilo a que se chama perfeição. Quero que estejas em mim!