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Palavras à solta pela cidade

Gosto de circular pela cidade. Subtilmente torno-me parte dela e entro na sua corrente sanguínea, tomando-lhe o pulso por entre veias e artérias. Umas vezes a pé, orientando caminhos ao sabor da vontade, outras de carro, aproveitando cada semáforo, ou cada paragem forçada pelo trânsito, para olhar os edifícios e as paredes. E percebo, finalmente, que a minha capacidade de observação pode ser uma mais-valia, longe do sentido pernicioso ou temeroso em que alguns teimam em classificá-la.

Deslocando-me pelas ruas, encontro aqui e além frases escritas nas paredes. E na surpresa do inesperado, detenho-me. Olho as palavras, ou as frases,  com cuidado, como a auscultar-lhes a alma. Atento no traçado das letras, no efeito da cor, na rugosidade da parede que lhes serve de suporte. Procuro beber-lhes a mensagem, algumas vezes de fácil leitura, outras vezes nem tanto. Rapidamente me questiono quem o terá feito, que motivações teria. Imagino um rosto, um corpo. Um olhar para os lados a ver se há testemunhas desse acto de partilha. Presumo que nos dias seguintes passará por lá, orgulhoso da sua obra, questionando-se sobre o efeito que eventualmente terá tido sobre os olhares mais atentos que a contemplam.

Por Carlos Parreira, em Portimão

Sou uma mulher de palavras. Reconheço arte nas pinturas urbanas e nas obras construídas com elementos vários, como as esculturas do Artur Bordalo, mas as palavras seduzem-me muito mais. Sinto em cada uma, ou no conjunto delas, um sufoco libertado. É um desabafo atirado ao mundo. Uma exibição das suas ideias. É uma dádiva, uma consideração pelo transeunte. É uma necessidade que não se conteve, e se oferece, desinteressadamente, a quem passa.

Por Carlos Parreira, no Bairro Alto (Lisboa)

Não concebo a arte sem partilha, nem entendo que quem escreve não pretenda ser lido, ou que um escultor ou pintor não queira ser apreciado, avaliado, comentado. Mas este tipo de arte é o extremo, sendo a corporização da democratização, sem exigência de absolutamente qualquer retorno. Ou talvez este advenha, para além do prazer da revelação, do impacto causado naqueles que passam.  Sem acessos, sem bilhetes, na exposição total de si.

O conteúdo é muito diverso, abarcando o humor, a reflexão, música ou sentimentos, basicamente o amor.

Por Carlos Parreira, na Graça (Lisboa)

Há algo de romântico numa mensagem que se solta numa parede, confiando-se que deus, o universo ou o acaso tragam a si o destinatário da missiva. É como na velhinha ideia duma garrafa que um náufrago deita ao mar, e que se espera que caia nas mãos certas. Talvez esse alguém precise de uma frase que o sintonize, que lhe dê respostas a perguntas que talvez não saiba que tem. Ou poderá essa frase fazer a diferença na vida de alguém num momento eureca, em que os olhos batem naquela organização de letras e a integram em si.

Há uns anos largos, na zona do Corpo Santo, em Lisboa, alguém (Alexandre?) escreveu nas paredes que procurava a moça (Sofia?) que conheceu no elétrico. Na altura essa imagem correu nas redes sociais, não sem algum gozo pela declaração pública, quase adolescente,  de amor. Acredito que tenha conseguido encontrá-la e que eventualmente tenha sido um encontro feliz. Mas a mensagem aqueceu muitos outros corações, que ainda há quem vibre com as alegrias alheias e veja nessa realidade a possibilidade de muitos outros encontros felizes.

As mensagens estão ali para quem as queira ver.

Para bom entendedor…

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