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Os Maias que eu conheci

Há tanto para falar sobre essa fascinante civilização e tão pouco espaço, mas vamos lá. Vou começar com uma breve, e bastante superficial, linha do tempo e depois vou contar sobre a minha experiência com a população Maia que ainda habita a Guatemala.

Durante os anos de 40000 a 20000 AC, um grande grupo de pessoas migrou do que hoje conhecemos como Alaska e Sibéria para a América do Norte, em busca de climas mais amenos e melhores condições de sobrevivência. Por volta de 10000 AC, uma parte dessa população se distribuiu no sul da América do Norte e Norte da América Central, nas regiões hoje chamadas de México, Guatemala, Belize, Honduras e El Salvador. Esse grupo ficou mais tarde conhecido como a civilização Maia.

Sítios arqueológicos onde foram encontrados vestígios da civilização Maia

Por volta do ano 6000 AC, os Maias fizeram grandes evoluções no campo da agricultura, o que causou um crescimento exponencial da população, que consequentemente começou a se espalhar e se organizar mais.

Em 1700 AC, os Maias desenvolveram uma forma mais evoluída de produção de cerâmica e artesanato, o que deu início a uma espécies de comércio entre os diferentes grupos. Com isso formou-se uma elite, que crescia em poder enquanto explorava a classe trabalhadora, nesse caso aqueles que faziam o artesanato. Qualquer semelhança com nossa estrutura social atual, não é mera coincidência.

Entre 1500 AC e 250 DC, as vilas tribais – forma de organização mais anárquica – evoluíram para vilas hierárquicas. Digo evoluíram de forma histórica, porque é difícil comprovar se isso foi realmente uma evolução, mas isso é outro assunto.

Durante esse período, com o crescimento das vilas e a ascensão de diferentes líderes, os Maias começaram a atacar e conquistar outros grupos e regiões e por volta de 400 AC eles começaram a construir as famosas pirâmides e construções Maias, que fixavam os grupos em determinados espaços e facilitavam a defesa do território e o ataque a outros territórios.

Desse período até o século 11 DC, os Maias criaram grandes povoados, guerrearam, desenvolveram novas técnicas de comércio, artesanato e até migraram para uma organização social um pouco mais democrática. Porém, devido a todas essas guerras, a influência e o tamanho da civilização Maia foram diminuindo e, por volta de 1100 DC, os Astecas, que viviam mais ao norte, tornaram-se uma civilização mais proeminente.

Então chegaram os espanhóis. Entre 1527 e 1530, os Maias da província de Yucatan lutaram contra o invasor e o derrotaram em 1535. Mas os espanhóis voltaram com reforços e em 1546 conquistaram todos os territórios Maias, dizimando 90% de sua população – pela guerra, por doenças trazidas da Europa ou pelos trabalhos escravos a que foram submetidos.

Atualmente a população Maia é de mais ou menos 6 milhões de pessoas, em sua grande maioria concentrada na Guatemala. No entanto, como era inevitável, para sua sobrevivência os Maias tiveram que se adaptar ao modo de vida de seus conquistadores, e o que temos hoje é uma mistura de culturas e costumes e uma tentativa de manter viva uma civilização que praticamente acabou.

Eu morei e trabalhei na Guatemala entre 2011 e 2012, na cidade de Panajachel. Um pequeno vilarejo, cercado de vulcões e de  comunidades Maias, organizadas em torno do Lago Atitlán.

Para quem se lembra, 12/12/2012 era a data em que dizia-se que os Mais previam o fim do mundo. Isso nunca foi verdade, foi uma informação falsa espalhada pela má interpretação do calendário e da cultura Maia. Os Maias tem 3 calendários, um deles realmente acaba nessa data. Mas os Maias acreditam que não existe vida nem morte, que tudo é cíclico e que em 2012 haveriam grandes mudanças, mas nunca o fim do mundo, o calendário se reiniciaria no ano seguinte. Coincidentemente (ou não)  para mim, 2013 foi um ano de grandes mudanças.

Uma das coisas mais interessantes na população Maia atual é a religião. Os espanhóis quiseram impor o cristianismo, os Maias tiveram que aceitar, porém, fizeram uma adaptação muito interessante. Já que eles originalmente eram politeístas (acreditavam em muitos deuses), eles mantém vivos alguns de seus deuses, costumes e rituais.

Uma das manifestações mais interessantes dessa mistura é o San Simon. No final de outubro eles comemoram o dia de San Simon, que foi um espanhol que, não contente com a forma como os Mais estavam sendo tratados, começou a trabalhar em seu favor. Ele nunca foi canonizado pela igreja católica, acredito que essa história nem seja reconhecida oficialmente. Mas a lenda é de que todo ano, uma pessoa sonha com a imagem de San Simon, essa pessoa então fica responsável por dar uma festa para a comunidade e fica responsável pela imagem durante o ano seguinte.

Abaixo algumas fotos da cerimônia de San Simon que eu participei.

Infelizmente, como acontece com todos os povos originários que tiveram seus territórios invadidos e viram suas populações praticamente acabarem-se, os Maias da região do Lago Atitlán vivem de forma muito precária.

Logo que eu cheguei eu me perguntei se eles viviam assim porque era o costume e parte da cultura ou se eles não tinham outra opção, e prontamente descobri que é a segunda opção.

Especificamente essa população também sofreu com uma guerra civil na Guatemala que durou 60 anos e matou milhares de indígenas, principalmente homens.

Então, o que vemos hoje é uma população Maia com muito mais mulheres do que homens. Famílias de 12 ou 15 pessoas vivendo em casas de barro de 1 ou 2 cômodos. Homens tendo diversas famílias, sem nenhuma condição de sustentá-las (e claro, sem o consentimento da esposa) e uma dificuldade muito grande conseguir dinheiro para sobreviver, já que muitos não falam o espanhol (somente as línguas indígenas), não conseguem mudar-se para grandes centros, as crianças não conseguem estudar e o ciclo se repete. O mesmo ciclo da pobreza que vemos em todos os lugares, com o agravante de que, mesmo que queiram, os Maias não conseguem se inserir na cultura Guatemalteca moderna.

O governo, parte de uma democracia muito recente, não dá a devida atenção aos indígenas, que acabam sobrevivendo de pequenos trabalhos informais e da ajuda de muitas ONGs internacionais que se organizam na região.

Tenho muito mais a dizer e muitas outras histórias para contar, mas por hoje paro por aqui e deixo algumas fotos do que eu vivi na região do Lago Atitlán.

 

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