Ainda agora começou 2020 e já tenho um livro, que li este ano para comentar. Na verdade, já andava de olho nele há algum tempo, chama-se: O Ano do Pensamento Mágico.
A vida muda num instante. Num dia normal.
– é a frase que se repete ao longo do livro.
É disso que nos fala o livro, contado pela autora Joan Didion, num tom jornalístico que aligeira muito o seu conteúdo. De forma pragmática Didion faz um relato pessoal sobre um período dramático da sua vida, uma vida que mudou num instante de um dia normal. Como acontece com todos nós. Um dia a vida era de uma forma e de um momento para o outro deixa de ser.
O livro foi a maneira que a autora encontrou para estruturar de forma racional e cronológica os acontecimentos dramáticos que viveu no final de 2003 e todo o ano de 2004. Em dezembro de 2003, após uma ida ao hospital para visitar a filha internada em coma, o marido morre durante o jantar. Estavam os dois a descansar e a conversar sobre a filha e a preocupação com a sua situação clinica quando um ataque de coração o faz cair para o chão e o deixa mergulhado numa poça de sangue. Tudo o que se segue retorna sempre a esse momento – estão a jantar, está tudo bem – e de um momento para o outro deixam de estar.
Sem entrar em detalhes sobre tudo o que aconteceu, para que o leitor se aventure a explorar o livro, deixo registado o que foi importante para mim na leitura deste livro, a forma como lidamos com o luto, trauma e situações que nos alteram por completo a vida.
Por ser jornalista, a Joan Didion faz-se valer da experiência profissional e do conhecimento adquirido em artigos que escreveu, livros, estudos, pessoas com quem lidou para procurar esclarecimento sobre a sua situação de perda. Ao tentar explicar o seu próprio comportamento e sofrimento vai encontrando as respostas que precisa e a ajuda que todos precisamos para compreender o incompreensível. Esta foi a forma que encontrou para lidar com o luto, a ausência do companheiro de vida, amigo, colega para superar a sua falta.
Para ela foi como reaprender a viver, o ter de criar novas memórias numa situação desconhecida. A maior parte da sua vida adulta foi passada ao lado do John, todos os sítios, todos os trabalhos, tudo incluía e envolvia a presença dele. Um dia ele estava e depois deixou de estar.
É um relato comovente sem ser lamechas e ao mesmo tempo muito profundo. No caso da Joan, não ficou a lamentar o que não foi feito o choque foi precisamente a constatação que a vida iria continuar sem o John, o que para ela era extremamente injusto, e que ela teria de fazer as coisas de outra forma por já não puder continuar a contar com os seus conselhos que tanto valorizava.
Esta é uma história de amor e amizade que nos deixa como lição para a vida, que precisamos aproveitar todos os momentos com as pessoas que amamos e que nos compreendem. Não dar por garantidos esses mesmos momentos, porque “a vida muda num instante, num dia normal”.