Fotografar ou viver

Sempre que viajo ou aprecio deliciada um determinado local ou paisagem, e vivo aqueles momentos que gostamos de guardar na memória para sempre, a verdade é que muitas vezes estamos mais preocupados em registar selfies no ângulo certo para depois poder partilhar online. Para que o mundo veja connosco o que os nossos olhos acompanham e descobrem, mas o que é um facto é que há imagens e registos apreciados pelos nossos olhos e que nenhuma câmara, por muito potente que seja, consegue guardar em toda a sua beleza e esplendor. 

Há belezas e locais que são mais bonitos a “olho nu” como se diz na gíria, aqueles registos que são apenas para nós ou para os que acompanham connosco naquele momento, a nossa lente ocular capta melhor do que a lente de qualquer máquina. 

Certo é que a pergunta que se impõe é: em que medida deixamos de viver os momentos e os locais que visitamos, porque estamos mais preocupados em registar tudo em fotografia?  

Apreciamos de facto os locais que visitamos, e procuramos guardar memória fotográfica na nossa mente, sem nos deixarmos levar pelo encanto do mundo digital e da beleza de dizer ao mundo o que estamos a viver e a visitar? 

Pergunto: por que razão o fazemos? De onde vem esta necessidade de registar para o mundo, porque não guardar para nós e para quem partilhou connosco o momento, o espaço ou mesmo a paisagem? 

Onde fica a privacidade e a intimidade dos nossos momentos e vivências, será que o fazermos apenas para partilhar com os outros, ou será mais para mostrar e exibir o que fazemos, tantas coisas giras que fazemos e locais bonitos que visitamos, será partilha ou será apenas o gosto da ostentação da vida boa? Pergunto. 

Sempre que estamos num evento ou viajamos precisamos verdadeiramente de estar sempre a registar tudo em fotografias e a partilhar nas redes sociais? Precisamos assim tanto de alimentar o nosso ego, ou será um modo de afirmação nestes tempos digitais que vivemos? 

Como é que nos tornámos assim? Tão pouco reservados, com esta necessidade incessante de mostrar algo, porque é assim que se faz, se não o fizermos, por vezes podemos mesmo sentir-nos a ficar para trás, em termos de sociedade digital. Vá lá saber-se o porquê, se calhar porque estamos só a viver a nossa vida, sem a necessidade de mostrar tudo o que fazemos ou visitamos, sobretudo, as férias e tempo de descanso, que deve ser um tempo nosso, de encontro e de partilha com os que nos são próximos. 

De que forma podemos aprender a ser diferentes sem nos sentirmos excluídos em relação aos que fazem este tipo de partilha? Eu diria que quando estamos bem connosco próprios não temos que nos sentir mal se não o fizermos, porque efetivamente não temos que o fazer, um pôr do sol, por exemplo, a beleza que a nossa vista alcança nunca será realmente captada pela melhor câmara fotográfica do mundo, porque a essa imagem, vai faltar o contexto, os cheiros, a envolvência do ambiente, praia, campo ou outro qualquer. 

Vamos aprender a guardar mais estes registos para nós, porque nos faz bem à alma e nos regenera enquanto seres humanos, há momentos que são nossos e não têm que ser partilhados, guardemo-los para nós e para a construção das nossas memórias. 

Por vezes preocupamo-nos tanto em registar a selfie que não apreciamos verdadeiramente o local onde estamos, valorizem a vida, aquela que acontece e que não precisa de ser registada para o mundo. 

“As estrelas nunca se alinharão, e os semáforos da vida nunca estarão todos verdes ao mesmo tempo. O universo não conspira contra si, mas também não se esforça por lhe facilitar as coisas.”

Tim Ferriss

Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico

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