Quem de nós passa um único dia sem se ver ao espelho? É através dele que conseguimos garantir que estamos com uma aparência intacta. Aparência essa que nos empodera e nos dá uma (irreal) confiança. Confiança essa que nos faz ser aceites e desejados por quem nos rodeia. Caramba! Como somos geniais a “vendermos”, dia após dia, a nossa tão falsa e fantasiosa imagem!
A nossa sociedade quer gente bonita, que se saiba comportar, discreta, bem sucedida, endinheirada, bem disposta e que, de preferência, não chateie muito com opiniões, formas de estar e de ser contraditórias às suas. Ah! E que siga os seus padrões (impostos, na maioria das vezes): Trabalhar —-» casar —» ter filhos —-» e permanecer (mesmo que infelizes). O que vale não é ser! É parecer!
Noutros tempos, eu diria (inocentemente) que gente assim nem existia. Hoje, sei que existem. Na verdade, até acho, cá para mim, que “são mais que as mães”. Contudo, serão estas pessoas “gente de verdade”?! Não! São meras aparências! São tristes marionetas onde as suas necessidades passaram a ser o que os outros necessitam e esperam de si.
Vivem, dia após dia, guiadas pela fachada que é a sua vida supostamente perfeita, pelo menos aos olhos da sociedade. Se são infelizes? Certamente! E muito! E atenção que, quando falo da dita sociedade refiro-me, grande parte das vezes, tão simplesmente, à família, amigos, colegas… que, por vezes, são quem mais nos condiciona, quem mais nos impele e obriga a fingir, quem mais nos castra, reprime e julga.
Todos, não sendo eu exceção, gostamos que gostem de nós, gostamos que falem sempre bem de nós, que nos incluam e nos aceitem. Claro! Quem não gosta? Mas e então?! Vale tudo até perdermos a nossa identidade?! Lógico que não! As pessoas que todos os dias se transfiguram no que não são, não entendem que é na autenticidade e na verdade que conseguirão o seu “lugar ao sol” e não na “carneirice”.
Qual é a explicação para as pessoas viverem de aparências? Também não sei. Nem consigo ver nenhum fundamento para se mentirem a si próprias, compulsivamente, ao tentarem ser quem não são. Apesar de não perceber o que leva alguém a forjar, a fingir a sua própria vida em prol, tantas e tantas vezes, da sua felicidade só para serem aceites e manterem a sua impecável imagem, uma coisa eu sei: Nós NÃO temos de ser aceites por todos, o mundo inteiro NÃO tem que gostar de nós, NEM temos de agradar a esse mundo todo, NÃO temos de estar todos os dias na ribalta nem a respirar alegria e boa disposição. Devemos, aliás, remar contra a maré e tomar decisões que muitas pessoas não gostam nem aceitam. E mais! Vamos, certamente, cair inúmeras vezes e sermos postos de lado porque a sociedade despreza falhados e tem muito pouca paciência para quem faz diferente. Azar o deles! Mil vezes ser autêntico e lutar por si, pelos seus interesses e pelo que lhe faz feliz do que se ser mais um “zombie” desta vida.
Ao espelho só nos devemos ver a nós mesmos e não o reflexo do nosso falso EU.
E tu? O que te propões a ser? Um espelho ou um reflexo distorcido?