O rapaz que prendeu o vento

“Deus é como o vento, toca em tudo”. É com esta frase que o filme acaba, num relato que é um verdadeiro hino ao amor, à superação, à resiliência, à alegria, à vontade de aprender e vencer, ao essencial da vida. Eis a produção “O Rapaz que Prendeu o Vento”, uma história verídica sobre o renascer de uma esperança perdida em Wimbe, uma aldeia de Malawi, numa África que tem tanto de belo como de devastador, de alegria, cor e abundância como de miséria, indiferença e escassez. Uma fatia de um mundo com grandes fragilidades de ordem ambiental, política, económica e social.

Corre o ano de 2001 e tudo acontece em Wimbe, a aldeia de Malawi onde vive a família Kakwamba cujos progenitores aspiram uma melhor educação para os seus 3 filhos. Annie é a filha mais velha e está a preparar-se para ir para a universidade. Namora às escondidas com um professor de ciências da escola onde estuda o irmão e protagonista desta história, William, um rapaz de 13 anos, que adora ir à escola, passear com o seu cão, arranjar rádios, aproveitar a energia de pilhas gastas para ouvir relatos de futebol com os vizinhos e recolher peças velhas na sucata da sua aldeia para construir engenhocas. O irmão mais novo é ainda bebé.

O Malawi atravessa uma crise agrícola intensa, provocada pela seca extrema, devastadora das plantações que constituem a subsistência daquele povo, que está entregue a si próprio, cujos governantes mantêm uma política de indiferença para com a fome das populações, tendo apenas como objectivo ganhar as eleições.

William é um rapaz curioso, cheio de vontade de aprender e com uma coragem feita de grandeza, que teve abandonar a escola por falta de dinheiro da sua família. Mas nem isso o faz desistir de tentar aprender e eis que o rapaz encontra uma solução para a seca que a sua aldeia enfrenta, inspirando-se no livro de ciências da biblioteca da sua escola sobre “usar energia”, que frequentava clandestinamente, mas com a anuência do professor e da bibliotecária.

Ainda que com conhecimentos rudimentares de física e engenharia, William quer arriscar e pede ao pai o único bem material que este tem: a bicicleta. Com as suas peças, troncos e peças da sucata, o rapaz consegue construir um moinho de vento para produzir eletricidade e criar água, um feito que salva a sua família e a aldeia da miséria, trazendo-lhes uma esperança perdida.

Esta é uma história que tinha tudo para ser trágica, mas que na realidade foi de superação, triunfo e engenho humano, num contexto de fome e pobreza que não deixa ninguém indiferente. Um filme com silêncios penetrantes e que falam bem alto… O resto é melhor o leitor ver. Vale a pena!

Extra filme, William recebeu bolsas de estudo para terminar a escola em Malawi e, depois, frequentar a academia de líderes africanos, na África do Sul, tendo terminado o curso superior de Estudos Ambientais nos EUA. Os seus pais ainda vivem na aldeia de Wimbe.

O primeiro moinho de vento construído por William e todos os outros construídos posteriormente garantem que a aldeia tenha electricidade e que a população possa ter colheitas o ano todo.

Um exemplo de resiliência e coragem, que nos mostra que as melhores soluções nem sempre partem de países desenvolvidos e que a curiosidade, digo eu, aguça o engenho. Já para não falar do amor, o verdadeiro mote para a construção de um mundo melhor.

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