Uma história de hoje onde a doença dá a mão a uma mulher de 50 anos. O que seria impensável acontece a uma professora, mulher activa, multifacetada e cheia de ideias. Uma pessoa que tinha uma vida desejada e amada.
No dia do seu aniversário, com a família reunida, ela sente que algo não está bem. Sendo professora universitária, na área da linguística, associa uma ligeira falha de memória ao facto de ter bebido champanhe. E assim, com um certo humor leve, entramos na vida desta família que podia ser a nossa ou a dos nossos vizinhos.
Alice lecciona e retira imenso prazer do que fez. É uma pessoa com uma vida organizada e cheia de planos. Os seus três filhos são todos diferentes e a união familiar é forte. O marido, também ele um viciado no trabalho, consegue estar presente nos momentos cruciais. Tudo normal como se deseja.
Um dia, quando está a correr no campus, sente-se perdida. A noção espacial é perdida e denota-se um certo desespero da sua parte. Consulta um neurologista que, de imediato, reconhece sintomas de Alzheimer precoce. Após vários testes o diagnóstico é definitivo: Alzheimer na versão Familiar, o que é mais raro.
O dilema está instalado. Demasiado jovem para a doença, mas, miséria psicológica, a sua intensa actividade cerebral, funciona por inverso. É ela que vai levar mais rápido à degradação cognitiva. A família fica destroçada e a filha mais velha descobre que tem o mesmo gene. Alice sente-se culpada, mas, felizmente, para ela, esquece com rapidez.
O filme mostra a luta titânica desta mulher para não se perder de si. O que lhe dava prazer deixa de ser possível e tenta encontrar estratégias para combater o vazio que se instala. É assustador o modo como a doença progride e avança de forma descarada. O marido nunca sai do seu lado e continua a olhar para ela como a mulher mais inteligente que alguma vez conheceu.
A certa altura, num dos momentos de lucidez, Alice profere a seguinte frase: “Preferia ter cancro. Assim havia laços e campanhas de angariação.” É perfeitamente compreensível que alguém que definha deste modo possa dizer isso. A verdade é que ter cancro não são os laços nem as campanhas de angariação. É muito mais do que isso. É o medo constante e o peso da efemeridade da vida que se carrega nos ombros.
A filha mais nova deixa a cidade onde vivia e vem morar com a mãe para a cuidar. São duas meninas que se olham, mas a mais velha nem sabe quem é. O tempo levou-lhe o conhecimento, o entesouramento e a sua mais-valia. A filha, a mais rebelde, conforma-se com o rumo que a vida lhe reserva. Há um futuro que ninguém sabe nem entende. Esta trama toda dá que pensar. Sobretudo no que a vida representa e na forma como é ingrata com aqueles que se motivaram sempre. A doença, seja ela qual for, é sempre uma paragem de tempo que não se deseja. Envelhecer é inevitável, mas ser viúva dos seus próprios neurónios deve ser uma experiência tão bizarra quanto dantesca.