O Grande Amor da Minha Vida

O Grande Amor da Minha Vida é talvez o filme que melhor veste o imaginário do cinema romântico clássico. Contudo, esta versão (a que o público recorda com mais carinho) é um remake que Leo McCarey fez em 1957 de um filme que o próprio havia realizado com sucesso no glorioso ano de 1939 (cinematograficamente falando). Ele e Ela, com Charles Boyer e Irene Dunne, havia sido nomeado para Melhor Filme, mas num ano que viu estrear E Tudo o Vento Levou, O Monte dos Vendavais, Adeus Mr. Chips, Peço a Palavra ou O Feiticeiro de Oz, o filme ficou-se pelas nomeações e pelo amor do público.

Dezoito anos mais tarde, um McCarey mais maduro voltou a pegar na história e, contando com dois colossos da sétima arte – Deborah Kerr e Cary Grant – fez História. Foi em televisão que vi o filme pela primeira vez, revendo-o anos depois na Cinemateca, pois o grande ecrã faz milagres, capaz de apurar o ouro da nossa percepção na matéria que já trazia nível de excelência. E como é belo assistir ao encontro entre Nickie Ferrante e Terry McKay, que se apaixonam a bordo de um navio com destino a Nova York. Ambos são comprometidos, combinando encontrar-se daí a seis meses no topo do Empire State Building (“nearest thing to heaven”). Se algum deles não aparecer, era porque a relação não tinha que ser.

Curiosamente, havia passado por esta obra no filme de 1993 com Meg Ryan e Tom Hanks, Sintonia de Amor, quando o clássico para o qual este filme nos remete é precisamente a versão de 1957 de McCarey: o encontro marcado pelo filho de Hanks através de um programa de rádio, na tentativa de encontrar uma parceira para o pai, no topo do arranha-céus nova-iorquino, evoca a magia deste clássico.

E é mesmo magia pois se estacionarmos a emoção e analisarmos o filme a régua e esquadro, estragamo-lo. O Cinema (ou a Arte) é o mundo das sensações que mexem connosco. Assim, O Grande Amor da Minha Vida, como tantos filmes que polvilham estes mais de cem anos de magia, é um grande filme não o sendo. O público tratou de ir acarinhando a obra ao longo das décadas em que ela, tal como o vinho do Porto, foi melhorando.

Resta-nos deliciar com a versão original, com o remake, o remake do remake (de 1994 com Warren Beatty e Annette Bening) ou a obra evocativa com Hanks e Ryan. Seja de que forma for, por mais pindérico, datado ou irreal que as histórias no grande ecrã possam ser, é também para sermos arrancados à realidade que gostamos de viajar pelos filmes. Se assim não fosse, o cinema não faria sentido.

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