“A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registo da realidade e um auto-retrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira.” Frase dita por Gérard Castello Lopes, um dos grandes representantes da “geração dourada” na fotografia portuguesa e que também marcou o cinema (dentro das várias áreas, era o administrador da cadeia de cinemas Castello Lopes) e o Jazz. Uma frase que cativou milhares de fãs e, mais do que isso, inspirou fotógrafos a produzir obras de arte. Em alguns casos, obras de arte que ao serem divulgadas na Internet, fizeram história pelo conceito que representavam. Quem não conhece a fotografia “The Afeghan Girl” (por Steve McCurry, “A Afegã”)? O que é feito dela e de tantos outros casos?
Uma das fotos mais chocantes de sempre foi conseguida em 1994 e é representada por uma criança enfraquecida que se encontra a um quilómetro do campo de alimentos das Nações Unidas, tendo no fundo um abutre à espera que ela morra. A fome no Sudão foi um desastre humanitário que causou imensos abusos dos Direitos Humanos e foi consequência das guerras civis entre o Sudão do Sul e do Norte. À criança ninguém sabe bem o que lhe aconteceu, embora as condições indiquem que ela não tenha sobrevivido. O mais curioso e igualmente trágico nesta fotografia está relacionado com o fotógrafo, Kevin Carter, que após ter conseguido a foto, entrou em depressão profunda e suicidou-se (deixou apenas uma carta de suicídio). Ainda que tenha tido um fim prematuro, conseguiu o prémio Pulitzer de Fotojornalismo nesse mesmo ano e garantiu um lugar na história da Fotografia e da guerra no Sudão.
A guerra entre os palestinianos e israelitas deixou muitas marcas e uma delas foi com esta imagem de nome “Palestinian Martyr” (2000) conseguida por por repórteres da BBC que filmava os ataques, com apenas uma parede a protege-los da chuva de balas que os rodeava. Tal como o próprio nome indica, na imagem estão representados dois palestinianos: um pai, Jamil ad-Durra, que protege o filho, Mohammed, de ser morto pelos ataques israelitas a uma cidade palestina. Antes do filho morrer, o pai tenta chamar uma ambulância palestiniana que acabou por nunca vir, uma vez que os seus tripulantes foram mortos por estes mesmos ataques. Ainda que tivesse sobrevivido ao baleamento, Jamil acabou ficando gravemente ferido.
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O famoso monstro de Loch Ness (“Lago Ness”) é uma criatura que faz parte da cultura popular escocesa e até da sua religião, desde 565. Em 1934, uma fotografia fez dessa lenda uma realidade, quando Robert Kenneth Wilson decidiu fotografar o sítio onde estava a passar férias e entre elas estava a famosa fotografia do Nessie (como os escoceses o tratam). Desde então, organizam-se visitas marinhas no lago Ness, de modo a que as pessoas possam conhecer a casa do monstro e a Escócia, que é um local de férias repleto de mistérios. A teoria durou anos até que, em 1994, Christian Spurling, no leito da morte, confessou que a fotografia tinha sido tirada pelo pai (Ian Wetherell). Na realidade, tratava-se de um pedaço de madeira a fazer de monstro marinho e que foi o suficiente para convencer Robert Kenneth Wilson da existência de um monstro marinho. A partir daqui, Wilson aceitou ficar responsável pela captação da foto e pela consequente difusão da mesma. Hoje em dia, existe ainda quem acredite que esta criatura existe e criaram-se organizações (www.loch–ness.org) em defesa do animal e existem imensas páginas a Internet que defendem a sua existência.
A National Geographic, em especial Steve McCurry, conseguiu uma das fotos mais conhecidas de sempre em 1984. “The Afghan Girl”, também conhecida por Sharbat Gula, que estudava numa escola informal no campo de refugiados em Nasir Bagh, quando McCurry conseguiu o que quase nenhum fotojornalista consegue: uma fotografia de uma mulher afegã. A foto trouxe polémica para a cultura árabe, pois a jovem, que na altura tinha 12 anos, aparecia com o rosto descoberto, o que, segundo a sharia, é crime. Sharbat e a família eram refugiados no Paquistão, devido aos bombardeios dos russos no Afeganistão. Pelo caminho perdeu os pais e, posteriormente, ela conseguiu chegar ao acampamento juntamente com a avó e os irmãos. No ano seguinte à fotografia (1985), Sharbat Gula era capa na revista do National Geographic e apenas em 1992 a sua identidade ficou conhecida.
Em 2002, McCurry, que tinha dado um novo rumo à sua carreira, queria saber o paradeiro da menina e, por isso, voltou com uma equipa ao acampamento de Nasir Bagh, mas não a encontra. “The Afghan Girl” tinha voltado ao Afeganistão juntamente com os seus irmãos, estava agora com 30 anos, era casada e mãe de três meninas. A National Geographic, juntamente com o programa Explorer, produziu um documentário The Afeghan Girl: A Life Revealed (“A menina afegã: uma vida revelada”), onde se pode saber ao pormenor o que aconteceu com a, agora, Mulher Afegã.