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Em que dia está marcado a demolição do tabu da sexualidade?

A Sociedade do Séc. XXI e os seus indivíduos sofrem de hipersensibilidade. Parece que é impingido escolher um lado. O preto ou o branco. O polo positivo ou o polo negativo. O par ou o ímpar. Esta polarização torna qualquer tema onde exista uma divergência de opiniões difícil de abordar – como se debater e chegar a um meio termo fosse nefasto (da discussão é que nasce a luz). A própria opinião pública corre o risco de ser incendiada nas redes sociais e ninguém se quer atrever a ser ”cancelado”, tendo por isso de modelar e moderar o discurso. Os assuntos mais fracturantes devem ser tratados como aqueles selos antigos que se querem bem conservados e para isso usa-se uma pinça para não danificar nada, tratando minuciosamente o manuseamento do selo, não pondo nada em risco.

Existe esta necessidade extremada de ser politicamente correcto, não vá o diabo tecê-las. Não se deve ferir susceptibilidades nem melindrar ninguém. Há esta mania de levar tudo para o lado pessoal. Não sabemos lidar com o nosso Ego, apesar das redes sociais o fomentarem, dando-nos a ilusão de que a nossa voz, muitas vezes inconsequente e não construtiva, pode ser ouvida por muita gente e que somos importantes globalmente, quando na verdade apenas o somos (e ainda bem) para um grupo restrito de pessoas. Os holofotes não estão dirigidos a toda a hora a nenhum de nós.

São estas premissas referentes à nossa fragilidade e reactividade recriminatória para com os discursos que tocam em assuntos sensíveis que fazem surgir muitos tabus. Os tabus são como barreiras que nos vetam o caminho para sermos melhores seres humanos e pessoas mais educadas. No fundo, todos os problemas que existem poderiam ser resolvidos com educação. Há determinados tabus que, como vírus, vão ganhando resistência e permanecem na nossa Sociedade durante muito tempo, sendo cada vez mais difíceis de derrubar. Tomemos o exemplo do pudor que geralmente se sente ao abordar o tema da sexualidade.

Quão difícil continua a ser falar sobre sexualidade (eu próprio sinto algum atrito para começar a escrever sobre o tema)? Como é que os pais e as escolas podem ensinar os adolescentes a minorar os comportamentos de risco e ajudar a explorar a sua identidade? Há ferramentas para alisar o caminho e catalisadores para que este seja percorrido sem turbulência, ou a turbulência é um factor essencial para uma boa auto-descoberta?

Hoje em dia, a informação está disponível a qualquer pessoa, com uma base científica sustentada. Temos novas vias de comunicação, novas formas de cativar e de ensinar. A escola tem a função de instruir, mas também de gerar entusiasmo. Os programas escolares têm que ser adaptados para suscitar o interesse dos alunos. Na parte da educação sexual, os programas escolares são redutores. Aborda-se a questão biológica e deixa-se de parte o mais importante: como lidar com os sentimentos, a questão dos afectos, do prazer, do que consentir, da prevenção de doenças e o pensamento crítico. Muita das vezes atribui-se essa tarefa a um psicólogo que está presente na escola x horas por semana, esperando que os alunos se interessem, o que é manifestamente curto para a densidade de alunos que existe.

A educação sexual é extremamente relevante nos dias que correm: os meios de comunicação e o marketing ditam as regras e sugerem imperativos e estereótipos de beleza e de representações sociais. As crianças/adolescentes tentam espelhar os conteúdos a que assistem e tal comportamento pode ser perigoso, pois esse conceito de beleza é uma distorção da realidade e só submete as crianças/adolescentes a uma pressão constante. A educação sexual tem o carácter de servir como atenuante desses conteúdos mediáticos, eliminando dogmas e preconceitos. Cada um deve ser livre de se explorar da maneira que acha adequada para si. Sobretudo, é importante educar as crianças/adolescentes para que estas não sejam cruéis umas com as outras, logo de raiz. Não se trata de uma competição para ver quem chega primeiro à meta. É tudo um processo de maturação individual.

A educação para a sexualidade na escola é um complemento ao trabalho que se faz em casa. A sexualidade deveria ser encarada com a maior naturalidade e sem qualquer tipo de constrangimento. Da parte dos pais, romantiza-se que a certa altura do crescimento dos adolescentes, há uma altura para se ter ”a conversa”. Tal abordagem é errada: as questões da sexualidade devem ser contínuas e progressivas à medida que a criança se desenvolve. O objectivo da educação é ser emancipatória, com vista ao desenvolvimento da autonomia e da capacidade de superação. As crianças são como esponjas e absorvem facilmente o que observam. É importante que estas não atribuam certas funções da rotina da casa a um género (mãe a lavar a loiça, por exemplo), concluindo que qualquer membro da família está habilitado a desempenhar qualquer tarefa.

De facto, o assunto é complexo, ainda para mais nesta Era de pouca tolerância e onde as questões de género são uma problemática recorrente. Há demasiada indefinição ou demasiada definição: note-se na sigla LGBTQQICAPF2K+ que pode ter o potencial de se expandir, tal a diversidade que continua a surgir, e ter mais caracteres do que o π. Assim, a identificação de género e a própria abordagem do tema complica-se. Quando temos 100 sabores de gelado à escolha, ficamos mais reticentes em escolher o sabor do que quando temos apenas 4. E ainda podemos ficar arrependidos de não ter escolhido os sabores em que ficámos na dúvida.
Felizmente, a informação está do nosso lado e cada vez há mais pessoas formadas a abordarem a transversalidade da sexualidade, em formato de séries de televisão ou em podcasts, derrubando mitos criados pela existência dos tais tabus da sociedade.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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