Há alguns anos atrás, disse a uma amiga Peruana que gostava de ir ao Perú conhecer Matchu-Picchu. Ela respondeu imediatamente e sem qualquer hesitação que aquilo é muito mais do que se pensa e que me levaria a explorar o território sem a habitual afluência de turistas, onde ficaria a conhecer verdadeiramente o país e toda a sua riqueza histórica e cultural. Também prometeu levar-me a visitar os países vizinhos da mesma forma, pois conhece-los a todos. Confesso que fiquei ansiosa com esta viagem, que ainda não foi possível realizar. Com a maior simplicidade, a Karyn soube captar exactamente aquilo que eu procuro numa viagem.
Quando viajo, quase sempre evito os locais mais óbvios, onde se concentram as multidões. Prefiro explorar as comunidades mais remotas, onde encontro a verdadeira essência do país, a raíz da sua cultura e da sua gastronomia. O contacto com o povo local. Tudo conta. E sinto que é muito mais enriquecedor para mim se for além dos principais pontos turísticos.
Nem todos viajamos com o mesmo propósito. Muitas pessoas fazem-no em trabalho e não têm oportunidade de aproveitar a viagem além dos compromissos profissionais. Outras vão em Lazer, seja qual for o objectivo. Explorar o Património, Desporto e Aventura, Religião, ou simplesmente para descansar, tantas são as razões que as pessoas escolhem para viajar. Mas será que todos percebem o bem que nos faz e nos sabe?
Existem muitas provas científicas dos benefícios que uma viagem proporciona à nossa saúde física e mental. Muitas pessoas talvez não tenham pensado nisso, mas certamente sentiram os efeitos positivos durante e após uma viagem. E não tem de ser necessariamente uma viagem a outro país, basta saírmos do local onde vivemos por um dia e ir conhecer outra terra qualquer que já voltamos mais desanuviados e enriquecidos de algum modo.
Dalai Lama disse que “Uma vez por ano vá a algum lugar onde nunca esteve antes”. Se pararmos para pensar nisto e o pusermos em prática, faz todo o sentido. Chegar a um lugar desconhecido desprovido de expectativas, explorar e viver esses momentos, com as suas paisagens, cheiros e sabores faz-nos “crescer” e evoluír para a vida e para o mundo, ou como diria Jean Jacques Rosseau “Quanto mais do mundo vi, menos pude moldar-me à sua maneira.” Aprendemos muito mais com a experiência de ir.
Hoje em dia e cada vez mais, muitas pessoas viajam em busca do seu propósito de vida. Partem à descoberta, muitas vezes sem destino definido, simplesmente para “se encontrarem”. Michel de Montaigne disse: “Costumo responder, normalmente, a quem me pergunta a razão das minhas viagens: que sei muito bem daquilo que fujo, e não aquilo que procuro.” Quem o faz, quase sempre vai para lugares de infinita Natureza, montanhas, percursos pedestres, mas também há quem prefira o ritmo frenético da confusão, porque nem sempre a espiritualidade de cada um se desenvolve no isolamento. Eu confesso que às vezes sinto necessidade de “fugir” da calmaria do Alentejo e “refugiar-me” onde há mais movimento e ainda que não pareça, renovo energias.
Seja como for nunca voltamos iguais depois de uma viagem. Tudo o que vemos e vivemos fica em nós e transforma-nos de alguma maneira. Como escreveu Mia Couto “A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores”.
Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico