A viagem estava marcada há meses e o Instagram já sabia disso. As redes sociais sempre sabem. Compartilhamento de informações de usuários, cookies, mensagens internas. Ao comprar uma passagem aérea ou reservar o hotel parece que uma sirene digital se acende e o feed se torna um mundo de referências e dicas. Tão prático quanto preocupante.
Embarquei para Paris com a pasta de referências cheia de ideias. Dentre os passeios imperdíveis, as promoções, os museus e as fotos a serem replicadas, havia uma parada da qual eu não abria mão: o restaurante Le Procope.
Apareceu no meu feed assim, desavisado, e vi que era o restaurante mais antigo de Paris – vamos voltar nesta informação depois – e que, surpreendentemente, tinha um preço bastante acessível ao almoço: 23,50 com prato principal e sobremesa ou entrada e 29,50 o menu com os três pratos.
Quero ir – não só pensei como de fato fui.
À entrada, veio outra ideia, a de fazer um vídeo sobre o lugar. Mais um conteúdo para invadir os feed alheios quando eles comprassem suas respectivas passagens e reservassem seus respectivos hotéis. Não reservei e não tinha fila. Comecei os takes com o celular, a fachada, a placa com a data de fundação – 1686 – o hall de entrada. “Voltaire esteve aqui”, pensei ao atravessar o salão. E o pensamento me pareceu mágico.
Segui filmando ao mesmo tempo que ia vivendo – a entrada, uma salada com croutons, o prato principal, um risoto de aspargos, a garrafa de vinho – da maior, é claro. O atendimento foi rápido e simpático. A água foi carafe d’eau, dica máxima de Paris para não pagar por ela nos restaurantes e cafés. A conta foi justa, veio corretamente logo após o pedido de direção para os banheiros, que rendeu a descoberta de um 2º andar enorme e muito charmoso. “Victor Hugo esteve aqui também”, segui pensando.
Saí de lá com estômago e a memória do celular cheios. O almoço foi agradável – nada de impressionante, nada de decepcionante. O ingrediente secreto, para mim, estava no valor histórico do passeio. “O restaurante foi fundado antes da Revolução Francesa, antes de Isaac Newton defender a lei da gravidade, como é que pode!”
A edição do vídeo de menos de 1 minuto foi feita no voo de volta. O post, no dia seguinte. Primeiro, 10 mil visualizações e comentários que variavam entre ávidos amantes e não tão amantes assim do Le Procope. Foi nessa que descobri que há um outro restaurante mais antigo na cidade, o que não me fez, de jeito nenhum, perder o encantamento. Depois vieram as 100 mil visualizações. Neste momento parei de atualizar meu placar mental de comentários. A maioria está entre quem gostou do lugar, eu acho, mas sou suspeita.
Meio milhão de views. Um milhão. E contando…