A cultura come a estratégia ao pequeno-almoço.
Peter Drucker
Charme, glamour, fashion, moda e requinte.
Emily in Paris é uma versão modernizada e, um tanto ou quanto, infantilizada, da série Sexo e a Cidade.
Cor, roupa, digital marketing e cultura, tendo como fundo de pano a cidade de Paris. A protagonista, Emily Cooper (Lilly Colins), uma executiva de marketing de Chicago, desloca-se para viver em França e apresentar uma perspectiva americana, numa empresa de marketing em Paris. Sem saber a cultura ou a língua do povo francês, arrisca-se a num dia-a-dia em nada familiar até aí, se torne uma roleta russa de emoções.
A única personagem que se vê crescer e evoluir é o Chef Gabriel (Lucas Bravo), contudo, em determinado momento nos faz questionar sobre o seu carácter e lealdade. Entre amores ou desamores, contínuos e efémeros, a história é um emaranhado de tramas entre o ridículo e o absurdo, entre o poder e a traição (representados pelos personagens femininos), o que demonstra que a emancipação feminina pode apresentar características idênticas aos dos homens que detêm o poder, caso os valores e as vivências se desliguem da ética e da moral. Episódios cheios de drama poético-romântico e passagens de humor inglês (pelo burlescos que são), num contínuo choque entre culturas, promovendo alguma inquietação em quem os vê e atento está a questões sócio-culturais.
Uma reflexão proveniente da globalização que permite que qualquer pessoa internacionalize o seu negócio, porém que, muitas vezes, desconhecedores das diferentes visões que podem existir no outro lugar, criam um choque cultural, não só no contexto pessoal como profissional.
Aqui, sucesso é algo que se mostra pelo que se tem, pelas roupas que se vestem, pelos adereços; marca nesta série e, questionáveis do ponto de vista da facilidade com que alguém, tão jovem, e aparentemente, com uma vasta experiência profissional; e, acesso “ao melhor do que a vida tem(?)” – bom salário, liderança, roupas de marca, acessórios, restaurantes,…; se move numa cidade e num país desconhecido, com a facilidade de circunstâncias onde tudo o que lhe acontece é prontamente oferecido. O que neste caso, pelo comportamento de liderança que se faz espelhar numa mulher americana de sucesso em Paris, contraditório às características de um bom líder, porque para o ser é necessário saber comunicar interculturalmente.
Um mito urbano, proveniente do mundo digital em que se vive, numa fuga constante entre a realidade e o fictício, influenciado pelas redes sociais, que fazem o quotidiano ser O Belo, porém, em simultâneo, mundano, pela capacidade com que os seus utilizadores são absorvidos para o mundo virtual.
Entre a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo e as maravilhosas paisagens desta cidade, a ingenuidade, arrogância e despeito de Emily face a uma nova cultura, repete-se em todos os episódios e, o uso continuado de conteúdos de marketing digital e filtros de redes sociais revelam o quanto ser influencer é uma realidade actual. Estes, sugestionadores e capazes de alterarem a percepção do real, fomentam ao uso exagerado e que impactam a rotina dos seus usuários, podendo ser tóxicos e disruptivos da imagem que cada um tem de si.
Emily in Paris é uma série de drama, de 2020, da Netflix, a estação de serviço online de streaming norte-americano, com quatro temporadas, falando-se sobre uma quinta, mesmo com críticas pelos comportamentos estereotipados dos seus personagens.
Do storytelling para marketing digital é assente que toda a história deve ter um desafio, uma escolha e um desfecho. Emily é cheia de surpresas, ao mesmo tempo que se antecipa a acção seguinte, pela falta de empatia e repetição do óbvio, ou o facilitismo numa vida cheia de fantasia. Parece uma jovem MacGyver que tem solução para tudo e, no último instante resolve todos os problemas. Um personagem que pretende transmitir uma imagem de força, coragem, emancipação, resiliência, focada na carreira. Contudo, que transparece egocentrismo, sem inteligência emocional capaz de disseminar tabus e exteriorizar valores ou moral. Sem pensar em consequências ou nas pessoas que lidam consigo.
Emily in Paris esteve em segundo lugar do Top 10 das séries mais vistas em Portugal. Será porque é a representação do mundo tecnológico e virtual, que absorve mais do que, de facto, ensina? Das gerações vigentes que assim pretendem ser?
Duma perspectiva pessoal, pelo contrassenso da sua mensagem, levanta-me uma série de questões, num misto de emoção entre o encantamento e o irritante. Ainda assim, me aglutinou ao sofá, desconhecendo se o assisti, por ser realmente bom ou, acompanhei por não o ser.
Um mundo fabricado e mercantilizado. Pleno de cor, romance, filtro e glamour.
Elle est Coquette, fofocas e sexo. Elle est chique, mentiras e traições. Elle est Emily in Paris, quer fazer o bem, sem olhar a quem. Conforme o mundo moderno, que mesmo que tudo esteja mal, Paris faz com que não esteja.
Nota: Este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico.