Será possível ser-se feliz sob o ponto de vista científico?
O que é a Felicidade?
Há diversas teorias e conclusões da Felicidade sob o ponto de vista da psicologia, da filosofia, das religiões e, claro, sob o ponto de vista individual de cada um.
Porém, hoje, façamos hiperfoco na ciência e vejamos se a Felicidade é uma utopia.
As Emoções: o que são e como funcionam
Pesquisas recentes mostram que cada individuo tem um comportamento padrão para cada emoção e, ainda, há uma emoção predominante em cada pessoa.
Contudo, é uma necessidade genética e biológica sentir todas as emoções.
Em “Emotion Revealed” , de Paul Ekman, diz-nos que temos “protocolos padrão de comportamento para cada emoção”. Isto é, cada emoção tem uma base de dados no cérebro que nos diz como o corpo deve responder em determinados momentos e situações (e,g, se um animal ou um carro ou algo que ameace a nossa integridade física vier na nossa direcção, como resposta automática, activamos o protocolo da emoção Medo e, consequentemente, fugimos).
Portanto – e como dito –, para sobreviver é necessário experimentar e viver todas as emoções – todas!
Segundo Paul Ekman, principal expoente dos tempos recentes de pesquisas e desenvolvimento das emoções da forma como hoje são conhecidas – e cientificamente validadas! – e, também, desenvolvedor, com a colaboração de Wallace Friesen, do único método de análise de expressão facial e do modelo taxiómetro da expressão facial (o FACS – Facial Action Coding System), as emoções, infelizmente, têm controlo sobre o nosso corpo e são instintivas.


Portanto, as emoções activam primeiro a nível hormonal e só depois o comportamento muda, racionaliza. Quando pensamos “estou com raiva de…”, por exemplo, a emoção já foi sentida e, agora e neste momento específico, estamos sob efeito do chamado Sentimento que está a ser racionalizado.
Posto isto, quantas emoções há?
São sete: Felicidade, Tristeza, Surpresa, Medo, Desprezo, Nojo e Raiva.
Emoções: para que servem?
A Tristeza, por exemplo, coloca-nos numa posição mais vulnerável, numa posição onde necessitamos de ajuda e, consequentemente, vamos aproximar-nos de terceiros. Esta é a função principal psicológica da Tristeza.
Por mais que nos surpreenda, esta está relacionada com um alto índice de resposta corporal.
Quando se está a passar pela Tristeza, vai ficar numa posição frágil, no entanto, precisa geralmente de reagir a perda (a perda de um parente ou a perda de um emprego, por exemplo). Para a pessoa poder responder à perda, a emoção Tristeza vai fabricar hormonas para que a pessoa se coloque num estado de resposta, de mudança, de sair.
Erradamente, a emoção Tristeza confunde-se com o Transtorno de Humor chamado Depressão. A emoção Tristeza é instintiva, tal como as outras seis, e a Depressão é uma condição psicológica, um transtorno de humor.
Seguindo o trilho, qual seria, então, a opositora da Tristeza?
“Uma pessoa que não está triste, está feliz”.
Errado.
Uma pessoa que não está triste, está com raiva.
Esta emoção, a Raiva, coloca-nos numa posição activa: é a emoção que dá a sensação de estar a fazer algo para remendar e costurar aquela perda que causou Tristeza.
A Raiva tem a função activa para nos colocar em posição de ataque, defender algo que é nosso, defender uma ideia, ir atrás, lutar. A Raiva é um substituto rápido da tristeza.
Esta coloca-nos na posição activa da qual, por exemplo, a emoção Felicidade não faz.
No fim de um relacionamento só se consegue andar para a frente quando choramos tudo (Tristeza) e começamos a sentir Raiva, certo?
E a Felicidade?
Vai estimular a repetição de atitudes e actividades prazerosas libertando hormonas como a dopamina, endorfina e a serotonina (esta última conhecida comummente como a hormona da felicidade!)
Contudo, a Felicidade não está de mãos dadas com a positividade.
Sob um ponto de vista psicológico, forçar a positividade não nos fará felizes. De longe!
De acordo com o livro da psicóloga de Harvard Medical School e da professora Susan David, “Agilidade Emocional: Abra sua Mente, Aceite as Mudanças e Prospere no Trabalho e na Vida” (Emotional Agility: Get Unstuck, Embrace Change and Thrive in Work and Life), as emoções precisam ser tratadas, tanto as positivas como as negativas.
Escolher ignorar os sentimentos negativos é o mesmo que varrer o lixo sob o tapete e fingir que não existem. Com a certeza, porém, que mais cedo ou mais tarde eles virão à superfície. Escolher ignorar as emoções negativas que se instigam em nós, elas voltarão ampliadas com outro e maior peso.
Portanto, sermos fiéis a nós mesmos é o melhor caminho.
Se estamos tristes, aceitemos. Se estamos com raiva, aceitemos. Se estamos felizes, vamos aproveitar!
Posto isto, e sob o ponto de vista psicológico, não é aconselhável nem tão pouco saudável, forçar a felicidade.
Contudo, cientificamente falando, é possível ser-se feliz?
Segundo Ekman, com certeza!
O conceito de Felicidade, de acordo com Ekman, abrange emoções positivas e geram acções de aproximação e não de afastamento.
Quando nos sentimos felizes, tendemos a gerar processos de aceitação fisiológicas e corporais que nos movimentam para a frente com a ajuda dos dois principais neurotransmissores: a serotonina (responsável por regular o estado de alerta e de humor no organismo e que, em baixos níveis, está relacionado com a falta de motivação e depressão) e a dopamina (associada ao movimento, memórias e sensação de prazer).
Contudo, há dois extremos opostos com estes neurotransmissores: ou podem ajudar a sentir mais emoções positivas, ter uma boa memória e ser mais eficiente em alguma actividade ou, por outro lado, podem afundar-nos num poço de depressão. A questão essencial é a quantidade existente no organismo. Pesquisam apontam que praticar exercício regularmente, uma boa alimentação e dormir bem ajudam a produzir essas hormonas.
Deste modo, quando estamos felizes somos capazes de realizar tarefas com alto desempenho e mais rápido (daí, geralmente, todo o bom profissional gostar do que faz).
Também existe o oposto: ficar-se feliz sentindo tensão e ansiedade. Surpreendido? A Felicidade não implica, obrigatoriamente, estar relacionado com algo moralmente bom e positivo, existindo, desta forma, um sentimento específico designado de “Schadenfreude” que é, nada mais nada menos, a Felicidade relacionada com o dano, infelicidade ou adversidades pelo terceiro.
Resumindo: o nosso comportamento padrão altera-se quando estamos felizes. Mudanças neuroquímicas causam mudanças físicas como, por exemplo, contracção/ dilatação das pupilas (quando se está apaixonado, as pupilas dilatam-se, por exemplo).
Deste modo, dará para activar a Felicidade no cérebro?
Sim, dá e de uma forma bastante prática (assim como é possível activar Raiva ou Tristeza):
Posiciona-te à frente de um espelho e concentra-te nas contracções musculares presentes na Felicidade: o músculo zigomático maior (canto da boca) e o músculo orbicular dos olhos.
É suficiente, então, sorrir o máximo até contrair apenas estes músculos!
Este exercício simples terá de ser praticado com regularidade e, nesse entretanto, poderão surgir pensamentos e episódios engraçados, memórias que possuem uma sensação positiva e, com isto, deixá-las permanecer.
Este procedimento foi comprovado quando Paul Ekman e Wallace Friesen, em Papua-Nova Guiné, estavam a estudar as expressões faciais derivadas de emoções quando descobriram que, após treinar longas horas contraindo os músculos faciais, um à frente do outro, estas expressões que faziam repetidamente despertava a emoção correspondente: se ficavam ao longo do dia a treinar os músculos usados para expressar Raiva, consequentemente, acabavam por ficar irritados o resto do dia.
Portanto, com as expressões correspondentes à Felicidade, a conclusão era exactamente a mesma.
Além de melhorar o desempenho, a Felicidade gera o chamado hiperfoco (visão em túnel) que significa que nos concentramos apenas na origem da nossa Felicidade não levando em conta outros factores. Isso explica quando estamos muito felizes num relacionamento somos incapazes de observar possíveis males que nos podem trazer. Contudo, também explica a razão de quando estamos felizes no trabalho estamos focados em terminar e os obstáculos não são problema.
A dopamina está ligada ao sistema de recompensa do cérebro: ficamos muito felizes na expectativa e muito felizes à consequência dos actos e mais felizes ainda quando a consequência é positiva. Se o nosso acto render uma consequência positiva podemos repetir o acto novamente, várias vezes, como nos mostra o Condicionamento Operante de Burrhus Frederic Skinner.
Conclusão
Por isso, caros leitores, é possível ser-se feliz à luz da ciência o que não implica, de todo, estar relacionado com a positividade citada em cima.
Portanto, cientificamente falando, é possível ser-se feliz, sim!
A felicidade à luz da ciência. Achei interessante a abordagem: nem sempre o que causa prazer está ligada à alegria. Muito bom, parabéns.
Mais um bom artigo. Parabéns, Rita.