Foi a 26 de Julho de 1952 que o Rei Farouk do Egipto, então com 32 anos, perdeu o seu Reino, o Egipto, cujo trono ocupara durante 16 anos.
A monarquia egípcia havia sido restaurada pelo Reino Unido nos anos 20. Farouk sucedera ao seu pai, Fuad I, em 1936. No ano seguinte, o alto-comissário Britânico no território norte africano, Sir Miles Lampson, num relatório destinado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, descrevia o novo monarca como sendo “ignorante, preguiçoso, mentiroso, caprichoso, irresponsável e vão, mas com uma rápida inteligência superficial e encantador”. De facto, as tentativas de reforma de Farouk pouco resultaram, uma vez que tinham a oposição de políticos, dos grandes proprietários fundiários e dos próprios Britânicos. A opinião pública nacional e internacional via-o como um playboy.
Em 1949, um grupo de oficiais do exército e da força aérea egípcios planearam secretamente uma revolução, destinada a derrubar não só o regime monárquico, como o domínio britânico. Na génese deste movimento estava, sobretudo, a derrota vergonhosa que o país havia sofrido na guerra israelo-árabe, no ano anterior. O Rei, os políticos e a corrupção endémica era tida pelos Oficiais Livres, como se auto-denominavam, como os principais culpados do estado da nação. Este grupo de oficiais, liderado pelos coronéis Gamal Abdel Nasser e Anwar Sadat, conseguiu reunir um apoio significativo entre o corpo de oficiais. Nasser era professor na Academia Militar na década de 1940, tendo influenciado muitos dos jovens soldados.
A armada era comummente controlada pelo próprio Rei. Contudo, a sua conduta escandalosa e o facto de existirem boatos de que alguns dos seus homens de confiança terem beneficiado da compra de armas e munições aos diversos ramos das forças armadas corromperam a lealdade da marinha. Em 1951, os Oficiais da Armada concorreram à direcção do Clube dos oficiais, apresentando o General Mohammed Neguib, antigo veterano de guerra, como presidente. Mohammed ganhou as eleições, face à candidatura de oficiais da confiança régia.
O Rei percebeu que esta eleição encobria uma conspiração contra si e contra as suas forças militares de confiança e procurou deter o avanço dos Oficiais Livres. Estes, receosos com a possibilidade de serem alvo de perseguições, decidiram efectuar um golpe de Estado. À meia-noite de 22 para 23 de Julho, enquanto a corte se encontrava numa festa em Alexandria, cerca de 200 oficiais e 3 mil soldados tomaram de assalto o quartel-general do exército, prendendo os oficiais superiores. Ocuparam igualmente o aeroporto, a estação de rádio do Cairo e o centro de telecomunicações. As ruas da cidade do Cairo foram ocupadas pelos rebeldes e dia 23 Sadat comunicou a ocupação.
Farouk não tomou o comando das tropas que se encontravam em Alexandria, com o argumento de que não quereria causar uma guerra civil e o consequente derramamento de sangue. Em contrapartida, pediu ajuda ao embaixador norte-americano, que, no entanto, não acedeu. As forças britânicas também não interferiram. Farouk procurou dirigir-se ao seu palácio no Cairo, por via marítima. Contudo, os Oficiais-livres ordenaram ao comandante do seu iate pessoal para não navegar sem as suas ordens expressas.
Com o palácio real cercado, Farouk foi forçado a abdicar. No dia 26 de Julho, partiu para o exílio em Nápoles, acompanhado da sua segunda mulher e filhos. O seu filho, o príncipe Ahmed Fuad, então com um ano, foi proclamado Rei, tendo sido nomeado um conselho de Regência. Este reinado não duraria muito. Em Setembro, a república foi instaurada, tendo como presidente o general Neguib, que em breve seria deposto por Nasser.
Farouk acabaria por morrer em 1965, com apenas 45 anos, depois de desmaiar num restaurante em Roma. É dele a famosa frase de que, em breve, restariam apenas cinco reis: o de Inglaterra, paus, copas, espadas e ouros.