As Emoções que vivem em nós

Muito se diz sobre pessoas, cores, géneros, raças e todas as diferenças que se possa encontrar entre os seres humanos. Tipicamente estas diferenças desunem em vez de unir. Como podemos criar sociedades que cooperativas em vez de sociedades competitivas?

Os pais têm um papel fundamental no que concerne racismo, sexismo e qualquer outra forma de descriminação humana. O que quer que seja que a criança sente e vê em casa, mimica depois ao longo da sua vida. Crenças e comportamentos são herdados pelas famílias no curso do dia-a-dia e na memória celular. (1)

No filme “América Proibida”, a lavagem cerebral indelével é brilhantemente demonstrada durante os jantares de família, onde o pai liderava a conversa. Esta “hipnose” acontece diariamente de forma consistente em diálogos inocentes, observações ou atitudes.

Despertar Emocional

Estando a Humanidade presentemente a acordar para as suas necessidades emocionais e a entender que os seres humanos são mais do que um corpo físico, o papel das emoções na saúde das pessoas, no seu comportamento e até mesmo nas normas culturais pré-estabelecidas torna-se mais e mais claro. Se até à data estávamos desconectados do nosso sistema emocional, como podem pais ajudar verdadeiramente filhos a colmatar as suas necessidades emocionais? Se os próprios pais não são capazes de (não aprenderam a) lidar com o seu próprio vazio e emoções como poderão ensinar os mais pequenos?

Estar consciente de que gerir emoções é uma necessidade é fundamental para compreender que todas as vidas humanas importam.

“A escuridão não pode acabar com a escuridão; apenas a luz o pode fazer. O ódio não pode acabar com o ódio; apenas o amor o pode fazer.”

– Martin Luther King Jr.

Diferenças Sociais

Nas últimas décadas, recebemos cada vez mais e mais opções como seres humanos. Criámos sociedades repletas de oportunidades, para que todos pudessem ser integrados e bem sucedidos. Contudo, apesar de esta premissa ser um bom ponto de partida, é baseada num modelo societal muito competitivo de um sistema extremamente capitalista. Basicamente, a principal descriminação que as pessoas sofrem é maioritariamente baseada no seu estatuto social ao invés de noutras condições.

A cor e o género ainda são apresentadas como uma questão: sendo pobre, essa vulnerabilidade aumenta ainda mais, consoante a cor da pele e o género com que se nasceu. Mas, as principais causas para esta discrepância entre seres humanos são a inconsciência emocional e a discrepância social entre a população. Estes dois pontos acabam por gerar todo o tipo de violência e conflitos entre as pessoas. (2)

Apesar da desigualdade social aparentemente não parecer tão relevante no que toca ao tema da descriminação racial, a verdade é que este ponto é a chave para compreender a verdadeira diferença com que estamos a lidar e trata-se do caminho para a criação de condições harmoniosas para que todos possam prosperar. Enquanto perpetuarmos um sistema selvagem com uma enorme disparidade entre seres humanos, questões como a cor da pele irão permanecer.

A Terra é abundante e nós, como criaturas que a habitam, podemos inspirar-nos na natureza e honrar a nossa espécie usando a inteligência para criar sociedades onde podemos prosperar em conjunto, em vez de competirmos para prosperar.

O Papel da Educação

A maior parte das vezes, as crianças, especialmente os jovens meninos, são ensinados a desligar-se das suas emoções. Todas as pessoas possuem um sistema emocional e aceder a ele é a chave para ver para além de cores, encarando cada ser humano como vida.

“Ninguém nasce a odiar outra pessoa por causa da cor da sua pele, ou pelo seu contexto, ou pela sua religião. As pessoas aprendem a odiar, e se podem aprender a odiar, então também podem ser ensinadas a amar, pois o amor vem mais naturalmente para o coração humano do que o seu oposto.”

– Nelson Mandela

A mensagem recorrente que enviamos às nossas crianças é para não mostrarem as suas emoções, que são consideradas erradas ou desadequadas. Este ato trata-se de violência emocional, pois cada ser humano experiencia emoções, pelo que é fundamental estar completamente consciente do que estas querem transmitir. O papel da educação seria o de ensinar (auto-)conexão e, consequentemente, formas saudáveis de expressar as emoções.

Este tema tem sido um desafio, porque, nós, os adultos, ainda estamos a aprender a lidar com as nossas emoções, pelo que – de momento – não somos capazes de orientar quem quer que seja. A falta de consciência emocional gera emoções reprimidas e suprimidas que levam frequentemente a atos de violência. A energia das emoções necessita de escapar e ser libertada e se não ensinarmos os nossos filhos, se não nos ensinarmos a nós próprios a expressar de forma saudável, essa força contida acaba por estourar. (3)

Outra questão com a educação é a falta de confiança. As crianças são frequentemente obrigadas a aprender o que definimos que devem aprender, no ritmo que estipulamos, pelo que muitas vezes ensinamo-las a não pensarem, simplesmente a seguirem o sistema pré-estabelecido e a adotarem esse processo/procedimento como seu.

A criatividade infantil é comummente atirada para o lado como irrelevante, levando as crianças a não terem confiança para se expressarem verdadeiramente e para confiarem e entenderem o seu sistema de orientação interior. Estão demasiado ocupadas em seguir as regras e convenções estabelecidas pela família ou sociedade. É mais adequado e conveniente se todos se comportarem como esperamos (ou seja, como nós próprios nos comportamos). (Confesso que eu própria sinto isto, às vezes de forma veemente, ou não fosse eu fruto do meu próprio contexto socio-cultural.)

Enquanto não conseguirmos ver que estamos consistentemente a dar educação através do nosso próprio exemplo, continuaremos a perpetuar todos os preconceitos das gerações anteriores.

“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.”

– Albert Einstein

As crianças mimicam o que vêem, pelo que é importante, acima de tudo, que trabalhemos connosco próprios. Tal significa não só agir de certa forma, mas sobretudo trabalhar com as nossas emoções e a vibração que emanamos. Crianças muito pequenas compreendem muito melhor a nossa frequência vibracional do que as nossas palavras ou ações, ou seja, elas sentem aquilo que nós sentimos. À medida que trabalhamos na nossa vibração, somos capazes de liderar pelo exemplo. (3)

É importante que as famílias, as escolas e as sociedade gerem um ambiente que promova respeito pela diversidade, criando um espaço seguro para que todas as crianças possam expressar quem são. Trabalhar na auto-consciência é a chave para que as crianças se tornem adultos conscientes, usando ferramentas como meditação ou mindfulness para ajudar estes jovens seres a conectarem-se com a sua essência e promoverem hábitos mentais saudáveis.

Estes métodos podem e devem ser usados connosco próprios para nos permitir re-aprender novos padrões de pensamento de forma a estarmos vibracionalmente em linha com a solução em vez de continuarmos a repetir o problema. A longo prazo, esta abordagem também acabará por mitigar a discrepância social, promovendo a criação de sociedades mais focadas na cooperação e na paz, onde todas as vidas humanas importam.

“Decidi ficar-me pelo amor. O ódio é um grande fardo a carregar.”

– Martin Luther King Jr.

(1) — The Biology of Belief by Bruce Lipton

(2) — Money Isn’t The Problem: You Are by Dain Heer and Gary M. Douglas

(3) — Letting Go: The Pathway of Surrender by David R. Hawkins

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