Pelas “épocas” da pandemia muito se falou de solidão. A sociedade estava muito atenta à possibilidade que, sobretudo os idosos, mas também outras pessoas que vivessem sozinhas, poderiam sentir.

O que não costuma ser dito (e, entretanto, também já ninguém fala de que vive sozinho) é que a solidão é um problema pré e pós-pandemia, que chega a todas as idades e estratos sociais. A solidão é um problema social e também cultural, já que culturas mais individualistas podem reforçar esta tendência para o isolamento e consequente solidão.

Solidão é um conceito que pode representar muitas coisas, mas habitualmente, quando alguém nos confessa que sente solidão, esta associa-se a sentimentos dolorosos e ou até abandónicos.

Já foi, ou é, algumas destas pessoas? Provavelmente, sim. A esse sentimento duradouro de solidão podem estar associados muitos fatores, como por exemplo, dificuldades na interação com os outros ou uma infância solitária, e pode gerar grande angústia em tarefas rotineiras simples, como ir ao supermercado.

O sentimento de solidão parte, entre outras coisas, da comparação que fazemos com outras pessoas e a sua vida social, com diferentes fases de vida. Diga-se de passagem, que as redes sociais fomentam muito estes sentimentos, porque permitem um acesso imediato à vida que outras pessoas, algumas de realidades tão diferentes, escolhem publicar sobre si. Isto pode alimentar as nossas expectativas acerca do que “deveria”, do que “era suposto” que fosse a nossa vida, frustrando-nos e, eventualmente, entristecendo-nos.

O outro lado da solidão

Os efeitos positivos da solidão? Ninguém fala deles? Existem e notá-los depende também desta comparação, ou melhor, da capacidade de colocarmos a tendência para a comparação em suspenso. Se nos focarmo-nos em nós e no nosso momento, a frustração e o abatimento que a solidão pode trazer podem reduzir-se. A solidão também é espaço e pensar nela como uma oportunidade de escolher como o preencher também é uma opção para melhorar o bem-estar.

Esse espaço pode ser preenchido pela curiosidade e pela constatação de que na solidão nem tudo é arriscado ou perigoso. Permite também planear “visitas de estudo” ao mundo fora de nós próprios e das nossas ideias e perspetivas limitadas. Permite também pensar sobre os sentimentos de não-pertença e desintegração, que a solidão faz sentir e abrirmo-nos à possibilidade de melhorarmos a nossa forma de estar com os outros.

Dizia uma certa avó que “a solidão é um ninho” e eis senão quando descobri que esta frase vem de um provérbio curdo:  “a solidão é um ninho para os pensamentos”. Ela pode ser, de facto, um espaço muito pequenino, onde não cabe mais nada ou mais ninguém. Contudo, a solidão pode também ser um ninho, enquanto espaço que aconchega a vida, até que esta esteja preparada para conquistar o mundo.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico

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Diana Cruz
Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar Leitora Compulsiva e apaixonada pela escrita, vejo na conjugação da minha profissão e destas paixões, a união perfeita de diferentes mundos.

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