A Pintura Rupestre de um Óscar da Comunicação Social

Nesta última semana, o Governo de Passos Coelho esteve debaixo de fogo, com o Primeiro-Ministro, a Ministra da Justiça e o Ministro da Educação a serem o centro das atenções, tal como falámos aqui. Enquanto isso, o Ébola chegou a novos países, aumentando o pânico sobre esta epidemia, como o Leonardo Mansinhos referiu na sua crónica, e António Costa celebrou a sua vitória frente a um António Seguro que nunca convenceu e que, pelos seus próprios pés, conseguiu sair pela porta pequena da política. Com a política a ganhar tanto destaque na comunicação social portuguesa, quais foram os In’s, os Out’s e as Curiosidades que ficaram por contar?

Aqui ficam as minhas selecções…

Destaque

Malala Yousafzai disse uma vez: “Nós só nos apercebemos da importância das nossas vozes, quando somos silenciados. Dispararam contra mim numa Terça à hora do almoço, uma bala, uma arma que foi ouvida em todo o mundo.”

Dois anos e um dia depois da tentativa de assassinado à sua vida pelos Talibã, este mesmo tiro continua a ser ouvido pelo Comité do Nobel que anunciou que a jovem paquistanesa de 17 anos seria uma das vencedoras do Nobel da Paz deste ano, tornando-se na vencedora mais nova de sempre. Quando o anúncio ocorreu, estava numa aula de Química no liceu de Edgbaston, em Birmingham, um local muito diferente da cidade rodeada de Mingora, onde nasceu, onde começou a sua campanha de luta pelo direito à Educação e onde quase morreu a 9 de Outubro de 2012. Malala, cujo nome actualmente é reconhecido em quase todo o mundo, irá partilhar o seu prémio com Kailash Satyarthi, um indiano de 60 anos que tem lutado pelos direitos das crianças no seu país, sendo que ambos foram honrados pela “sua luta contra a repressão de crianças e dos jovens.”

A luta de Malala, observou o Comité do Nobel, tem sido feita “sob circunstâncias muito perigosas”, o que a coloca lado a lado com anteriores premiados, como Nelson Mandela, Martin Luther King e Aung Suu Kyi. O prémio, referiu a jovem paquistanesa, “é para todas as crianças que não têm voz e cujas vozes necessitam de ser ouvidas.” Para ela, este prémio é uma grande motivação para continuar a sua luta pelos direitos iguais de Educação. “Senti-me mais poderosa e mais corajosa, porque este prémio não é apenas uma peça de metal, ou uma medalha que se pode usar, ou uma estátua que colocamos na nossa sala de estar. Isto é motivador para continuar o meu caminho.”

Desde os seus 11 anos que tem feito campanha pelo direito das raparigas à Educação no Paquistão, dando entrevistas na televisão e sendo a personagem principal e sendo a inspiração de um documentário em 2009. Com o seu pai como seu conselheiro, escreveu um diário sobre a sua vida sob o governo Talibã, que foi transformado num programa de rádio que passou na BBC Urdu, entre Janeiro e Marco de 2009.

Usando o pseudónimo Gul Makai, o nome de uma heroína de um mito do seu país, Malala expressou apaixonadamente o seu desejo de continuar a sua educação e documentou o medo que partilhava com as suas amigas de se transformarem em alvos das milícias e de como iam para a escola com roupas normais, em vez do uniforme escolar, para não chamarem a atenção de quem não devem. Em 2011, foi nomeada para um prémio internacional atribuído a crianças pela KidsRights Foundation. Era apenas uma das raparigas mais inteligentes da escola, sonhando em ser uma médica, quando fosse grande, e decorando as suas mãos com pinturas de cálculos matemáticos e formulas químicas. Porém, a 9 de Outubro de 2012, um talibã mascarado abordou o veículo que levava os alunos para a escola, perguntou por ela, apontou-lhe uma arma e disparou a uma curta distância. A bala falhou por pouco o seu cérebro, atravessando a parte de trás do seu olho esquerdo, descendo pelo seu maxilar e ficando presa no seu pescoço.

Inicialmente tratada por neurocirurgiões num hospital militar no Paquistão, Malala acabou por ser transportada para a Grã-Bretanha para ser tratada no hospital Queen Elizabeth, em Birmingham, uma cidade que acabou por adoptá-la e à sua família. Apesar das várias operações a que foi sujeita, continua com algumas mazelas, que não reduziram a sua maneira de ser. “Não importa se não consigo sorri, ou piscar os olhos correctamente. Continua a ser a mesma pessoa, a Malala. O que é importante é que Deus deu-me a minha vida”, disse uma vez à sua mãe.

A morar agora na Grã-Bretanha, tem continuado a sua luta, encontrando-se com Barack Obama, sendo nomeada pela revista TIME como uma das 100 pessoas mais influentes do ano, lançando um livro de memórias intitulado I am Malala e discursando nas Nações Unidas, no seu décimo sexto aniversário, onde disse que “uma criança, um professor, um livro, uma caneta podem mudar o mundo.” De entre os prémios que ganhou, é possível destacar o Prémio Sakharov, atribuído pelo Parlamento Europeu para premiar a liberdade de pensamento, e no ano passado as Nações Unidas declararam o 12 de Julho, o seu aniversário, o Dia Internacional da Malala, como forma de celebrar a sua luta pelo direito das crianças a receberem uma educação.

Entretanto, abandonou a sua ambição de seguir a via da medicina, preferindo agora tornar-se numa política, mas uma “boa política”. Com tudo o que acalçou com a sua tenra idade, tenho a certeza que irá conseguir alcançar tudo o que quiser na vida.

Fava

“Durante sete anos, às quartas-feiras, publiquei no Diário de Notícias, a convite expresso de João Marcelino, uma crítica de costumes e hábitos. Foram sete anos excelentes, de trabalho entendido como tal, e de uma estima comum que se converteu em amizade.” Foram com estas palavras que Baptista Bastos se despediu da sua crónica semanal no jornal Diário de Notícias, depois de ter sido despedido deste meio de informação nacional.

A reafirmação da sua lucidez e recusa em ser “voz do dono”, do seu modo de estar e intervir, constituiu a sua “despedida”. Baptista Bastos é um homem de coluna direita, mente livre, voz aberta, mas é também aquilo que numa empresa se designa por um bom activo. Um activo numa empresa é algo que faz parte dos seus bens, do seu património, que tem valor. E, se for um bom activo, não apenas tem o seu valor intrínseco como gera mais valor. Um jornalista atrás de quem os leitores vão, é um bom activo.

O DN deitou fora o Baptista Bastos não percebendo que está a deitar fora o bebé com a água do banho. Baptista Bastos é dos poucos e grandes jornalistas, é daqueles que deveria ficar num jornal até ao fim dos seus dias para que os outros aprendessem com ele. Deveria ensinar aos mais novos a qualidade da escrita, a isenção, a frontalidade, a probidade, a honradez. O afastamento de Baptista-Bastos do espaço de opinião do DN é também um (apenas mais um) acto mais da trágica farsa que estamos a viver, porque ele não é apenas uma voz lucidamente crítica, que se exprime num português, é, também e sobretudo, uma voz que nunca se calou perante a indignidade. É uma voz livre – e as vozes livres incomodam muito os medíocres e os serviçais.

Um excerto da sua última crónica diz o seguinte: “Fui posto fora, mas não das palavras. Vou com elas, velhas amantes, para aonde haja um jornal que as queira e admita a indignação e a cólera como elementos de afecto, e sinais de esperança, de coragem e de tenacidade. (…) Apenas relato, não lamurio. Mas não posso calar o que me parece um acto absurdo, somente justificado pelas ascensões de novos poderes. Porém, esses novos poderes são, eles próprios, transitórios pela natureza das suas mediocridades e pelo oportunismo das suas evidências.

As palavras, meus dilectos, nunca são uma memória a fundo perdido. A pátria está um pouco exausta de tanta vilania, mas não soçobra porque há quem não queira. Se me aceitarem, estou entre esses.”

Claro que, hoje em dia, um jornal com as dimensões do histórico Diário de Notícias só pode sobreviver tendo atrás de si uma estrutura financeira sólida. O problema é que, cada vez mais, essa estrutura financeira é dirigida por quem olha para um jornal, não como uma produto cultural que pode garantir o prestígio do próprio proprietário, que era muitas vezes um grande capitalista culto, interessado pelo “produto” jornalístico, mas por gente anónima, inculta, a nadar em dinheiro, que vê no jornal apenas mais uma mercadoria a rentabilizar, a usar para fazer propaganda ao seu modelo de sociedade e favores ao poder político, que lhe pode garantir os negócios e o lucro.

Longe vai o tempo em que um jornal era fundado e mantido por gente que tinha paixão pelo jornalismo. Hoje qualquer pequeno jornal, para sobreviver, tem de ter atrás de si uma estrutura financeira controlada por accionistas, que apenas olham para os lucros e as audiências, ávidos de prestigio e lucro fácil, a maioria dos quais desconhecendo o que é um jornal, muitos sem hábitos de leitura jornalística, ou literária. Por isso, é natural que, quando esses interesses financeiros nos lançam na autêntica guerra civil social em que vivemos, se procurem livrar rapidamente de vozes incómodas. Foi o que aconteceu agora com Baptista Bastos, despedido sem apelo, nem agravo das páginas do Diário de Notícias, onde mantinha uma das mais lucidas crónicas de opinião.

Aliás, Baptista Bastos faz igualmente parte de uma geração de cronistas de imprensa que está em vias de extinção, substituídos por “comentadores” e “opinion makers“, que têm como principal tarefa isso mesmo – levar-nos e “lavar-nos” a aceitar as decisões de um pensamento único dominante. Este jornalista é talvez o último grande cronista dessa geração de gente culta, informada, de espírito crítico e livre, incorruptiveis, que não se venderam aos modismos dominantes, combativos e corajosos, de que faziam parte outros brilhantes jornalistas que, noutros tempos, frequentavam as páginas do Diário de Lisboa, do República, de A Capital, ou do Diário Popular. Talvez não por acaso, já todos desaparecidos na voragem do final do século passado.

Momento

Quando a Julia Roberts te está a repreender, é bom que ouças. Porém, se não achas isso suficientemente intimidante, então, que tal ouvires o Harrison Ford a ralhar contigo sobre a sobrevivência da raça humana? Continua a não ser o suficiente? Bem, talvez o sarcasmo de Kevin Spacey consiga pôr-te na linha. Os três têm usado a sua voz, sem parecerem vítimas da sociedade, para passarem uma mensagem sobre o estado do nosso planeta.

Na nova campanha publicitária “Nature is Speaking”, a lenda da publicidade da Apple, Lee Clow, e a TBWA/Media Arts Lab decidiram associar determinadas celebridades a determinados elementos naturais para passar a grande mensagem que a Natureza não necessita tanto de nós, como nós dela. É uma mensagem que se pretende que seja capaz de terminar com a barreira que foi elevada em torno dos assuntos ambientais, já que a ideia, segundo os criadores da campanha, de que conseguimos arranjar a Natureza é um pouco absurda. No entanto, a ideia de que todos nós necessitamos desesperadamente da natureza e que devemos ser os melhores inquilinos deste planeta, para que ele não se vire contra nós, é um ideal mais democrático e inclusivo. “É o exacto oposto de Direita contra Esquerda, Corporações contra Ecologistas. Isto refere-se à Raça Humana a lutar contra a Extinção”, disse Lee Clow.

Enquanto esta campanha ambientalista conquista o seu espaço na televisão, existem outras campanhas que também servem para nos alertar sobre questões sociais e ambientais que deviam preocupar-nos a todos. Aqui ficam 5 exemplos.

The National Women’s Law Center “Sarah Silverman closes the Gap

Objectivo: Para sensibilizar e angariar dinheiro para o projecto The Equal Pay, a comediante Sarah Silverman faz tudo o que pode para conseguir ter a mesma remuneração que um homem tem.

Quem: The National Women’s Law Center, Droga5 New York

Porque é que nos Importamos: a Sarah Silverman tem um certo jeito para reduzir problemas sérios a verdades fundamentais, que, por acaso, conseguem fazer-te rir sem parar. O pedido de ajuda com a contribuição para a maior angariação de fundos dos Estados Unidos da América (29 mil milhões de dólares) pode parecer um pouco enfadonho, ou pior, aborrecido. No entanto, a actriz não é nenhuma dessas coisas e esta causa brilha mais por sua causa.

Conservation International “Nature is Speaking

Objectivo: Celebridades como Harrison Ford, Julia Roberts, Ed Norton, Kevin Spacey, entre outras, transformam-se em elementos da Natureza para nos lembrarem que nós precisamos mais dela, do que ela precisa de nós.

Quem: Conservation International, TBWA/Media Arts Lab

Porque é que nos Importamos: Um olhar diferente numa questão já antiga. Ao inverter a questão, fazendo-nos fazer escolher entre a nossa (e não a da Natureza) destruição, ou sobrevivência, esta campanha consegue terminar com a barreira criada em torno das discussões e das acções que envolvem o ambiente.

Plan Norway “Stop the Wedding

Objectivo: Uma campanha envolvente e chocante, que usa uma inesperada actriz loira para criar sensibilização para as 39 000 raparigas menor de idade, que por todo o mundo são forçadas a casar.

Quem: Plan Norway

Porque é que nos Importamos: Tal como outros vídeos, esta campanha pretende alertar para os direitos das crianças recorrendo ao infeliz facto de que algumas pessoas prestam mais atenção a determinadas injustiças, quando a vítima é parecida com elas, e conseguem colocar as consequências desta trágica problemática em perspectiva.

Rock the Vote “#carelikecrazy

Objectivo: Como estão a chegar a época de eleições nos Estados Unidos da América, esta nova campanha pretende ir a extremos para convencer os mais jovens de que vale a pena dispensar um pouco do seu tempo para ir votar.

Quem: Rock the Vote, Goodby Silverstein & Partners New York

Porque é que nos Importamos: Quem melhor para convencer 77% da população jovem que não planeia ir votar que deve ir à mesa de voto do que outras pessoas que podem votar e que não querem um conjunto de crianças a chorarem, por causa dos seus empréstimos de estudante, a estragarem os seus negócios, ou que não conseguem compreender a importância da solução das questões ambientais? Pois, foi o que eu pensei.

BBC Music “God Only Knows”

Objectivo: Pharrell, Elton John, Lorde, Stevie Wonder, One Direction, Jake Bugg e um coro de estrelas da música do tamanho dos que se costumam compor para cantar “We Are the World” colaboram para criar covers de músicas dos Beach Boys, numa tentativa de promover a nova programação do BBC Music.

Quem: BBC Music, Agency Karmarama

Porque é que nos Importamos: O que posso dizer? Adoro colaborações que pretendem reinventar a música contemporânea, principalmente se reunir um grande número de músicos.

Curiosidade

Foram descobertas pinturas rupestres de animais selvagens e de mãos feitas por adultos e crianças em paredes de grutas na Indonésia, que têm pelo menos 35 000 anos, fazendo delas a arte mais antiga do mundo. Estas pinturas foram originalmente descobertas numa das Grandes Ilhas da Sonda, a Celebes, em 1950, mas os arqueólogos da altura consideraram que teria menos de 10 000 anos, porque pensavam que as pinturas antigas não conseguiam sobreviver ao clima tropical. No entanto, uma análise leva a cabo recentemente por uma equipa australiana deixou-os admirados por uma das mãos desenhadas nas paredes teria pelo menos 39 900 anos e duas pinturas de animais terão, no mínimo, entre 35 400 e 35 700 anos.

Os trabalhos desenvolvidos revelaram que não foi só na Europa que ocorreu a explosão criativa, com a chegada dos humanos que vieram de África, os primeiros colonos africanos a chegarem à Ásia também estavam a criar as suas obras artísticas ao mesmo tempo, ou, possivelmente, mais cedo. Apesar dos arqueólogos ainda não refutaram a ideia de que os dois grupos diferentes de colonos humanos desenvolveu as capacidades artísticas de forma independente, a hipótese mais forte admite que os seus ancestrais já tinham desenvolvido capacidades artísticas ainda antes de terem abandonado África. “As nossas descobertas em Celebes demonstram que a arte rupestre começou a ser criada em pontos opostos do continente euro-asiático e aproximadamente ao mesmo tempo. O que sugere que estas práticas têm origens mais profundas, talvez em África, antes da nossa espécie ter começado a povoar o resto do mundo”, afirma o Dr. Maxime Aubert, um arqueólogo da Universidade de Wollongong.

É comum encontrar com este tipo de arte marcas de mão que deverão ter sido feitas com o lançamento de tinta através da boca sobre uma mão. O resultado, um stencil de uma mão (o movimento oposto a colocar as mãos em tinta para pintar) era encarado como uma assinatura pessoal na parede da caverna. Ainda é um mistério o significado que estes stencil significam para os artistas pré-históricos desta área do globo e o que os motivava a criá-los em tanta quantidade, sendo possível encontrar na ilha doze mãos pintadas e duas figuras de animais, em sete cavernas diferentes.

Para os investigadores, as pinturas dos animais selvagens são fascinantes, porque é claro que estes humanos tinham um interesse especial por eles, sendo possível haver uma adoração especial pelos mamíferos que se desenvolveram isolados do resto mundo, nesta ilha que já foi considerada o Madagáscar da Indonésia.

Boas leituras, Leitores Sombra.

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