Pronunciar palavras como pandemia, confinamento ou COVID-19 arranha-nos a mente.
Esta reviravolta ficará cravada em cada um de nós pelos mais variados motivos.
Embora o sentimento seja predominantemente negativo esta mudança trouxe, pelo menos, algo positivo: mostrou quem vale a pena ter na nossa vida ou deve ser dispensado.
O confinamento foi o crivo das amizades e das relações em geral. Só se aguentaram as verdadeiras perante a impossibilidade de socialização.
Felizmente, na era tecnológica que vivemos, os contactos mantiveram-se à distância —realidade diferente para muitos que continuaram a pisar as regras impostas. A situação não era o ideal, mas o possível perante as circunstâncias.
Entre regras respeitadas e outras quebradas, o tempo foi suficiente para desgastar e revelar as relações sólidas e frutíferas.
Fortaleceram-se amizades verdadeiras e desmoronaram-se outras tantas.
O teletrabalho trouxe truques na manga: colocou relações à prova. Chegaram os divórcios de casais separados pelas rotinas e falta de tempo; e fortaleceu outros tantos perdidos na correria do dia-a-dia — o aumento da taxa de natalidade falou por si. Então, as amizades que eram afinal só «amizades»? O que lhes aconteceu?
Provavelmente estavam assentes nos alicerces errados ou eram relações de sentido único — só um lado se mantinha activo.
Esta triagem nas relações que mantemos deu-nos certezas de quem está ali para nós e quem está apenas por algum interesse (que desconhecemos).
Confesso que mesmo em época pré-covid estranhava certas relações, quer fossem de amizade, namoro ou casamento.
Assisti, inúmeras vezes, a esplanadas cheias onde se podiam ouvir as moscas. A maioria das pessoas estava entretida a deambular por qualquer coisa que lhes pregava os olhos aos «animais de estimação electrónicos» — vulgarmente conhecidos como telemóveis ou smartphones.
Uma mesa separava várias pessoas onde a comunicação era zero. Onde andava o burburinho típico de esplanadas cheias de vida? Ou seriam apenas relações de conveniência?
Em plena pandemia, em que os ajuntamentos eram desaconselhados observei as mesmas esplanadas e o burburinho regressou. E, nessa altura sim, quis acreditar que os verdadeiros se juntavam, contra regras porque o que os ligava era mais forte.
É confuso o que passa na cabeça do ser humano.
De tanta incerteza que me inunda, depois de dois anos de pandemia em que as agulhas se continuam a acertar, estou certa que tudo o que era verdadeiro tremeu, mas fortaleceu. O que não era para ser seguiu o seu rumo natural.
Nem tudo foi mau: aprender a valorizar as coisas simples da vida é das lições mais duras, mas mais belas que podemos receber. Só privados do amor, da presença, do abraço, da liberdade conseguimos perceber o quão egoísta, por vezes, somos.