Quando os media em nossas casas trazem-nos, todos os dias, um relato noticioso, tomamos aquilo, muitas vezes, como a única realidade sobre o que é Portugal e, ultimamente, as notícias não têm sido as melhores: crise, desemprego, emigração, agora eleições, debate sobre estes mesmos temas. Ou seja, poucos minutos dos telejornais, ou das páginas de jornais são preenchidos com notícias boas. Não disse que não há, mas que são poucas e talvez tão poucas que passam despercebidas.
Contudo, vale a pena reparar nelas. Vale a pena reparar, porque são os pormenores, pormenores do dia-a-dia, que fazem do país um país melhor. Portugal dispõe de dez milhões de pessoas que fazem no seu dia-a-dia coisas das quais nos podemos orgulhar. Para além de Cristiano Ronaldo no futebol, ou Daniela Ruah no pequeno ecrã, que são conhecidos tanto aqui dentro, como fora do país, todos dão o seu contributo. Foi com este contributo de todos que a cidade de Lisboa foi eleita, em 2014 como uma das melhores cidade do mundo pela sua qualidade de vida, ou há dois anos, como uma das melhores cidades do mundo para tomar café para o jornal USA Today. Segundo o jornal, “a combinação irresistível de uma cultura do café e uma fantástica chávena de café podem fazer isso a uma pessoa”, mas também que “as pessoas ficam seriamente poéticas com o café em Lisboa”.
Para além do café, existem ainda muitas mais coisas, a começar pela gastronomia, cultura, festivais, bom tempo e lugares que valem a pena conhecer. Que podem e talvez, arrisco-me a dizer, devem ser dados a conhecer fora das fronteiras. Com o começo da crise, se calhar para conquistar novos mercados, as pessoas fazem cada vez mais isso – tentam mostrar que o que têm é de facto bom.
Um exemplo disso foi um vídeo promocional da cidade de Lisboa que foi transmitido em 14 países e que custou mais de um milhão de euros. Este spot foi um dos principais responsáveis pelo “boom” de turistas em Lisboa, segundo o site de notícias Observador. O turismo foi um dos factores onde, nos últimos dois anos, apostou-se mais e, ainda segundo este mesmo site, foram as apostas nestas campanhas que foram determinantes para que Lisboa passasse a ser uma “cidade conhecida e frequentemente citada na imprensa estrangeira, de acordo com o Turismo de Lisboa”.
Quanto ao cinema português, estes dois anos também não tem corrido nada mal. Gaiola Dourada por exemplo, o filme que estreou em França no mês de Abril, atraiu na primeira semana mais de 300 mil espetadores neste país e, em Portugal, foi o filme mais visto de 2013, ultrapassando Velocidade Furiosa 6, que estreou no mesmo ano. Sete Pecados Rurais é outro filme muito conhecido nas salas de cinema no país. No entanto, para além destes que são mais destacados, várias longas-metragens foram realizadas e que valem a pena conhecer: Bairro, Quarta Divisão e Balas & Bolinhos – O Último Capítulo são só alguns deles.
Não nos podemos esquecer dos Festivais de Verão, que trazem cada vez mais bandas conhecidas ao país e que dão a oportunidade a milhares de jovens de viver alguns dias inesquecíveis, conjugando música, amizade e divertimento.
A Gastronomia variada do país também, muitas vezes negligenciada por aqueles que vivem no país, ganha destaque entre os turistas. Talvez, por isso, que José Borralho, presidente da Associação Portuguesa de Turismo de Culinária e Economia, investiu, no ano passado, meio milhão de euros, para impulsionar a economia local e a cultura gastronómica.
Tantas coisas para apreciar e conquistar. Conquistar o que está ao nosso lado, mas muitas vezes invisível. Podemos falar de um problema cultural, achar que o que é nacional é pior, mas penso que são vários os países que passam pelo mesmo, mas pensem o quão orgulhosos ficam, quando uma pessoa de outro país fala de Cristiano Ronaldo e pensam, ou talvez até digam, que é português. Qual a razão, então, de desprezar as coisas boas que podem ser também apreciadas tanto pelos que vêm visitar o país, como pelos que vivem aqui?
Acho que, nos últimos dois anos, este sentimento, movido talvez pela situação económica que se vive e pelo sentimento de apoio pelos que têm que sair do país para conseguir sobreviver, deixa-nos mais críticos face a tudo o que é nacional. No entanto, sejamos críticos no bom sentido e, em vez de criticar logo pela negativa, tentar primeiro conhecer o que faz de nós portugueses únicos.
Voltando ao meu ponto inicial, onde afirmo que o país fica, ou torna-nos mais ricos, não falo das constantes avaliações económicas que dizem que o país esta a melhorar, falo duma riqueza proporcionada por coisas não materiais, mas de uma riqueza cultural e social que não devemos deixar de lado.