Aprender a perder

No ciclo de vida – nascemos, vivemos e morremos.

Aceitamos com naturalidade e compaixão o nascer e o viver mas lidamos muito mal com a morte. Sobre a nossa morte, não queremos nem saber nem ouvir falar dela. A morte dos que amamos não devemos sequer equacioná-la! O inevitável chega para todos nós, é o que é. Supõem-se que não teremos nada a lamentar se tivermos uma boa vida ou se chegarmos a velhinhos, no entanto, o desfecho será sempre triste em qualquer circunstância porque são ausências difíceis de superar e deixam saudades. Não é o mesmo quando alguém emigra para longe: podemos sempre pegar num telefone, enviar um e-mail ou apanharmos um avião e ir até lá…

Outro dia vi um vídeo da Cissa Guimarães (atriz brasileira) que falava como lidava com a morte do filho mais novo. Dizia que criou uma realidade para ela em que se reajustou, assumindo que não perdeu mas ganhou. Ganhou um filho no dia em que ele nasceu e nos 18 anos em que ele viveu, teve a bênção de tê-lo durante 18 anos. É uma perspetiva reconfortante, cada um de nós cria os mecanismos que necessita para superar a morte de alguém especial.

É o amar ao próximo que nos vai dando significado à vida. Aceitar que a morte é um passo natural da vida, não tem de ser um fardo pesado, é o que é. O tempo de vida que temos é para viver, amar, aproveitar ao máximo, os últimos tempos desejam-se pacíficos e de preferência sem sofrimento.

Não somos imortais, nada no mundo é.

Não temos de levar a morte de ânimo leve mas temos de saber aceitá-la. É natural e faz parte. As pessoas que amamos e que gostaríamos, tal como nós, vivessem para sempre devemos cuidar delas em quanto estivermos vivos e for possível fazê-lo. O que se faz, no decorrer da vida é o que conta. Por muito traumatizante ou até agonizante possam ser os últimos tempos de vida, os nossos ou os de quem amamos, são apenas uma etapa. Tudo o que se viveu é o que conta e faz a diferença.

Temos de saber perder, deixar ir e seguir em frente. Não é esquecer, talvez seja um pouco como fez a Cissa Guimarães, valorizar o que se viveu (mesmo que nos pareça um curto espaço de tempo e até injusta a morte) e sentirmo-nos abençoados por isso. Na realidade é mesmo uma bênção saber que amámos e fomos amados por alguém que nos marcou para sempre.

Fonte da Imagem: Tim Umphreys na Unsplash

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