Para quem gosta de vilas pitorescas e com uma certa frescura e cheiro a medieval e ainda bem histórico, Cuacos de Yuste é uma delícia para os olhos. Pertence ao distrito de La Vera e toda a zona é motivo de regozijo para a vista e para o espírito.
A arquitectura de cariz popular está muito bem preservada, mantendo toda a traça e provando que as zonas serranas também se conseguem ambientar a tudo o que for necessário. O rei da terra é o tabique e foi ele que acolheu famílias durante várias gerações.
As ruas são sinuosas e estreitas. Algumas são tão apertadas, dito acolhedoras, que um carro tem alguma dificuldade em passar sem deixar marca nas paredes, o que é parte desta beleza rara e pura.
Uma das vezes que a visitei tive de retirar as muitas bicicletas infantis e das outras, dos mais crescidos, estacionadas em sistema de ” deixa lá onde te apetece ” para continuar o caminho.
Ainda bem que o fiz, uma bênção, pois levou a uma outra descoberta, uma igreja, coberta de um tom terroso antigo, onde um padre rezava num dialecto local. A casa estava cheia e senti ali alguma religiosidade entranhada com duras memórias e pedidos.
O facto de ter uma Senhora que, chora sangue, supostamente, um mito que se perpetua com gosto, dá-lhe um calor muito pessoal e único. A Nossa Senhora da Assunção parou neste lugar tão rústico e encantador.
A Plaza Mayor, com as suas arcadas típicas, é o palco das festas de Agosto. Popular em toda a linha, ainda conserva lojas que vendem os seus produtos em pesetas, um truque para os mais velhos não perderem a noção do valor do dinheiro.
A avaliar pela montra, sugestivo a curiosa, o que comercializam, com sucesso, são restos de colecção anteriores ao aparecimento do euro, essa moeda que tudo mudou. É assim que faz parte do conjunto.
É aqui que está a Fuente de los Quatro Canos, um emblema da terra e que todos se orgulham manter. Conta a lenda que, mesmo em tempos de seca, nunca ali a água faltou. Confirmo que em Agosto bate certo.
Carlos V, o imperador, arquiduque e rei, passou aqui os últimos anos da sua vida, retirado no Mosteiro de Yuste, um edifício que parece ter saído de um filme e onde os frades que ainda o habitam, se comportam de forma regular.
Uma parte deste monumento é visitável e os religiosos, monges paulinos, ocupam um espaço muito peculiar, quase etéreo de tão belo que se mostra. Uma visita a este santuário é uma paragem no tempo, perde-se a noção de tempo, seja ela qual for.
As casas, de alvenaria e tabique, têm o adobe como revestimento, com colunas de madeira e base de granito. É esta a força de um povo, o que sabe aproveitar o que a natureza tem para oferecer. Assim se têm mantido, inalteradas.
Tudo aqui, neste pequeno grande mundo, uma delícia para os sentidos, esconde um outro segredo, a sua especialidade gastronómica que é, algo de vulgar, frango assado. Parece ser muito bom. É ver as filas para o comprar e sentir o cheiro que exala.
Consta que a Inquisição, um terrível tribunal religioso, tinha por hábito mandar queimar os pobres condenados, os ditos infiéis e essa parte, de tostar corpos, talvez seja o truque do sabor especial destas aves.
O Mosteiro, do século XV, teve a sua origem num pequeno eremitério. Fundado em 1408, passou a ser o local de reclusão de muitos homens, tal como o fez Carlos V. Seria uma tentativa de se redimir dos pecados cometidos no passado.
Este imponente cenóbio tem, curiosamente, dois claustros, um de origem gótica e outra renascentista. Sofreu grandiosas obras de remodelação para albergar pessoas de renome que o escolheram para passar os últimos anos das suas vidas. O tom e o ambiente aqui residentes, neste tão singular local paradisíaco, são um bálsamo para os sentidos e uma alegria estonteante para o espírito. Quem por aqui passa, fica com vontade de voltar.
Apelativa reportagem