O bom, o mau e The Black Mamba

Realizou-se no passado dia 6 de março a grande final do Festival da Canção e foi eleito o vencedor que nos irá representar em maio, nos Países Baixos.

Começo por dizer que o nível de talento e de diversidade foi bastante superior ao ano anterior. Como elo mais fraco da noite apontaria Fábia Maia, a Fábia foi uma artista que teve alguma projeção (e eu próprio conheci) a fazer covers acústicos de artistas do estilo Hip Hop, como Regula e Allen Halloween no Youtube, tem um tom bonito, mas com uma balada demasiado genérica e um cenário demasiado simplista não se distinguiu nem marcou a sua presença. Gosto do que o seu tom consegue oferecer a uma música e acho que o seu “dia lindo” ainda vai chegar.

De seguida, acho que Valéria mostrou ter uma boa voz para o fado, mas não ficarei “na mais profunda saudade” desta atuação.

Pedro Gonçalves, mais conhecido como “Pote” (brincadeira), apresentou talvez o som mais “catchy” da noite, mas, infelizmente o facto de ficar no ouvido não é por si só sinónimo de qualidade. Adorei a parte do saxofone, mas achei a música demasiado genérica tanto a nível de letra, como a nível de voz do artista. Ainda assim acho que seria das que teria melhor receção no festival.

EU.ClIDES com o seu “Volte-Face” esteve bem, foi um som completamente diferente de tudo o resto, uma sonoridade quase hipnotizante e que se destacou. O trabalho de câmara em que o artista fica “duplicado” resultou bem espelhando o título “Volte-Face”.

Sara Afonso também brilhou com a sua “Contramão”. Boa balada, boa voz e boa composição do Filipe Melo. Acho que pecou nesta composição foi a semelhança de estilo e voz com Carolina Deslandes, o que não seria um fator se esta não tivesse já um estilo bem mais conhecido e vincado anterior ao Festival e não estivesse também a participar nele.

The Black Mamba não me convenceu. Acho que a música é boa, mas, dentro do estilo da banda, acho que poderiam ter feito bem melhor e representado um pouco mais o Jazz, que é um dos estilos de origem da banda. A letra é bonita, a canção em si também, mas não achei que fosse a melhor da noite, acabando por vencer “passando nos pingos da chuva” da divergência do público e do júri.

Carolina Deslandes, a “famosa” deste ano, cantou na minha opinião, a melhor balada da noite. A sua voz é linda e já com provas mais que dadas. Ser bastante conhecida cria uma vantagem que pode ser considerada injusta, mas, ao mesmo tempo, acho que acabou por funcionar um pouco contra ela, porque, tendo sido uma música linda, não foi nada de diferente nem de superior a vários lançamentos que a cantora tem na sua carreira. Foi mesmo “por um triz” que não venceu.

Para mim, o Top 3 da noite foram:

  • Joana Alegre, com a sua “Joana do Mar”: acho que a música tem um estilo muito próprio e que encaixou na perfeição na voz única da cantora. A parte do refrão apresenta variações fantásticas que, arrisco dizer, teriam um grande impacto no Festival da Eurovisão, mesmo para quem não percebesse o que está a ser dito. Foi a surpresa da noite para mim.
  • Karetus & Romeu Bairros: tiveram a segunda melhor atuação da noite. Trouxeram uma mistura de sonoridades que funcionou na perfeição e fizeram o que Valéria não conseguiu fazer – injetar no estilo do fado uma dose de modernidade, sem perder a sua identidade. Melhor combinação de estilos, vozes e ritmos da noite.
  • Neev: para mim, a melhor interpretação da noite, com “Dancing In The Stars”, e a que acho que de facto seria uma potencial vencedora da Eurovisão. O cenário era perfeito, a música e voz a roçar a perfeição também, letra linda e que seria entendida por todos.

Agora que falei de todas as atuações, queria referir, para quem ainda estiver a ler, dois temas específicos que podem ter gerado polémica este ano: levarmos uma música cantada em Inglês e o (eterno) debate de votação público/júri.

Em relação a levarmos uma música em inglês, fico muito contente de, pela primeira vez, termos coragem de inovar e levar uma música que é cantada em inglês na íntegra (levamos já 2B e Nonstop a cantar parcialmente em inglês, que é uma coisa que detesto). É algo que de maneira alguma tira a identidade portuguesa, apenas torna mais transversal o que estamos a dizer. Não acho que deva ser superiorizada por ser estrangeira, mas é algo que os restantes países sempre fizeram e com bons resultados sem perder a identidade do país. Estamos a identificar música que se faz em Portugal e cada vez se faz mais música com esta vertente estrangeira por cá.

No que toca ao debate de votação público/júri, claro que o público vai sempre dizer que deveria só contar o público, porque era assim antes e porque quer que ganhe “o seu candidato”. Eu sempre fui a favor da vertente do júri e continuo a ser e, sendo muito sincero: não sendo 50/50 e só havendo um lado, preferia que fosse o do Júri. Como disse, a minha preferida da noite não foi ao Festival “por causa” do Júri, mas, ainda assim e tendo em conta o histórico, prefiro assim. Relembro como sempre que se tivesse sido só pelo público o Salvador Sobral não tinha ganho o Festival da Canção cá em Portugal. Por isso, enquanto não voltarmos a vencer o festival da Eurovisão, o argumento “devia ser o público só a escolher” poderá não ter validade.

Boa sorte The Black Mamba, acreditamos que  Luck Is On Your Side! Estamos todos a apoiar-vos!

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