Jupiter Ascending é o derradeiro desafio da carreira dos Wachowsky, uma vez que a dupla de realizadores não soma nenhum êxito desde a trilogia Matrix (excepto V for Vendetta, que fora uma produção da sua autoria). A sua credibilidade é quase um sinonimo de sobrevivência na tão competitiva indústria cinematográfica. Portanto, toda a gentesabe o que acontece aos “fracassados” em Hollywood, a ausência de projectos e financiamentos para estes são algumas das consequências da aquisição desse estatuto. Actualmente, os irmãos Wachowsky tem muito mais a perder do que ganhar com Jupiter Ascending, o orçamento de 170 milhões de dólares não contribui em nada para tornar o desafio mais facilitado, acentuando assim a pressão para esse mesmo êxito.
Inicialmente agendado para Verão de 2014, a obra foi adiada para inícios de 2015 com uma “esfarrapada” desculpa de aperfeiçoamento dos atributos de pós-produção. No entanto, o que realmente aconteceu foi que a Warner Bros temia mais um fiasco para o seu relatório, já que, muito antes da estreia de Jupiter, o estúdio encontrava-se perante uma “faca de dois gumes” que fora Transcendence, que, com um orçamento de 100 milhões, apenas conseguiu arrecadar em todo o Mundo e com dificuldade 103 milhões de dólares (um filme para ser considerado umêxito tem que render o dobro do orçamento, esse que não inclui os gastos de marketing). Visto que os trailers lançados, assim como outro material publicitário relacionado com Jupiter, não causavam motivação. Para além disso, o filme teria que competir com um peso-pesado do Verão de 2014 (Transformers) e o selo Wachowsky deixou há muito de ser atractivo. Assim, a Warner não teve mais nenhuma escolha do que estreá-lo um ano depois.
Contudo, até aí as suas decisões foram tudo menos acertadas, uma antestreia fria e descabida no Festival de Sundance, um festival dedicado a produções independentes (170 milhões não faz dele de certa forma independente) e o facto de estrear uma semana antes de um dos mais antecipados filmes do ano (Fifty Shades of Grey), impediram-no de brilhar na passagem comercial pelas salas. Sim, os Wachowsky podem ter encontrado por fim a sua ultima jazida nas grandes produções e os resultados actuais apontam mais um flop para a respectiva colecção. A questão aqui nãoé se o filme iria, ou não brilhar nas salas de cinema, mas simse iria salvar a carreira da dupla de cineastas, não apenas financeiramente, como também artisticamente. A resposta é… não!

Triste e talvez herege da minha parte insinuar que Jupiter Ascending poderá ser mesmo o pior da carreira destes, mais um objecto que ostenta o fascínio dos irmãos pelo artificialismo. Existe uma tendência de exagerar o conteúdo visual e outros requisitos técnicos, nomeadamente a caracterização dos seus personagens, aquele que havia sido o ponto mais insuportável de Cloud Atlas, esse épico falhado. Por outras palavras, é tudo o que poderíamos pedir num blockbuster com especial atenção às camadas mais jovens, muito barulho e pirotecnia, em conjunto com uma reciclagem dos elementos wachowskianos, em particular uma certa intenção de reavivar o êxito de Matrix. Vejamos, ambos os filmes revelam-nos uma profecia antiga no seio de uma realidade construída para ocultar uma verdade ainda maior, que, por sua vez, utiliza os seres humanos como peças de gado, criados e sustentados para um propósito apenas. Para impedir esta ameaça que reduz a Humanidade a nada, temos uma “escolhida” (the one), uma figura messiânica destinada a liderar um povo, mas antes de ser essa luz de esperança era um individuo vulgar que acreditava piamente na banalidade dos seus gestos. Para terminar este jogo de similaridades, a revelação deste “the one“, assim como o verdadeiro mundo em que vive é proclamado por um chefe de milícia (aqui um Sean Bean a ser Sean Bean, no Matrix é Laurence Fishburne a ser Morpheus).
Ou seja, Jupiter Ascending resume-se a uma fórmula, um auto-plágio, disfarçado com elementos de cientologia, ao mesmo tempo que se assume como um “space-opera” sério e fértil. Dois factores que o espectador não conseguirá encarar com tamanha precisão. A primeira parece satisfazer com a pouca profundidade, a pouca adesão às personagens e à narrativa e o segundo por apresentar elementos tão pirosos e pueris que chegamos mesmo a duvidar que foram tais sujeitos que na passagem do milénio concretizaram um dos filmes mais relembráveis e sofisticado do seu tempo. Se não fosse a qualidade dos efeitos visuais, diria que estávamos perante a um daqueles rip-offs turcos que se fazia nos anos 80.

Enquanto isso, as sequências de acção estão longe de apresentar a frescura e a sofisticação de outrora, aliás, o que vemos é a modelização dessa estética e o controlo total dos efeitos visuais e do slow motion exagerado e inútil. Além de tudo, é cansativo, hiperactivo e sem aparente razão. Quando o filme deste género falha até mesmo na acção é porque alguma coisa não está bem. Diria antes que Jupiter Ascending foi produzido à pressa, de forma a não prolongar o esquecimento dos Waschowsky. Em derivação disso, o desaproveitamento de algo mais astuto e “mind-blow“, que se poderia desencadear na imagem de Júpiter, o maior planeta do nosso sistema solar que já serviu de cenário para a fértil imaginação de Voltaire e Asimov. Contudo, o que temos é os mesmos cheques pagos e a imaturidade dos cineastas em abordar o material dado, basta só ver a forma como eles caracterizam as personagens russas, por vias de estereótipos farsantes.
É uma aventura gasta e descaradamente ridícula para converter num culto daqui a uns valentes anos. O elenco é automatizado, tendo como única excepção Eddie Redmayne, o elogiado Stephen Hawking de The Theory of Everythinga torna-se num trágico e demente vilão, porém, desaproveitado. O que nos resta é um primo mais requintado de Battlefield Earth. Sim, a comparação é mesmo com aquele infame filme cientológico, com John Travolta.
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