Reza a história do filme de David Fincher (A rede social) que em 2003 num momento de embriaguez e desilusão amorosa, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) recorre à base de dados da Universidade de Harvard e cria um site na Internet onde poderiam ser votadas todas as raparigas do campus. Baptizara-o de Facemash. Em pouco mais de duas horas, o sucesso é tal que arrasa o sistema interno da Universidade, gerando o caos e tornando-o ainda menos popular entre as estudantes… Mas é nesse preciso instante que nasce a ideia de criar o Facebook, a mais revolucionária rede social da história que se dissemina pelos quatro cantos do mundo, tornando o seu criador o jovem bilionário mais rico do mundo segundo a revista Forbes.
Em suma, é assim que é relatado o início da epopeia que viria a revolucionar a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Era o início do grande império chamado Facebook.
Mas retornemos ao longínquo ano de 2005. A rede social mais famosa do mundo era a rede social HI5. Tratava-se de uma rede social onde cada usuário tinha um perfil, com foto de perfil e onde podia fazer uma descrição de si próprio. O usuário sabia quais os usuários que visitavam o seu perfil e poderiam ver as suas fotos comentadas e comentar fotos de terceiros. Era o início de uma nova era de sociabilização digital. Até aí, a sociabilização digital era feita por mail e em salas de chat como o MIRC, MSN e Terra à Vista e outras salas de chat criadas com o intuito de conhecer pessoas novas para um eventual relacionamento futuro. Nunca as pessoas estiveram tão distantes e próximas de alguém ao mesmo tempo. Qualquer pessoa poderia escrutinar a vida de um conhecido ou desconhecido atrás do seu PC, já que na altura não haviam smartphones ou telemóveis androides. Poderia saber onde ela passou férias, quais os amigos em comum, ver fotos atrevidas dessa pessoa e comentar essas fotos. Surgira também a oportunidade de poder encontrar amigos de longa data que não se viam há muito tempo e entrar em contacto com essas pessoas, já que a rede social dispunha da opção para enviar mensagens privadas. Mas os bate-papo eram feitos na aplicação Messenger (MSN).
Mas a era do HI5 parecia ter os dias contados. Faltava-lhe algo. Havia um sentimento generalizado de que a rede social era incompleta e que era possível haver melhor. O mesmo se sentia em relação a outras redes sociais concorrentes como o Orkut. Lembro-me de numa conversa na viagem de autocarro para a Universidade ter dito a um amigo (que entendia muito de Informática) em 2008 que o HI5 iria passar de moda e que teria o seu declínio como a maioria das modas que conhecemos. Ele respondeu-me que isso era natural porque em breve iria aparecer uma rede social muito mais poderosa que o HI5, muito mais completa e atrativa.
Em 2010, o HI5 começa a perder força e a ser pulverizado pela rede social Facebook. O Facebook veio, com efeito, colmatar as lacunas do HI5. Os usuários poderiam ver no feed de notícias artigos de opinião, partilhas de memes e fotografias com a imagem ampliada, colocar likes em fotografias do seu agrado e obter uma avassaladora quantidade de informações sobre vários usuários numa pequena quantidade de segundos. O Facebook tratava-se de uma rede social de mais fácil utilização, mais simples, completa, prática e agradável sem perder as funcionalidades e pontos fortes do HI5. Era um verdadeiro blog e portefólio de fotografias em formato de rede social.O motor de pesquisa do Facebook era consideravelmente mais eficaz que o motor de pesquisa do HI5.
Passados quase 10 anos, o Facebook é a rede mãe de todas as redes sociais. Nem o advento do Instagram, a melhor rede social ao nível da qualidade das fotografias, veio abanar a hegemonia do Facebook. Antes surgem interligadas. O Instagram foi adquirido pelo Facebook e é uma rede complementar. Ninguém deixou de ter conta de Facebook por causa do Instagram. Mas o HI5 foi condenado ao exílio e ao ostracismo por causa do Facebook.
Mas vejamos o que foi o legado do Facebook em quinze anos de existência. Os seus aspectos negativos e positivos. O que mudou para melhor e pior.
O Facebook tem um impacto tremendo a nível mundial. Mudou radicalmente a vida das pessoas. Hoje tudo se sabe. Ninguém fica 10 anos sem saber o paradeiro de uma pessoa como acontecia antes, mesmo não havendo interação com essa pessoa. Qualquer pessoa é contactável a qualquer momento estando longe ou perto. É possível manter a proximidade apesar da distância. As pessoas só não contactam entre si se não quiserem. Através da rede social é mais fácil dar-se a conhecer ao mundo e conhecer pessoas novas e oportunidades de trabalho novas do que antes. As facilidades de comunicação aumentaram exponencialmente. Não é preciso enviar cartas ou gastar rios de dinheiro em telefonemas se a pessoa destinatária se encontrar num país longínquo. A comunicação é mais fácil de estabelecer e temos a possibilidade de partilhar as nossas ideias sobre as mais diversas temáticas em todo o mundo e conhecer pessoas que partilham as mesmas áreas de interesse. O Facebook é um blog aberto de discussão e de partilha livre de opiniões. Tem um pendor marcadamente democrático e isso é de louvar.
Contudo, o que levou Miguel Sousa Tavares a dizer que o Facebook é a maior ameaça do século XXI? A meu ver, o Facebook veio restringir as relações humanas e aumentar a dependência de muitas pessoas ao Smartphone. Muitas pessoas preferem interagir com o Facebook no seu smartphone do que com pessoas em contexto social. Abusam da curiosidade de estarem atentas à vida de outras pessoas. Podem ficar invejosas e tristes se virem fotografias de um amigo num país exótico e tropical. A pessoa que partilha demasiada informação sobre si pode ser alvo de comentários desagradáveis e inesperados. Outras abusam do narcisismo e vivem para colocar fotografias suas nas redes sociais e receberem gratificação emocional com os likes e comentários favoráveis e que massageam o ego. Ficam dependentes de uma rotina nada saudável e não tiram férias da rede social que, por vezes, de social tem muito pouco. Vivem absorvidos pelo vício crónico de estarem todos os dias dependentes do Facebook. Para quem não rege a conduta pelo equilíbrio o Facebook constitui um vicio nocivo que desvia as pessoas do mais importante e as iludem permanentemente.
Pessoalmente, não sou um crítico atroz nem defensor acérrimo do Facebook. Há aspectos positivos que gosto e aspectos negativos que não gosto. Por isso, há dias em que gosto de dar a minha opinião e outros em que me quero afastar. Não quero desgastar ninguém nem ser desgastado por causa das redes sociais. Pauto a minha conduta nas redes sociais pelo equilíbrio e moderação. Não pretendo ser um caçador de likes e depender emocionalmente disso.
Penso que deve haver equilíbrio e bom senso na utilização das redes sociais. É bom marcarmos a nossa posição e darmos as nossas opiniões. Demonstrarmos as nossas ideias e pensamentos, os nossos valores e ideais para que nos conheçam, mas não nos focarmos só nisso porque o melhor da vida encontra-se fora das redes sociais. O Facebook é um complemento da vida real e não uma alternativa à vida real. Nem pode ser motivo de inveja e afastamento entre as pessoas. Devemos também respeitar o direito de expressão de outras pessoas. Quem bloqueia ou remove a amizade de outra pessoa é porque não gosta ou suporta a outra pessoa.
Para finalizar, concordo com o post de um amigo meu: “O Facebook não deixa de ser um excelente barómetro do carácter das pessoas.” E eu concordo porque pelas suas atitudes e comportamentos, pelo que dizem e não dizem, conseguimos perceber muito daquilo que elas são e não revelam na vida real. E o Facebook veio com a finalidade de unir as pessoas mas nem sempre isso acontece pois o Facebook também veio acentuar a competição, a rivalidade, o vício e o isolamento. Mas isso depende da personalidade de cada um. O Facebook mudou o mundo, porque na minha perspectiva, veio mudar a forma de comunicar e interagir humana e dar bases privilegiadas para compreender o comportamento humano que nem sempre a vida real permite compreender. E concordo com Mark Zuckerberg:
“O Facebook não foi apenas criar uma empresa. Muitas pessoas interpretam mal, como se eu não me importasse com a receita ou com o lucro. Mas não ser apenas uma empresa para mim, significa construir algo que realmente faz uma grande mudança no mundo.”