Não Matem a Cotovia

  • Vi o filme;
  • Anos mais tarde li o livro;
  • Repeti o livro, já como o meu favorito;
  • Revi o filme.

A forma como Não Matem a Cotovia (To Kill a Mockingbird – o título da última tradução publicada em Portugal – Mataram a Cotovia – é mais fiel ao original) chegou até mim não foi a habitual (admito que seja mais raro ler um livro após a visualização de um filme do que o contrário). No entanto, tendo-me agradado o filme (Na Sombra e no Silêncio, 1962), quando o vi, era eu adolescente, o mesmo despertou a curiosidade para procurar a forma como aquela história, e sobretudo o fascinante personagem “Boo” Radley, haviam sido tratados na escrita.

Aos vinte e oito anos apaixonei-me pelo livro (já havia passado o tempo necessário para esquecer os detalhes). Aconteceu de tal forma que, no ano seguinte, repeti a leitura, a qual, com ou sem surpresa, manteve a obra no topo das minhas preferências. Quando voltei a ver o filme, a exigência redobrada de quem conhece a obra original a fundo não só não o menosprezou como me fez render à mestria com que a história de Harper Lee foi trabalhada e interpretada por todos os intervenientes, do realizador (Robert Mulligan) ao argumentista (Horton Foote), do produtor (Alan J. Pakula) ao elenco (com Gregory Peck e Mary Badham à cabeça), terminando na notável composição de Elmer Bernstein a acompanhar os acontecimentos.

E do que trata esta história?

Muito poderia acrescentar além do que escrevi, em 2009, sobre o livro e, em 2012, sobre Gregory Peck (curioso como vamos deixando de nos rever no que escrevemos, como se tivesse sido outra pessoa a fazê-lo) pois Não Matem a Cotovia é uma fonte inesgotável de carinho, justiça, bondade, equilíbrio, respeito, amor… mas ficar-me-ei pelo destaque que pretendo dar ao trabalho de Harper Lee: Não Matem a Cotovia é um livro sem uma palavra a mais, sem uma expressão a menos. Passado em Maycomb, Alabama, na década de trinta traz-nos uma história sobre a infância, o racismo, o respeito, as imperfeições daqueles que qualificamos como normais e as perfeições escondidas nos que consideramos anormais; uma história maravilhosa sobre a luta por aquilo em que acreditamos e a coragem para levar essa luta até ao fim.

… queria que visses o que é a verdadeira coragem para não julgares que coragem é um homem de arma na mão. Coragem é, quando sabemos que estamos vencidos antes de começar, começarmos, apesar de tudo, e irmos até ao fim, aconteça o que acontecer. Raras vezes se ganha, mas às vezes é possível ganhar.

Atticus Finch (por Harper Lee)

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