Um país em duas fases

Na confusa situação política portuguesa, talvez com mais de inacreditável, afinal, é frequente sentirmos o impulso de desligar da actualidade e notícias, sairmos de casa ao final do dia, na esperança de que a noite nos traga a frescura que o dia nos negou. Vamos com cerca de dez meses de um Governo constituído por artimanhas políticas, com o intuito único da satisfação da vaidade e ambição irresponsável e desmesurada de um inverosímil individuo. Vamos deixando os meses passar, ligando a esperança dos nossos dias pessoais melhores, à vida de um país que não vê forma de sair da inoperância e do fracasso económico.

E, chegados ao Verão, os indícios da calamidade económica latente persistem. Costa insiste numa política de dispersão de recursos e de regresso a um estado de “riqueza” nacional para o qual Portugal não tem meios suficientes. O PCP exige e o BE deixa-se cegar, ou será pior se estiver mesmo convicto das capacidades nacionais.

Distribuem-se assentos nos meios judiciais, como se a Justiça já não devesse, ou não se escondesse mais, ser independente.

Persiste-se numa política de que o que é bom e tem mérito é Público e hostiliza-se o Privado, dito pernicioso, ignorando tudo o que no sector do Estado de mal se tem feito, de intrujice, de desvios de recursos públicos, de jogos de influência e corrupção activa. O controlo da Justiça é essencial para que nunca se possa concluir, definitivamente, pelo Pernicioso e Corrupto que tem sido o Estado, ou, para sermos mais justos, muitas instituições estatais. O Banco do Estado, sempre propalado como um pilar de independência e rigor, de sustentação de alguma debilidade do país, dá mostras de estar no centro, bem no coração, do mais corrupto que o sistema tem. No entanto, mais uma vez, a Justiça sempre terá de permanecer politicamente controlada, para que nunca se saiba a verdade, toda ou apenas uma pequena parte.

Catarina Martins, à saída de uma reunião com o Presidente da República, dizia que os males do país estão todos, ainda, com o anterior Governo do PSD-CDS. E, que esse Governo, já foi “sancionado” pelo povo. A transformação da verdade é diária. Lembra os tempos dos sovietes, quando a história era re-escrita, para que a dada altura, qualquer mentira, fosse naturalmente aceite como verdade.

Somos assim, por complacência inexplicável de um Presidente que ninguém entende, e em pouco ninguém respeitará, governados por um Bando. Bando de loucos. Que nos querem fazer agarrar a um estado de miséria sem fim. Um bando a quem dá muito jeito sempre ter uma qualquer revoluçãozinha para fazer, porque esse é o estado de coisas que sempre os fez chegar ao Poder, instaurando o caos e a necessidade mais básica, a miséria e a depressão social, progenitores da revolta. Pôr-nos contra a Europa democrática é o mais essencial. Pôr-nos uns contra os outros, uma estratégia com cem anos.

Marcelo Rebelo de Sousa passeia a simpatia, como se Presidente de um Estado rico e com futuro fosse. Tudo é motivo de festa e de novas habilidades, mas de sério não parece sair dali nada.

Dos três do Bando, nada se pode esperar de bom. E, não deve haver democrata neste país que não tivesse desejado que mesmo com um governo constituído por um derrotado eleitoral, assaltante do Poder, viesse a ter sucesso nas políticas económicas que a todos interessam tenha sucesso. Contudo, a contínua distribuição tresloucada de recursos inexistentes, apaga de vez com qualquer réstia de esperança. E depois surgem outras continuas e preocupantes atitudes, contra tudo o que Privado for, por ser mau. E o controlo nada subtil, de novo, da Comunicação Social. O “movimento do proletariado” mascarado de moderno voltou e encarregar-se-á de tudo destruir.

Resta a cada um de nós, tentar ignorar a política o mais possível, como Itália fez há mais de cinquenta anos, pelo descrédito total nos seus políticos. Resta-nos vivermos a nossa vida profissional como se tudo estivesse bem. Tenho o privilégio de assistir a essa luta numa região antes muito massacrada do país. O Norte, onde em tempos se assistiu a uma depressão económica muito generalizada, regressa aos poucos a um empreendedorismo exemplar. É a sociedade a sobreviver à margem de uma política feita por gente irresponsável.

O que se poderá tornar triste, é o país regressar a alguma recuperação, toda por via do esforço individual, remando contra a maré dos desvarios e descontrolos políticos, e virem os mais medíocres personagens da nossa política a beneficiar, imerecidamente, dessa luta, toda ela no tal Privado odiado pelas forças comunistas no Poder.

Um país em duas fases físicas. Uma líquida, irresponsável, que derrama recursos e faz tudo para desbaratar o esforço da outra, sólida e lutadora, criadora de uma riqueza que pode nunca chegar para o que o país precisa. Ou a persistência no caos, num ambiente que procura organização e responsabilidade.

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