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Sete razões para ler “7 factos”, de S. F. Godinho

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Entre a azáfama de organizar o primeiro TEDx a acontecer numa vila e o choque de ver o incêndio de Pedrógão a atingir essa mesma terra, S. F. Godinho começou a delinear o enredo do livro 7 factos. A história, publicada pela Amazon, parte de uma pergunta simples: e se nunca conseguirmos reverter a desertificação do Interior do país? Já a resposta é mais complexa, levando-nos para uma aventura literária que ultrapassa as barreiras de Figueiró dos Vinhos: uma vila aparentemente esquecida no Interior de Portugal, onde S. F. Godinho cresceu (e eu também) e que agora serve de cenário para a vida imaginada da personagem Luca Levi.

  1. Tema que nos diz respeito a todos

Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, Figueiró dos Vinhos perdeu 8.75% da população, entre 2011 e 2019. Segundo o 7 factos, essa perda nunca parou e, chegados a 2073, o resultado é uma vila sem velhos nem novos e com estradas vazias. As consequências da trama até podem ser imaginadas, mas servem para representar apenas uma das muitas terras portuguesas que vão deixando de ser atrativas. Portugal vive a diferentes velocidades e o mais recente livro de S. F. Godinho explora essa ideia de uma forma criativa, que entusiasma o leitor.

  1. Género(s) literário(s) para todos os gostos

Não sei dizer se o 7 factos é uma sátira política, uma crítica à indústria farmacêutica, um thriller psicológico, um livro de ficção científica ou um ensaio de psicologia. Certamente que o autor o classificará numa só categoria. Para mim, “7 factos” foi tudo isto, nunca ao mesmo tempo, mas sim por fases. E foi precisamente esta capacidade de saltar entre géneros, de uma forma que faz todo o sentido, que tornou a minha experiência de leitura tão rica.

  1. Frases marcantes

Sem explicações, deixo que as citações falem por si: “É caricato viver sem memória. Sem passado não há um esqueleto para o presente. Não existe outra motivação senão a de recuperar o que se perdeu.”; “ – Não quero viver numa terra de ninguém.”; “– Se a ordem não faz a mudança, que venha o caos.”; “– Este é um lugar inconveniente para ser uma pessoa inconveniente.”

  1. Personagens elaboradas

Quando não conseguimos classificar uma personagem como vilã ou heroína, resta-nos dizer que poderia ser simplesmente humana. Não sei se exagero quando digo que todas as personagens do 7 factos se encaixam nessa categoria. Certo é que, no livro, a mesquinhez está dentro daqueles que só querem o bem do mundo, ao passo que a bondade é manifestada nas ações daqueles que nos parecem mesquinhos. O melhor de tudo é que tal acontece, sem que nunca se perca a coerência.

  1. Um ponto de partida intrigante

Até agora, pouco ou nada revelei sobre o enredo e fi-lo propositadamente. Se este artigo vos convencer a ler o 7 factos, quero que tenham a experiência completa, que inclui ficarem boquiabertos de quando em vez. Assim, apenas posso contar-vos que tudo começa com Luca Levi a acordar no cimo da torre da vila, sem nenhuma lembrança de quem é. No bolso direito, uma mensagem com sete factos sobre a sua vida é o ponto de partida para se redescobrir a ele próprio.

  1. Possibilidade de lê-lo em duas partes

Apesar de eu ter mantido um entusiasmo crescente com a leitura, percebo que alguns leitores precisem de uma pausa ao fim das primeiras 186 páginas. Não é mal pensado digerir as intrigas que elas encerram para descortiná-las nos capítulos que se seguem. Assim, se alguém estiver com pouco tempo para ler, escolher o 7 factos é estratégico, praticamente oferecendo dois livros num só.

  1. Aposta numa nova geração de escritores

O 7 factos foi rejeitado por várias editoras. Uma ou outra chegou mesmo a perguntar ao escritor se não poderia transpor a história para o Porto ou Lisboa. Parece que a desertificação do Interior do país não dá lucro. E garanto-vos que o Presidente da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos concorda. Contudo, não seria essa precisamente a razão para se apostar nesta história, com o intuito de alertar para o problema que esta e outras vilas vivem? S. F. Godinho pertence a uma geração que vê a terra onde cresceu a ficar progressivamente vazia. 7 factos é uma ode a tudo o que esse espaço tem de bom e um aviso sobre tudo o que pode vir a correr mal, se a vila ficar ao abandono. Em suma, “7 factos” é o espelho de uma geração que se preocupa com o que está para vir. É altura de lhe darmos voz.

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Florbela Caetano
Ligar o rádio é a primeira coisa que faço ao acordar. E isso já diz muito sobre uma jovem adulta, no século XXI. Como se este desajustamento não bastasse, gosto dos mundos que se dizem contraditórios: a publicidade e o jornalismo. Trabalho no primeiro. Procuro formas de me manter ligada ao segundo.

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