Viver no Interior não é uma missão impossível

Sem hipocrisias. Não sai, porque nunca surgiu a oportunidade. Tinha-o feito sem olhar para trás. Era esse o meu objectivo em 2011. Hoje, penso doutra maneira. Nasci na aldeia e é aqui que sou feliz. Adoro viajar, mas preciso de voltar a esta Paz. Não há como fugir ao meu ADN. Sou do campo. Das paisagens verdes e montanhosas. Dos caminhos silenciosos. Das copas dos pinheiros. Do rio Minho e do Gadanha. Dos pássaros a chilrear à janela do meu quarto. Das comidas pesadas. Das laranjas colhidas na horta. Dos malmequeres. Dos ténis enlameados ao final da tarde. Tudo isto são pedaços de mim. 

Temos tendência a menosprezar as nossas origens. De olhar para fora, como se estivesse à nossa espera um mundo de oportunidades. Como se o futuro só fosse alcançado na capital. Errado. Cada vez mais me convenço disso. Nas zonas rurais, a competitividade acaba por ser menor. Se à partida já existe, para quê nos colocarmos na boca do lobo? Afinal, poucos são os que ficam por aqui e as necessidades não desaparecem simplesmente. Elas existem e na maioria dos casos são urgentes. Se os jovens fogem, o que resta? Abandono? Será que desejamos isso para o lugar que nos viu crescer? Onde fizemos a nossa primeira nódoa negra? Onde brincamos com os nossos primeiros amigos? Sim, são necessários médicos, carpinteiros, professores e engenheiros.

Quem parte, é incompleto. Há sempre algo que falta. As raízes. Não é fácil ficar, mas também não o é partir. Permanecer é muitas vezes o caminho mais difícil. É começar abaixo do zero. Onde muitas das vezes não há rigorosamente nada. Porém, isso não é necessariamente mau. Ora, há um lado positivo. Oportunidades a cada virar da esquina. O que faz falta é gente empreendedora, com vontade, com sangue. Que tal começar a bater em todas as portas? A criar contactos? Os mais velhos urgem pelas nossas ideias. Só assim poderá haver inovação e desenvolvimento. Se até quem cá nasceu foge, quem quererá vir viver para o Interior? Um conselho: ficar parado é fracasso certo. Sobretudo, aqui.

Quanto ao mundo basta um clique. A aldeia global que ouvíamos falar nas aulas de Geografia não é uma utopia, é real. A Internet sem dúvida que foi o grande golpe. Mudou tudo. Qualquer empresa pode estar ao nosso alcance. O escritório pode ser onde quisermos. É preciso estar atento, com olhos de ver. Possuir espírito de sacrifício e de luta. Ser resiliente. Óbvio que não é fácil. As portas parecem nunca abrir. Dá até a impressão que são inacessíveis. Os dias são ainda mais longos. A boa notícia é que não é uma missão impossível. Dá é o triplo do trabalho. A sorte anda de mãos dadas com a persistência.

O retorno é sentires-te importante, porque sabes que essa tua pequena ideia vai ter impacto. Não há como não ter. É necessário mais gente. Que tal não fugir? A vida aqui tem outro ritmo. Bem, mais sereno. Bem, mais vida.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Vem conhecer os “Putos” do momento

Next Post

Uma Noite no Segundo Exótico Hotel Marigold

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

“Por qué?”

Cheguei cedo e estacionei no local do costume. Saí do carro ajustando o casaco, que o frio da manhã era notório.…

O Presídio da Trafaria

O edifício está ali há anos, mas consegue passar completamente despercebido como se se estivesse a esconder dos…