Onde está a verdade? Chegaremos a um ponto em que se tornará impossível verificar a verdade? Nos nossos dias, em que a informação está à distância de um clique das nossas mãos, em que é fácil aceder ao conhecimento, parece estar a tornar-se difícil distinguir o que é verdadeiro do que é falso.
As fake news proliferam com facilidade num mundo a tornar-se polarizado, maniqueísta, “dos meus e dos teus”, em que se vai mais por uma fé laica do que pela lógica, tornando cada um de nós alvos fáceis de manipuladores políticos, levados aos extremos, e gerir informação em prol de uma agenda que, na maioria das vezes, não interessa ao cidadão comum. Quem fica no meio, capaz de identificar incongruências de qualquer parte acaba por ser marginalizado, acusado de não concordante, não alinhado, velho do Restelo e outros epítetos.
Por outro lado, o método científico, e até mesmo o senso comum que tanto valeu à ciência na antiguidade são colocados de lado por, mais uma vez, crenças, “o diz que disse”, sendo mais fácil acreditar numa fake news de fácil leitura e conclusões rápidas, do que na ciência, complexa, que exige anos de estudo e que assume que se pode enganar.
Talvez verdade nenhuma seja fixa e imutável, e o caminho seja a assunção do erro, a busca constante pelo conhecimento, e nunca uma crença fácil que exija um certo nível de fé.
Para piorar a situação, a IA está aí para manipular os factos. E se desconfiamos do objeto escrito (Sócrates repudiava a linguagem escrita, curiosamente) e confiamos nos nossos olhos e ouvidos, a IA está aí para manipular áudios e vídeos, não só de grandes figuras da sociedade, mas até dos nossos próximos, familiares e amigos. Haverá o dia em que não saberemos se o telefonema do primo foi verdadeiro.
Aí talvez seja o fim da comunicação virtual. Talvez acabem stories, lives, mails, até videochamadas, telefonemas. Talvez as pessoas se voltem a encontrar no café ao final da tarde, ou sábado de manhã. Ou na praça ao começar o dia. Talvez as famílias voltem a contar histórias à lareira. Regressaremos a ler os clássicos, se as novidades não derem garantia de serem fidedignas.
Nota: Texto escrito com o Novo Acordo Ortográfico.