
O conceito de arte urbana tem vindo a ganhar espaço, no panorama artístico. Não que seja expert no tema, mas sou muito observadora.
É engraçado perceber que antes o que víamos aleatoriamente pintado nas paredes, pelas cidades e muros um pouco por todo o lado, aqui em Portugal e no resto do mundo, tem hoje um papel diferente e, acima de tudo, uma motivação diferente. Convidam-se estes artistas para reconverterem paredes e fachadas sem graça em pontos de referência para as populações e para quem as visita. Felizmente, o estigma da marginalidade que sempre se associou à street art, começa a desvanecer.
Em Portugal, temos vindo a acompanhar esta tendência, muito pelo mérito do Vhils (Alexandro Farto) com os seus murais e paredes magnificamente trabalhadas e esculpidas, a projeção da sua arte impulsionou outros artistas de rua a divulgarem o seu trabalho. O movimento de street art cresceu muito também pela divulgação das autarquias, que começaram a convidar estes artistas e a promover concursos para “salvar” paredes vandalizadas e criar espaços mais harmoniosos para os seus habitantes.
Quando vejo os desenhos por aí espalhados, o universo da BD materializado nas paredes das cidades, penso no processo de crescimento que o Festival de Banda Desenhada da Amadora tem tido e a sua importância na projeção e divulgação dos artistas e deste género artístico. Tornou-se por mérito próprio uma referência e uma “incubadora” – como agora se diz – de artistas vocacionados para BD e para a street art.
Por exemplo, na Rinchoa, na freguesia de Rio de Mouro/Sintra tornou-se comum ver-se obras como a que ilustra o meu artigo, com detalhes relacionados com a zona, concelho ou a história local. Ao mesmo tempo que decora um espaço, o desenho é uma representação de uma personagem ilustre da zona, de um monumento ou a figuração gráfica da cultura local. São importantes referências, para educar as pessoas que vivem nos subúrbios desenraizadas e sem se sentirem ligadas ao espaço onde vivem.
No fundo, a periferia ou os subúrbios não são espaços sem vida como a maioria das pessoas fazem crer, são zonas onde proliferam estes novos artistas, onde se procuram formas diferentes de dar a conhecer arte e a cultura locais. Onde se reconverte o triste, feio e sem vida em espaços com luz e cor.
Hajam mais paredes para pintar! Com arte de qualidade e novos talentos a dar mostras do que são capazes de fazer. E porque não tornar a rua num museu a céu aberto? Nunca ninguém nos disse que um museu teria de ser um espaço fechado, pois não?
Foto de: F.Sanz@/Rio de Mouro