Quando acabei de ler O Livro dos Baltimore, fiquei ainda dias – o que para mim é impensável – sem conseguir pegar num livro novo e envolver-me com outras personagens e outras histórias. Já me tinha acontecido anteriormente, com A Verdade sobre o Caso Harry Quebert, do mesmo autor, por isso, não podia esperar nada menos.
De novo, Joël Dicker foi fantástico.
O maior elogio, para mim, além de ficar dias com as personagens e a história a assombrar-me de tal forma que nem consigo olhar para outros livros, é: quem me dera conseguir desconstruir e perceber como é que ele o faz. Como é que ele é tão fantástico a escrever. Quero ser assim e escrever desta forma que não dá hipótese de fugir. Quero ler mais histórias assim. Quero que ele escreva rápido mais e mais livros, porque deixa-me sempre numa montanha-russa de emoções.
Sinopse:
Até ao dia do Drama, existiam dois ramos da família Goldman: os de Baltimore e os de Montclair. O ramo de Baltimore, próspero e bafejado pela sorte, mora numa luxuosa mansão e encarna a imagem da elite americana. Já os Goldman de Montclair são uma típica família de classe média e vivem numa casa banal em Nova Jérsia. Tudo isto se transforma com o Drama. Movido pelas memórias felizes dos tempos áureos de Baltimore, Marcus Goldman procura descobrir o que se passou no dia do Drama, que mudaria para sempre o destino da família. O que aconteceu realmente aos Goldman de Baltimore?
Desde o início há suspense, há intriga, e durante o livro o autor vai-nos dando sempre migalhas de pistas, mas pistas muito inteligentes: não são pistas para o que aconteceu, mas sim para o porque é que aconteceu. Porque os motivos, nos livros de Joël Dicker, são tão importantes como os acontecimentos. Os acontecimentos são enormes, são sempre avassaladores e complicados de digerir, mas os porquês tornam tudo ainda mais completo. É isto que o diferencia de muitos outros autores – ele dá muita importância à grande manta de retalhos que são os vários porquês e os vários momentos que levam a um determinado acontecimento, porque uma acção tem muitos passados e muitas causas, não só uma. Noutros mistérios quase que existe um só motivo, uma só causa. Aqui são vários momentos que se vão construindo e acumulando. O autor é exímio em mostrar-nos isso, tornando a história mais real e mais humana. Tal como os personagens, faz-nos querer voltar àquele ponto, àquele ponto exacto (depois dos outros pontos todos que levaram àquele ponto exacto) a partir do qual não havia retorno, e ser capazes de mudar tudo.
O narrador, Marcus Goldman, é o mesmo do livro anterior. E é um narrador muito inteligente: ele é Joël Dicker, mas não é, mas é. Não é, mas é o escritor daquele livro, em primeira pessoa, com o mesmo título, e com o final do livro escrito pelo personagem. O livro passa da ficção para a realidade e ficamos na dúvida se tudo isto não aconteceu mesmo. Durante o livro, tal como no caso da história anterior, temos a sensação que ele nos está a contar sobre um livro que escreveu, quando depois percebemos que aquele livro que estamos a ler é o livro de que ele nos está a falar. Marcus Goldman é o autor e não Joël Dicker. Camadas e camadas. Muito inteligente.
Magnífico, simplesmente magnífico! Não sei o que mais dizer deste autor, é soberbo e roo-me de inveja pelas histórias que inventa, pelas camadas e puzzles que consegue encadear, pelos contornos por onde nos guia, pelo encaixe perfeito. É como um filme com muitas perspectivas que se juntam para contar uma história, é como ouvirmos uma história tão real e tão terrível que nos arrepia. Só me arrependo de não ter comprado o livro que me falta dele, mas na próxima Feira do Livro não me escapa!