O vale do rio Omo, na Etiópia, é ponto de encontro de várias tribos e tem uma riqueza cultural incrível. O que tornou esta região de Património Cultural da Humanidade pela UNESCO. Já conhecemos algumas curiosidades sobre a tribo Mursi e agora voltamos a esta parte do nosso planeta para conhecer a tribo dos Bodi.
A tribo dos Bodi é uma das 50 etnias que habitam a região do vale do rio Omo e são também chamados de Me’en (que no dialecto tribal significa “as pessoas”, ou “os humanos”).
São uma tribo seminómade originária do sul do Sudão, de onde, aos poucos, foram emigrando com o seu gado, até se estabelecerem nas terras que actualmente ocupam. Adoradores do seu gado, falam e cantam para as suas vacas. Possuem um tipo de música e dança muito característica chamada de gulay e que costuma retratar canções sobre o amor, as boas colheitas, a prosperidade da família e, claro está, sobre o gado.
Os Bodi acreditam num único deus, chamado de Tuma, que é o criador de tudo e é quem traz as chuvas e a fertilidade. A tribo vive amedrontada pela presença de inúmeros espíritos malignos que vivem na natureza e acreditam que a comunicação com os antepassados é fundamental para manter bem longe as desgraças da vida familiar e da comunidade.
Vivemos numa sociedade onde ter um corpo esbelto e estilizado é um padrão de beleza, contudo, para esta tribo, acontece totalmente o contrário. O homem com a maior e mais robusta barriga é o homem com mais importância dentro da tribo e também quem ficará com a mulher solteira mais bonita. Aliás, um dos rituais mais característicos da tribo é a cerimónia do Ka’el realizada durante o mês de Junho, na qual escolhem um rei, que não será nem o homem mais forte, nem o mais inteligente, mas sim o mais gordo.
Cada família apresenta um homem solteiro para a cerimónia, que deve viver em isolamento para se preparar, durante um período de três a seis meses, seguindo uma dieta hipercalórica, à base de sangue de vaca misturada com leite e mel, duplicando e inclusive triplicando, assim, o seu peso corporal.
Quando chega o dia do Ka’el, dia em que se elegerá o novo soberano, os concorrentes cobrem os seus corpos de cinza e barro. A aldeia torna-se um festival e, durante a festa, os homens dançam, mexendo as suas gorduras, e devem também andar à volta de uma árvore sagrada durante horas, enquanto a aldeia os observa. Com tanta gordura em cima, deve dizer-se que não é uma tarefa fácil. Depois, medem-lhes a circunferência do abdome, o vencedor, além de ser proclamado rei, é recompensado com a jovem mais bela e solteira da tribo.
Uma vez escolhido o rei, sacrifica-se uma vaca, o bem mais prezado pelos Bodi, e os idosos da aldeia inspecionam-lhe o estômago para ver se o futuro do novo rei será brilhante.
Contudo, qual é a causa deste culto à obesidade masculina? Ao contrário das outras tribos do vale do Omo, os Bodi não são caçadores, nem guerreiros, pelo que não precisam de um corpo atlético. Para os Bodi, estar gordo é um símbolo de status, ou seja, um homem com peso a mais indica que possui muitas vacas e capacidade de alimentar a família. Um homem obeso é poderoso.
É claro que o processo de engordar tão depressa e em poucos meses causa sérios problemas de saúde nestes homens. Os níveis de colesterol e os problemas cardiovasculares são altíssimos nos homens desta curiosa tribo.
Uma vez finalizada a cerimónia, a vida dos homens volta à normalidade e inclusive alguns perdem as suas barrigas, apesar de serem considerados heróis para o resto da vida. Semanas depois tarde da finalização do Ka’el, as famílias devem escolher a nova geração de homens Bodi e, assim, o ciclo desta tradição contínua.