Serão os grandes Amores, sempre, uma despedida?

Sempre ouvi dizer que o grande amor da nossa vida não fica connosco para sempre. Que aqueles amores arrebatadores, que nos atravessam a pele e nos cravam a alma, acabam invariavelmente, um dia, em despedida. Que as paixões que nos redefinem são também as que nos escorrem pelos dedos, deixando apenas, em nós, o eco do que fomos quando estávamos juntos.

Talvez seja por serem demasiado intensas, demasiado viscerais, demasiado humanas para resistirem à erosão do tempo. Ou talvez porque há sentimentos que não sabem viver dentro dos limites da normalidade, no hábito da rotina. São amores que não aceitam ser moldados à medida do quotidiano, que não sabem viver em horários, de tarefas domésticas, de promessas pragmáticas ou de listas de compras para o supermercado.

São amores feitos de excessos, de urgência, de olhares que dizem tudo o que as palavras não conseguem. Que são explosão e emoção. São tempestade e incêndio. São, na verdade, um desassossego constante.

Talvez seja por isso que, mais ou mais tarde, terminam. Porque o mundo real não está preparado para acolher aquilo que nasce para ser infinito. Porque o mundo real não está preparado para o que é grandioso demais e não pode ser contido ou acaba por transbordar. Talvez seja por isso que, inevitavelmente, chega o momento da despedida. O instante cruel em que percebemos que, por mais que amemos, por mais que nos amem, há amores que não podem sobreviver à vida como ela é!

Mas serão os grandes Amores, sempre, uma despedida? Acabam mesmo? Ou será que simplesmente mudam de forma? Talvez esses amores nunca se extingam verdadeiramente. Talvez apenas se tornem parte de nós, uma parte que não se apaga, como uma tatuagem invisível, como um fantasma que nos acompanha, silencioso, mas sempre presente. Porque quem amou assim nunca mais volta a ser a mesma pessoa.

Sim, os grandes amores deixam marcas que o tempo não apaga. Vivem nas músicas que não conseguimos ouvir sem engolir em seco, nas ruas que evitamos porque nos recordam um beijo roubado, nas palavras que se tornaram proibidas porque eram nossas e de mais ninguém. Estão no cheiro que nos invade de repente sem aviso, na forma como o coração acelera ao ver um nome perdido na caixa de mensagens, mesmo que nunca se tenha coragem de o voltar a abrir.

O que nos resta, então? Resta-nos o que vivemos, o que fomos, o que sentimos. Resta-nos a memória de momentos em que o mundo parecia caber dentro de um abraço. Resta-nos a certeza de que fomos intensamente felizes, ainda que por um tempo demasiado curto. E talvez seja isso que importa.

Porque, no fim, o grande amor da nossa vida talvez não seja necessariamente aquele que fica ao nosso lado até à velhice ou até ao último suspiro. Talvez seja aquele que, um dia, nos fez sentir tudo com mais intensidade. Aquele que nos transformou, que nos obrigou a ver o mundo com outros olhos, que nos ensinou que há sentimentos que não precisam de um “para sempre” para serem eternos.

Talvez o verdadeiro amor não seja aquele que dura, mas sim aquele que, mesmo depois de partir, nunca nos abandona realmente. Porque, no fundo, os grandes amores nunca morrem. Apenas aprendem a viver dentro de nós.

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