Sensorial – Parte III

Musicalmente

Arrepios na pele. Lágrimas. Excitação. Dança.

São tantos os elementos que constituem a nossa forma de receber a música, que seria absolutamente impensável transcrevê-los a todos. São imensos e vêm quase sempre juntos ou separados, mais ou menos intensos, mas quase sempre. Basta aquela nota mais alta, ou aquele acorde mais harmonioso, ou, enfim, simplesmente aquele algo que não conseguimos explicar, para estarmos a sentir uma presença incrível, que redefine o conceito de sentir. Como se nada do que tivéssemos sentido até ali fosse, realmente, um sentimento.

Nunca é pretensioso. É sempre espontâneo e sempre bom. Mesmo quando nos faz chorar ou pensar em coisas menos boas – às vezes coisas verdadeiramente deprimentes -, é bom reconhecer aquela profundidade sentimental de explosão anímica. No nosso peito, na nossa cabeça, no nosso corpo, nos nossos olhos. Saber que é possível sentir algo assim. Saber que existe – essa inacreditável sensação de que estamos irremediavelmente apaixonadas pela vida. Queremos viver, queremos sentir aquilo mais uma vez, para sempre.

A espontaneidade pode transcender-nos. Podemos ser apanhadas de surpresa. De repente, estamos dentro do metro e vertemos uma lágrima tímida, que invadiu a nossa pele. Formou-se dentro do nosso próprio olho e nós nem demos por isso. Claro que, invariavelmente, acaba por deslizar pelo nosso rosto e, aí sim, despertamos para o que nos consumia. Houve aquele lugar, aquela pessoa, aquele momento que regressou à nossa memória, enquanto estávamos, sem qualquer previsão, a ouvir aquela música.

Na verdade, sabemos que aquela música se torna naquelas músicas. Um plural cheio de força e imponência, que difere conforme a memória a que estiver associada. Contudo, há também a pura beleza da música, que nos pode assombrar mais do que qualquer memória. Como se, desta forma, estivéssemos a assistir à origem de uma nova memória: o momento em que ouvimos determinada música pela primeira vez. Essa envolvência toma conta de nós. Essa bala que colide com o nosso peito e nos deixa a sentir a imensidão da vida, toda ao mesmo tempo.

A música é uma cura. Uma evasão. E é universalmente apreciada, nas suas diferentes formas, cores, tamanhos e ideologias. Pensemos um pouco no poder disto: desta arte que a todas chega, que a todas transforma… Nem que seja só um pouquinho. Chega e marca. Uma data, um amor, uma fase, um lugar, um evento, uma história, ou, puramente, a sua existência.Conhecem alguém que não goste de música?

Esse alguém, em condições normais, não existe. Porque ser humano é ser sensorial. E parte de ser sensorial passa pela inevitabilidade de ouvir música. Sabemos que faz parte de nós, da nossa engrenagem emocional. Só sabemos ser musicalmente: com música, alma e mente.

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