O avanço tecnológico trouxe mudanças significativas na vida quotidiana das pessoas. Desde a forma como consumimos conteúdos informativos, como planeamos as nossas férias ou viagens, como delineamos o nosso dia e mesmo como nos relacionamos com os outros. Apesar de haver críticas que apontam para as desvantagens destas novas tecnologias, estas permitem ter o mundo no bolso. Talvez seja uma expressão exagerada, mas com um pequeno telemóvel, atualmente, não só pode-se ligar àqueles com quem se quer falar, mas aceder às mais diversas informações que a World Wide Web oferece.
As novas tecnologias, mas também as novas aplicações, criam, nas palavras de Adriana Barbosa, Márcio Ferrari e outros, “uma nova atmosfera de relações humanas, libertando o ser humano da relação presencial, permitindo-o vencer distâncias, o espaço e o tempo, configurando-se como uma sociabilidade orgânico-virtual estabelecida por meio de laços mecânicos”. Os autores alertam, no entanto, que este espaço não é um substituto das relações presenciais, porém, é mais uma esfera de interação.
Quando falamos das relações pessoais a Internet e as novas tecnologias permitem a ligação entre pessoas que estão longe fisicamente. Apesar de, quando apareceram, só haver a possibilidade de conversar com os outros por meio das mensagens escritas, atualmente pode-se partilhar imagens, vídeos e fazer vídeo chamadas. Permitem falar e contatar com pessoas que não conhecemos, que podem nem sequer viver no nosso país, fazer novas amizades ou relacionamentos. Quando se fala das relações que a Internet muda, não se aponta só para as relações de amizade ou afetivas. Alteraram-se também as relações profissionais, cientificas, educativas.
Falamos, assim, daquilo que muitos autores chamam de Comunicação Mediada pelo Computador (CMC), ou seja, como explica a investigadora Raquel Recuero, de “ferramentas que estão focadas nas interações entre pessoas” e que se salientam a “capacidade do ciberespaço de proporcionar um ambiente de interação e de construção de laços sociais”. Como os outros indivíduos com quem comunicamos não estão presentes fisicamente, a autora afirma que há um processo de construção de representações sobre este outro: “Estas dão-se através de elementos que representam os indivíduos no ciberespaço, não necessariamente conectados com a sa presença online naquele momento. Essa representação pode ser constituída de um perfil num site de rede social, um weblog personalizado, um nickname numa sala de chat, uma foto, etc.”
Contudo e apesar do uso crescente da Internet, a geração Y, segundo o Observatório da Imprensa do Brasil, é a primeira a crescer e a ser alfabetizada, utilizando esta ferramenta nos seus quotidianos. Esta representa mais do que apenas um meio de comunicação. Como afirma Edward Snowden, “para muitos jovens, a Internet é uma forma de autorrealização. Permite-lhes explorar quem são e quem querem ser, mas isso só funciona se pudermos ter privacidade e anonimato, se pudermos cometer erros sem que eles nos acompanhem.”
Aliás, Adriana Barbosa e Márcio Ferrari afirmam que a Internet, alterando as relações humanas, gera também questões bioéticas, uma das quais é a questão da privacidade. Os autores afirmam, num estudo realizado em 2014, que apesar de o ser humanos ser social, em constante relação com o outro, também precisa de privacidade. Hoje, porém, “entregamos” informações sobre nós de espontânea vontade, colocando-a nas diversas redes sociais, às quais podem aceder não só os nossos amigos, mas, em muitos casos, amigos dos amigos e mesmo desconhecidos, dependendo das opções de privacidade que escolhemos. As próprias redes sociais, confrontadas com esta realidade oferecem estas escolhas, mas não se pode esquecer de que a informação, apesar de não ser visível, está online.
A Internet, continuam os autores, “aumenta os riscos de invasão da privacidade, pois são recolhidos dados sem que as pessoas percebam” que isso está a acontecer. A recolha destes dados pode ser feita através dos cookies, de spams, de vírus, entre outras, para além da informação que nós próprios colocamos na Internet. “Os dados obtidos por estes métodos de invasão da privacidade na Internet podem ser guardados por vários anos, utilizados para fins de personalização de sites no intuito de atender as preferências dos seus usuários, utilizados para danificar os arquivos e/ou o computador dos usuários ou, dependendo de quem os recolheu, serem empregues para fins criminosos”.
O caso com maior impacto, relativamente a privacidade na Internet, surgiu em Junho de 2013, quando Edward Snowden divulgou que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) acompanha os telefones e a utilização da Internet em vários países do mundo, recolhendo, segundo a Amnistia Internacional, “5 milhares de milhões de registos de localização do telefone móvel por dia e 42 milhares de milhões de registos de Internet por mês – incluindo e-mail e histórico de navegação”.
Assim, a Amnistia Internacional realizou, em 2015, um estudo sobre o tema, em 13 países. Afirmaram que “59% dos entrevistados em todos os países concordam que os governos não devem interceptar, armazenar ou analisar dados dos seus próprios cidadãos e 71% reprovam a espionagem dos Estados Unidos da América a outros países.”. Os inquiridos, conclui ainda o estudo, “acreditam que as empresas de tecnologia como Google, Microsoft e Facebook têm o dever de promover a segurança das informações pessoais dos usuários em relação aos governos (60%).”