Desde que as crianças começam a ter percepção de conceitos básicos, que nós pais, tentamos incutir-lhes as boas práticas de educação, não fosse esse o nosso papel principal. Ensinamos a partilhar, a dizer “obrigada”, “de nada”, “por favor”, e esperamos que com o tempo elas compreendam e associem o que cada um deles quer dizer.
Ser pai e mãe nos dias de hoje não é, de todo, tarefa fácil. No tempo dos meus pais seria indiscutível não se ensinar uma criança a partilhar. Fazia parte da nossa educação deixar o primo ou a amiga brincar com o nosso brinquedo favorito, chamava-se partilha. Não se pensava sequer, que poderíamos vir a ficar traumatizados por termos que dar a outro aquilo que para nós era a melhor coisa do mundo, naquele momento, e sem grandes floreados, os nossos pais educaram-nos desta forma, sabendo que seria a atitude certa a tomar.
“Não sejas egoísta! Empresta a boneca à prima e brinca agora com a bola” – por certo que todos nós, geração dos 70’s, 80’s e 90’s, ouvimos frases deste género. Com o crescimento e maturidade suficientes, percebíamos que aquilo se chamava partilha e que praticá-la não fazia de nós fracos, mas sim, bondosos e amigos do nosso amigo.
Hoje, enquanto mãe, sei que o conceito se alterou ligeiramente. Existem pais defensores da não partilha, que não será bem a mesma coisa que a negação da partilha, ou seja, os meninos, querendo, não têm que partilhar nada com ninguém. Se não lhes apraz abdicar do ursinho de peluche com que estão a brincar, ninguém lhes vai dizer que o devem fazer. Diz-se que a decisão e momento de partilha para com o outro, acontecerá no momento que a criança sentir que o deve fazer. Até aqui tudo bem, há muito que percebi que cada um educa como quer, e como acha mais correto, mas toda esta liberalização de vontades por parte de seres pequeninos que ainda não sabem limpar o rabo sozinhos, mas que parecem ter uma vontade muito própria e sem restrições por parte de quem os educa, leva-me a questionar como será a nossa próxima geração.
Posso levar a minha filha a uma associação, à Cruz Vermelha ou aos bombeiros voluntários. Posso levá-la a ver que existem meninos sem pais, sem casa e sem dinheiro para roupa e sapatos, mas o que acrescentará isto à realidade dela, se nunca tiver aprendido a partilhar um brinquedo? Parece tão pouco, mas, no fundo, também é gota a gota que se enche o oceano.
Depois de ela aprender que pode partilhar o brinquedo dela, e que alguém irá partilhar o seu com ela, será menos difícil (e não, mais fácil) ensiná-la a doar os brinquedos que já não precisa, bem como a roupa e os sapatos. Será menos difícil explicar-lhe que podemos oferecer uma refeição a alguém que não tem o que comer. Será menos difícil ensinar-lhe que o mundo que vivemos nem sempre é justo e que dependemos uns dos outros para que seja, de quando em vez, um pedacinho melhor. Será menos difícil, explicar-lhe o que é ser bondoso, característica das pessoas que se preocupam genuinamente com outros, sem esperar nada em troca.
Será, portanto, mais fácil explicar-lhe que quanto mais damos, mais recebemos, e que os recebimentos dados através de sorrisos, abraços e beijos são, de facto, os mais valiosos.