Uma receita de amor!

Sabe aquele cheirinho vindo da cozinha, que nos remete logo a um prato especial, seja por quem faz, seja por trazer lembranças boas, seja simplesmente porque é mesmo muito gostoso? Ou pode nem ser tão gostoso assim, mas o momento que envolvia aquela refeição ou aquele prato específico, trazia toda uma magia que encanta.

Devemos a tal memória gustativa, tal “fenómeno”, que envolve a capacidade de recordar e reconhecer sabores e aromas específicos. É um misto da memória sensorial, visual, auditiva, tátil e olfativa. E tudo isso junto, remete a comida tida como especial! Somos capazes de lembrar de experiências com alimentos ou bebidas, associando-os a sensações ou emoções muito específicas.

Por vezes, a comida pode até gerar um elogio, sendo responsável por subir a autoestima, como quando dia desses o vizinho nos abordou no corredor para dizer que “nossos cozidos cheiram mesmo muito bem”… Isso agora virou frase nossa, tipo “piada interna”. Das boas!

Na minha memória lá de trás, trago um bolo de cenoura, com calda “mole” de chocolate!

Me faz retornar a infância, a casa da avó, a cozinha com pouca luz e muito amor em forma de comida. Eu de joelhos na cadeira, para enxergar a mesa. Em cima, na forma retangular, depois de assado, ela o cobria sem desenformar, com uma calda tão cheirosa, feita com água, achocolatado e por cima o granulado. Diz minha mãe que essa é receita antiga, já servia para venda no café que tinham, feitos em tabuleiros, vários por dia. O feito pode até ter virado uma rotina, mas o significado, aos olhos infantis, traz marcas positivas que carregamos depois de adultos.

Cresci com isso e carrego comigo o hábito. Faço os bolos caseiros, casuais para o dia-a-dia de lancheira, mas o de cenoura tem um efeito diferente, de qualquer outro sabor que faça! O poder de uma receita que nos leva ao passado, atiça boas lembranças e perpetua a tradição, que talvez nem era a intenção. Mas cria e fica. Hoje não faço calda (nem nunca consegui reproduzir tal e qual) mas faço bolo. Não na forma retangular. Mas faço. E de cenoura. Sem essa calda, sem essa forma, mas com essa memória. Mesmo que involuntariamente passo essa lembrança afetiva aos meus, deixando desde já essa memória, seja lá para eles reproduzirem ou não. Mas guardarão. É isso que fica!

Além dos meus, que já comem o bolo normalmente, uso essa “arma” para mimar os que gosto ou à quem quero agradar. Ato de carinho. Seja para oferecer na escola, aos amigos, nos aniversários, para a família. Virou moeda de agrado, em forma de comida. Já diz o ditado: “Barriga cheia, coração alegre”.

Te desafio a pensar: qual a memória te faz lembrar, um bom momento ao paladar? Reproduz, faz, relembre e viva novamente. Afinal, quem não arrisca, não petisca! Literalmente.

Nota: Esse texto foi escrito seguindo as normas do português do Brasil.

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