Saúde Mental ainda é um tabu na nossa sociedade, mas ainda assim, hoje vou falar sobre algo que me atinge em particular: ansiedade.
Comecei a ter ansiedade aos 13 anos, após a separação dos meus pais. Contudo, não sabia na altura o que era aquilo. Sentia uma vontade enorme de chorar, de gritar e muitas vezes quase sem conseguir respirar. Uns anos depois, já adulta decidi ir a um psicólogo. Não é vergonha nenhuma pedir ajuda a um especialista, apesar de esse estigma ainda existir na nossa sociedade.
Expliquei tudo o que se passava, o que sentia e após algumas sessões, fui diagnosticada com ansiedade. Confesso que de uma certa forma senti um alívio por saber o que efetivamente tinha, mas tera a ansiedade afetado assim tanto a minha vida? Sim, afetou. E ainda afeta. Pequenas situações como ver um filme pode-me causar ansiedade. Como? Quando colocam aquelas músicas mais fortes indicando de que algo vai acontecer, ou quando alguma cena é demasiado emotiva/agressiva. Por exemplo, a série “Baby Reindeer” causou-me uma ansiedade enorme. As constantes mensagens, emails, o ator a passar por todas aquelas situações, deixavam-me demasiado ansiosa. Era como se eu estivesse a sentir o que ele sentiu. Demorei imenso tempo para terminar a série.
Estas pequenas coisas fazem-me começar a sentir ansiosa, com o coração a palpitar e a tremer das mãos. Pequenos stresses do dia a dia são gatilhos para mim. E que sintomas são estes que eu sinto?
Durante anos, “apenas” tive sintomas como um aperto no peito, uma dificuldade tremenda em respirar, aumento dos batimentos cardíacos e tremor nas mãos. No entanto, há 4 anos que a minha ansiedade evoluiu nos sintomas para pior.
Passei a ficar sem voz, passei a ficar com o corpo rijo sem me conseguir mexer e os tremores aumentaram mais. Estes sintomas, não acontecem só quando tenho uma crise, acontecem quando algo me perturba ou deixa-me desconfortável e não falo. Isso vai-me consumindo por dentro, vai fazer com que aos poucos fique literalmente sem voz. Eu sempre fui das palavras, da comunicação e sempre tive a necessidade de exprimir o que sinto, o que me chateia ou incomoda. Mas com a vida, aprendi que nem sempre falar o que me incomodava, era o melhor.
Uma crise de ansiedade eu sei quando vai acontecer, porque provém sempre de alguma situação ou de algum momento desconfortável. Sabendo que vou ter uma crise, tento controlar os sintomas. Sei que vou ter dificuldade em respirar e por isso começo a e tentar inspirar mais profundamente. Os tremores nas mãos vão começar e então tento colocar as mãos no chão ou entrelaçar as mesmas. Começo a sentir o corpo a tremer e começo a sentir frio. Atualmente, já consigo evitar que crises de ansiedade evoluam para pior. Recentemente, tive uma crise. Comecei a controlar enquanto estava a caminho de casa e assim que cheguei sentei-me no chão e gritei até não conseguir mais e chorei até não ter mais lágrimas. E passou. Nem sempre é possível controlar.
Viver com alguém com ansiedade não é nada de outro mundo, como mostram em vídeos que vou vendo no Tik Tok. Compreensão e acima de tudo saber ouvir um ansioso, faz toda a diferença. Para mim, por exemplo, é muito importante conseguir exprimir o que sinto, ou deixa-me desconfortável, sem sentir ataque da outra pessoa, se sentir desconsideração pelo que estou a falar.
Eu irrito-me e chateio-me muito mais rápido. E passar disso para uma crise de ansiedade, é bastante fácil.
Apesar de conseguir saber lidar com a ansiedade, há coisas que não prescindo e que são ferramentas muito importantes para mim. Fiz terapia há uns anos e continuo com as consultas com a minha psicóloga. Não é vergonha como muitos pensam. A mim ajuda-me conseguir falar e expor o que sinto com alguém que de facto entende o que eu estou para ali a dizer.
Isto é a ansiedade. É dolorosa. É depressiva e magoa muito.
Nota: Este texto foi escrito com o Novo Acordo Ortográfico.