Susan Cooper sempre se sentiu invisível. Pensou que isso iria mudar, quando se juntasse à CIA, mas acabou por ficar nos bastidores dos serviços secretos, nos bastidores da acção. Em Spy, Susan vai dar uso a essa invisibilidade, no momento em que lhe é dada a oportunidade de subir à ribalta como agente secreta. Claro está que, com Melissa McCarthy no papel principal, só podíamos prever que a sua missão não iria ser fácil e muito menos monótona.
Um filme de espiões com comédia à mistura pode parecer algo que já foi feito. Todos nos lembramos de Johnny English, que foi um enorme sucesso não só pelo formato original, visto que foi um dos primeiros a juntar aqueles dois mundos, mas também pelo actor que o protagonizava, o eterno Mr Bean, Rowan Atkinson. Enquanto que em Johnny English temos um agente secreto que só não acaba morto por acidente, aqui temos uma agente que sabe o que está a fazer e que acaba metida em diversas peripécias, maioritariamente devido às pessoas com quem se cruza (e também devido aos seus disfarces hilariantes).
Um dos factores que também o torna tão diferente dos outros é, precisamente, a actriz que o interpreta. Primeiro, temos, precisamente, uma actriz: uma mulher no papel principal, uma mulher a salvar o dia. Apesar da sociedade em que vivemos já se encontrar mais aberta a isso, ainda existe muito a ideia de que o herói do filme, a figura icónica que salva o dia, é o homem. Em Spy, esse papel é assumido por Susan e de forma brilhante.
Em segundo, temos Melissa McCarthy a assumir esse papel de heroína. Não estou a tentar ofender ninguém aqui, mas não sejamos hipócritas: todos sabemos que, quando uma mulher salva o dia num filme, ela tem sempre o corpo de uma top model e uma cara de Barbie, porque é precisamente isso que o público quer ver. Normalmente, as actrizes que não correspondem a esse estereótipo de beleza acabam com papéis secundários: a amiga gorda, a mulher de quem ninguém gosta, a criminosa… E Susan começa precisamente com esse papel, mas a própria personagem acaba por abolir esse estereótipo, ignorando o disfarce de cat lady que lhe é dado para assumir o papel de femme fatale, o papel que ela sabe que lhe devia ter sido dado logo desde o início. Para além deste desvio da norma, a escolha da actriz para o papel beneficia também do facto de Melissa McCarthy ser uma das actrizes de comédia mais engraçadas da sua geração. Não me lembro de nenhum filme que ela tenha entrado em que eu não tenha soltado umas valentes gargalhadas, mesmo quando não era ela a actriz principal. E ainda assim, em Spy, ela prova que pode ter essas duas facetas e que consegue interpretá-las de forma irrepreensível.
Misturando acção e comédia, Spy consegue levar-nos ao mundo dos mafiosos e dos agentes secretos, sem nunca cair no ridículo, juntando-lhe o humor numa mistura perfeita. Definitivamente, um dos filmes a ver neste Verão!
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