A tecnologia está em todo o lado e envolve grande parte da nossa vida, mas de que forma é que a tecnologia está a fazer hijack à nossa mente e à forma como vemos o mundo? De que forma é que a tecnologia sequestrou a nossa mente?
Aprendi as tabuadas todas. Sabia-as na ponta da língua, mesmo a do 7 e do 8. Agora preciso de um momento de concentração para saber quantos são 7×8.
Já não me recordo em que ano começámos a usar a calculadora na escola, mas lembro-me da sensação de “agora sou crescida”, quando a professora disse que podíamos usar. Nem dava para fazer cálculo de frações, nem nada por aí além, mas na altura foi um big deal. Claro que a minha mãe, como professora, era totalmente contra, e que a minha avó, que sempre fez contas de cabeça, ainda mais contra era.
Quando fui para o Secundário e tive de comprar uma calculadora gráfica, a sensação passou de “sou crescida” para “sou burra”. Mais botões, mais funcionalidades, atalhos para tudo, possibilidade de ter cábulas, guardar ficheiros, passar para o computador. Mudei de curso e fiquei feliz por nunca mais ter de me debruçar sobre uma máquina daquelas.
Já passaram quase dez anos desde que entrei para o Secundário e não voltei a pegar numa calculadora – o meu smartphone tem uma, caso precise, e o computador do trabalho também. Ainda sei fazer algumas contas de cabeça, mas boa parte das vezes vou à calculadora. Este pequeno exemplo não é nada quando comparado à dependência dos estímulos. Em casa do meu pai, é hábito termos a televisão ligada quando estamos à mesa: na hora do almoço, conseguimos ver um pouco do “programa dos animais”, antes do noticiário, e na hora de jantar a mesa está posta antes de começarem as notícias. Eu não consigo estar a ter uma refeição sem ter um estímulo externo: ou estou a ver televisão, ou estou a ver vídeos no tablet, ou estou a jogar no meu telemóvel, ou estou a falar com as minhas colegas e mesmo assim, consigo estar a conversar e dar scroll nas redes sociais. É ridículo, mas parece sempre que me falta alguma coisa; fico irrequieta.
O meu último artigo foi escrito por mim, integralmente, mas quis saber a opinião da AI sobre uma série mediática. Há quem já escreva com conteúdos 75% gerados por AI, acabando apenas por rever com “olho humano” para lhe dar um toque mais pessoal.
É verdade que a tecnologia está em todo o lado – há que não esquecer que a roda é uma tecnologia, por exemplo. Uma tecnologia é a aplicação do conhecimento técnico e científico para fins industriais e comerciais (“tecnologia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2024). Se somos sequestrados por ela, é subjetivo: talvez estejamos de tal maneira sequestrados, que não a vemos; talvez tenhamos receio de o admitir.