O Papa do Povo, 1 ano depois

Muitos já lhe chamam o verdadeiro Papa do Povo, mas ele, apesar de todo o mediatismo que o rodeia, continua a declarar-se apenas um humilde servo do Senhor. Jorge Mario Bergoglio, hoje com 77 anos, foi eleito Papa há precisamente um ano, no conclave que se desenrolou após a resignação de Bento XVI, a 28 de Fevereiro. A sua história, maior parte de nós já a conhece, mas o verdadeiramente importante é o que este homem, este simples pecador, como se intitulou ao aceitar o desafio de ser o 266º Papa da Igreja Católica, tem feito em tão poucos meses e que tanto tem revolucionado a instituição Igreja, tão criticada e abalada ao longo dos últimos anos.

Às vezes, maior parte das vezes, pequenos actos fazem mais do que grandes empreendimentos. Este Papa tem vindo, ao longo destes últimos 12 meses, a ter pequenas atitudes que, na realidade, são grandes exemplos daquilo que ele acredita que é o verdadeiro caminho do Cristianismo e da Igreja Católica.

Numa era em que as religiões têm sido fortemente criticadas e que acusam o peso de uma moral e de conceitos demasiado fechados e ultrapassados para o Mundo actual, o Papa Francisco tem trazido, na flor dos seus 77 anos, uma lufada de ar fresco à Igreja, preparando-a, a meu entender, para a grande modificação que ela necessita e, de certa forma, já está a viver. A Igreja já não é o bastião da educação, nem dos costumes, já não regulamenta, nem tem a força de outros tempos nas sociedades, e Francisco compreende que não são os fiéis que têm de se manter na Igreja, mas sim a Igreja que tem de voltar a reaproximar-se do povo.

Por isso, Francisco é, provavelmente, o Papa mais respeitado, amado e admirado da história da Igreja dos últimos séculos, pois compreendeu que a Instituição, da qual agora é o representante máximo, não poderia continuar fechada na redoma de vidro dos velhos hábitos, convicções e mentalidades. Pelo contrário, este é, creio, o mais reformador dos Papas, que olha para a Igreja pela lente da sua base de origem, pelos seus valores originais e não pelo Estado, empresa, banco e máquina que se tornou. Arriscaria mesmo a dizer que, em apenas um ano, tornou-se tanto, ou mais amado que o próprio João Paulo II, muito pela sua postura descontraída e despreocupada, mais focado no verdadeiro Amor Incondicional, que é a mensagem de Cristo, do que propriamente com os mofos valores e velhos hábitos que a Igreja carrega em si.

Hoje, um ano após a sua eleição e na sequência de coisas tão simples, como abdicar de um trono de ostentação, de uma cruz de ouro, de permitir uma criança sentar-se na sua cadeira e da forma tão natural como tudo isto é vivido, mostra que, acima de tudo, é um homem, um ser humano, que se senta na cadeira de Pedro. A humildade e a seriedade com que demonstra viver cada dia do seu pontificado, aliados a uma explosão de notícias, informação e conteúdo que sobre ele se espalham rapidamente, através das redes sociais, faz com que este seja um dos homens mais influentes e globais do mundo actual, muito graças à profunda empatia que cria com toda a gente, cristã e não cristã, crente ou não crente, que nos faz sentir que está de coração a cumprir uma missão.

Não tenho dúvidas que Jorge Mario Bergoglio irá mudar a face da Igreja no tempo que lá estiver, até porque tudo o que faz, diz ou transmite rapidamente chega ao mundo inteiro. Acredito também que este poderá ser o motor de um maior respeito e acção inter-religiões, nomeadamente pela Paz no Mundo, se conseguir continuar a contornar as burocracias e as velhas ideologias e moralidades da instituição que acredita poder fazer maior diferença num mundo em crise. Contudo, a sua caminhada ainda é grande e este é o homem que, apesar de tudo, ainda precisa de defender alguns dos conceitos que já tem demonstrado ter, como é o caso da homossexualidade, e esclarecer as mentalidades ainda muito fechadas, que são ainda as da maioria dos dirigentes católicos no mundo e que embatem constantemente com problemas como a pedofilia, que caiem sobre a Igreja como verdadeiras bombas atómicas.

Não se espere perfeição por parte deste homem, pois ele bem reconhece que é apenas isso, um homem, mas creio que podemos esperar uma profunda dedicação, uma honesta e sincera entrega e uma postura um pouco revolucionária, que, provavelmente, serão a verdadeira e necessária transformação que a Igreja necessita.

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