Que sonho de liberdade é este que estamos há tantas gerações a alimentar? O conceito de liberdade pode ficar abstrato de tão amplo que é, isto porque, cada pessoa tem a sua unidade de medida de liberdade.
Ser livre para uns é não ter medo, enquanto que para outros é ter paz de espírito e para a grande maioria das pessoas, liberdade é poder fazer o que lhe apetece.
Acredito que haja quem já percebeu que não é possível ser-se livre sem se saber quem se é, afinal de contas, um sonho não pode ser um escape à realidade, porque senão não é um sonho, mas é antes uma ilusão.
Se começarmos pelo inicio a liberdade é um atributo com que todos nascemos, todos temos a liberdade de escolha, se analisarmos friamente percebemos que a liberdade de decidir até um recluso tem, dentro das suas condicionantes todos os dias uma pessoa que vive em cárcere toma decisões, podem ser simples, podem ser práticas, podem ser de sobrevivência, é certo, mas a cada momento, exerce-se a liberdade de decidir.
Porém, para se usufruir da liberdade que a vida oferece, só decide bem quem conhece e respeita a sua intuição.
Nelson Mandela, saudoso Presidente da África do Sul, várias vezes explicou que percebeu-se livre na prisão, como ele mesmo disse, “Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse a minha amargura e o meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão”.
A intuição é esta nossa voz mestre que nos quer guiar, que nos quer libertar das nossas próprias prisões, mas que infelizmente nem sempre temos a coragem e a determinação de cumprir essa voz, mas quem se dá ao trabalho de a conhecer, e a ela se render, consegue alcançar o tal estatuto de pessoa livre.
Quando se pega num exemplo tão imaterial, como é o caso da nossa intuição, fica a pairar sobre as nossas cabeças a questão de como é que é possível seguir um rumo se não conhecemos a nossa estrada? Ou seja, como podemos ouvir essa nossa voz sem garantias de que vai dar certo, de que vai correr bem?
Quando temos perguntas concretas, queremos respostas claras, e vamos buscá-las perguntando-nos uns aos outros o que fazer em relação às nossas próprias dúvidas, ignorando assim que cada um tem a sua lógica, e por isso o outro vai dar a solução para o nosso problema de acordo com o tamanho da sua consciência das coisas.
Faz-se isto repetidamente, sem se perceber que a luz na escuridão não é a liberdade, a luz na escuridão é a intuição. Não percebemos que somos nós que nos fazemos prisioneiros, e por isso, apenas nós conseguimos descobrir a nossa própria saída.
Para ser livre temos de levar a sério a nossa lógica, para termos a oportunidade de a desconstruir e para conseguirmos finalmente respirar e encontrar a nossa estrada, de onde já não vamos mais querer sair.
Não haja ilusões, este caminho é árduo, porque quem quer mesmo viver em liberdade quer ser livre de si próprio, ou seja, quer deixar de ser dominado pelas suas condicionantes, aquelas mesmas que conduziram a pessoa à vontade de ser livre. Não importa que o mundo grite a viva voz que cada deve ser ele mesmo, a integridade sabe que o caminho da liberdade restringe impulsos para poder impulsionar a consciência. Por fim, sinto que no meio de tantas certezas, exercer a liberdade talvez seja conseguir abrir mão do que nos prende àquilo que se conhece, mas que já não queremos mais viver.